domingo, 28 de fevereiro de 2010

Discernimento Vocacional para a OCDS




ELEMENTOS PARA O DISCERNIMENTO DA VOCAÇÃO À ORDEM SECULAR DOS CARMELITAS DESCALÇOSFrei Aloysius Deeney, OCD, Delegado Geral para a OCDS.


O ponto de partida para esta apresentação é constestar a a pergunta:
Quais são os princípios que usas para discernir a vocação à Ordem Secular dos Carmelitas Descalços?
Isto acontece entre os frades e as monjas: quando alguns entram em um mosteiro ou em um convento, se os mandam para casa, não é porque são pessoas más ou porque são moralmente inaceitáveis, senão porque se descobre que não tem a vocação. Ser membro da Ordem é uma vocação e, se necessita, antes de tudo, identificá-la claramente, de outra maneira, tanto os frades, como as monjas e os seculares, nos arriscamos a perder e confundir nossa identidade e propósito. Descreveria a um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa de Jesus como um membro praticante da Igreja Católica que, debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo, inspirado por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz, se compromete com a Ordem a buscar o rosto de Deus, para bem da Igreja e do mundo.
Quem é chamado a ser Carmelita Secular e como distingues entre ser ou não ser chamado?
Em tal descrição se distinguem seis elementos que, conjuntamente, são elementos que movem a gente a acercar-se à Ordem e a buscar uma identificação com ela de uma maneira mais formal.
Membro praticante da Igreja Católica: Isto, é, Católica Romana, não se refere ao rito Latino, porém se refere à unidade sob a liderança do Bispo de Roma, o Papa. A maioria dos católicos romanos, pertencem ao rito Latino. Há, porém, outros ritos dentro da Igreja Católica Romana: Maronitas, Malabares, Melquitas, Ucranianos, etc. Há comunidades da Ordem Secular em cada um destes ritos. Por exemplo, a Comunidade da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços do Líbano pertence ao rito Maronita.
A palavra praticante especifica algo a cerca da pessoa que pode ser membro da Ordem Secular. Como algo básico, um praticante da fé católica sugere uma capacidade de participar plenamente da Eucaristia, com uma consciência clara. A Eucaristia é o cume da identidade e da vida católica. É o ponto de encontro entre o céu e a terra. Assim, se alguém está livre para participar da Eucaristia, então os pontos de menor importância são certamente permitidos.
Na maioria dos casos, no passado, isto foi muito simples de determinar. As pessoas que vinham à Ordem Secular procediam de paróquia onde os frades estavam presentes, ou através de contatos com os frades ou monjas, os quais lhes recomendavam para a Ordem Secular.
O divórcio não foi um problema maior na vida católica; muitas situações eram claras. Hoje em dia, não. As coisas não são sempre claras e, é precisamente aqui, onde o Assistente Espiritual pode ser o maior auxílio do Conselho de uma comunidade da Ordem Secular ao filtrar seus candidatos. Darei um exemplo: Uma mulher se aproxima da comunidade da Ordem Secular; a mulher é conhecida por alguém do Conselho e eles sabem que ela está em seu segundo casamento. Eles também sabem que ela vai regularmente à Missa e participa dos Sacramentos. O Conselho gostaria ser mais esclarecido antes de admitir a esta pessoa à formação. Há poucas possibilidades neste caso. A Igreja anulou seu primeiro matrimônio ou, por conselho com seu confessor, ela e seu marido vivem cada qual em seu lado, de maneira que possam participar dos sacramentos da Igreja? Uma entrevista com o Assistente Espiritual esclareceria as respostas sem necessidade de maiores explicações por respeito a seu direito de privacidade e ao bom nome de que cada membro da Igreja desfruta. Ele daria a palavra ao Conselho que permitiria a esta pessoa entrar na Ordem Secular.
A Ordem Secular é, juridicamente, uma parte da Ordem dos Carmelitas Descalços, a qual é uma instituição da Igreja Católica Romana e está sujeita às leis da Igreja. A Sagrada Congregação deve aprovar nossas próprias leis. Portanto, alguém que não pertence à Igreja Católica não pode ser membro da Ordem Secular. As pessoas não católicas interessadas na espiritualidade do Carmelo é certamente bem-vinda e pode participar de alguma maneira nos cursos e estudos com a comunidade, porém não pode ser membro da Ordem Secular.
Aqui nós temos o primeiro elemento da identidade de um membro da Ordem Secular: uma pessoa que participa da vida da Igreja Católica, porém com um “algo mais”, porque há milhões de pessoas que participam da vida da Igreja Católica, porém que não tem o menor interesse no Carmelo.
Vem agora o segundo elemento: debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Não é somente a devoção a Nossa Senhora que identifica a uma pessoa chamada à Ordem Secular. Há muitos cristãos que são verdadeiramente devotos de Nossa Senhora e que desenvolveram um grande caráter mariano em sua vida cristã. Existem muitos cristãos ortodoxos, assim como anglicanos, que são verdadeiramente marianos. Há muitos católicos que vestem o escapulário por razões válidas e com sincera devoção a Maria e não são chamados a ser Seculares Carmelitas. Não somente isso: há pessoas que vem à Ordem Secular precisamente por causa da devoção a Maria, ao escapulário e ao rosário, porém não tem vocação para ser membros da Ordem Secular.
O aspecto particular da Virgem Maria que deve estar presente em qualquer pessoa chamada ao Carmelo é a inclinação a meditar em seu coração, a frase que o Evangelho de São Lucas usa duas vezes para descrever a atitude de Maria, perante seu Filho. Sim, todos os demais aspectos da vida mariana podem estar presentes: a devoção, o escapulário, o rosário e todas as demais coisas. Todos eles, porém, são aspectos secundários na devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e meditação. Este interesse em aprender a meditar ou a inclinação à meditação é uma característica fundamental de qualquer Secular Carmelita e, quiçá, é a mais importante.
Uma experiência freqüente em muitos grupos é ter uma pessoa que chega à Ordem Secular para ser membro, algumas vezes pode ser um sacerdote diocesano ou qualquer outra pessoa, que resulta ser muito devota de Maria; uma pessoa que já esteve em muitas peregrinações a santuários marianos do mundo; uma pessoa que tem familiaridade com as aparições e mensagens atribuídas a Maria, em fim, é uma verdadeira “autoridade” nos movimentos marianos atuais. Porém, muitas vezes, essa pessoa não tem a menor inclinação para meditar em seu coração; ainda mais: deseja ser a mestra da comunidade a respeito da Bem-Aventurada Virgem Maria e rapidamente introduz uma “corrente mariana” não carmelitana. Se esta pessoa é um sacerdote, será muito difícil para a comunidade proteger-se a sim mesma deste desvio em sua vida mariana. Há outros grupos marianos e movimentos que podem ser o lugar para essa pessoa, porém não a Ordem Secular. Ademais, dentro da família Teresiano-Carmelitana, há um lugar para as pessoas que tem devoção pelo escapulário e por Nossa Senhora do Carmo (e que não tem vocação para o Carmelo Secular): a Confraria do Escapulário ou a Confraria de Nossa Senhora do Carmo.
Maria é, para os membros da Ordem Secular, o modelo de atitude meditativa e de disponibilidade. Ela atrai e inspira aos carmelitas, de uma maneira contemplativa, a entender a vida do Corpo Místico de Seu Filho, a Igreja. Isto é, Ela atrai a pessoa ao Carmelo. No programa de formação, este é o aspecto que deve ser desenvolvido na pessoa, quando entra ao Carmelo.
Então digo que este é o segundo elemento: debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
“Um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus é uma pessoa praticante de qualquer um dos ritos da Igreja Católica Romana que, debaixo da proteção de Nossa Senhora do Carmo e inspirada por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz...”. Aqui nós temos o terceiro elemento. Mencionei ambos, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz e posso dizer corretamente no princípio desta seção que também podemos incluir a Santa Teresinha do Menino Jesus, ou à Beata Elisabete da Trindade, ou a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), porém Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz são centrais neste ponto.
Havendo mencionado a todas estas grandes personagens da tradição Carmelitana, sublinho a importância de Santa Teresa de Jesus, a quem, em nossa tradição, nos referimos como Nossa Santa Madre. A razão é porque a ela lhe foi dado o carisma. Em muitas partes do mundo somos chamados “Carmelitas Teresianos”. São João da Cruz foi o colaborador original, junto de nossa Santa Madre, na reforma espiritual e jurídica do Carmelo neste novo caminho carismático. Assim, ele é chamado Nosso Santo Padre. É difícil imaginar a qualquer Carmelita, de qualquer linha, que não se sinta atraído (a) por um deles, se não o é pelos dois, por suas histórias, por suas personalidades e, o mais importante, por seus escritos.
Os escritos de Santa Teresa de Jesus são a expressão do carisma dos Carmelitas Descalços. A espiritualidade dos Carmelitas Descalços tem um fundamento intelectual muito bem cimentado. Há uma doutrina implicada aqui. Doutrina vem de “docere”, palavra latina que significa “ensinar”. Qualquer pessoa que queira ser um Carmelita Descalço deve ser uma pessoa interessada em aprender com os mestres do Carmelo. Temos três doutores da Igreja Universal: Teresa, João e Teresinha.
Uma pessoa que vem à comunidade, que tem um grande amor à bendita Mãe, que quer vestir o escapulário em honra de Maria como sinal de dedicação a seu serviço, que é uma pessoa de oração, porém não tem interesse em ler ou estudar a espiritualidade do Carmelo Teresiano ou, por outro lado, trata de ler a um dos Doutores Carmelitas, porém não encontra interesse em seguir lendo-o, para mim, é uma boa pessoa que pode pertencer à Confraria do Escapulário, porém definitivamente não tem vocação para a Ordem Secular do Carmelo.
Este é um aspecto acadêmico da formação de um Carmelita Teresiano. Há uma base intelectual da espiritualidade de quem é chamado à Ordem e cada frade, monja ou secular é um representante da Ordem. Um Carmelita que não tem interesse em estudar ou aprofundar as raízes de sua identidade através da oração e estudo, perde sua identidade, não podendo dessa forma representar à Ordem e nem falar da Ordem. Muitas vezes quando ouvimos a um Carmelita falar, obviamente ouvimos o que está dizendo e podemos afirmar que o aprendeu em sua formação anos antes.
Esta base intelectual é o princípio de uma atitude que está aberta ao estudo, o qual o conduz a aprofundar com interesse na Sagrada Escritura, na teologia e nos documentos da Igreja. A tradição da leitura espiritual, lectio divina, e tempo para estudar, são a “coluna vertebral” de uma vida espiritual. Quando a informação é má, ou ausente, ou incorreta, ou é truncada, resulta em uma confusão na mente do Secular. Se esse Secular, alguma vez, por azares do destino, é Diretor da Ordem, a comunidade sofre. Isto acontece com os frades e as monjas, porém ocorre também com os seculares.
Esta base acadêmica ou intelectual é muito importante e se tem perdido, tristemente, em muitos grupos da Ordem Secular. Não é uma questão de que ser Secular Carmelita signifique ser intelectual: é uma questão de ser inteligente (i.e., pessoa viva, interessada, que procura aprender), com o propósito de saber acerca de Deus e, ao mesmo tempo, sobre a oração, a Ordem e a Igreja. A obediência tem sido largamente associada com o intelecto em virtude da fé. Obediência significa “abertura a ouvir” (ob e audire em latim). É uma atitude radical da pessoa para mover-se mais adiante do que a pessoa já sabe (i.é, aprender mais). Educação também vem do Latim (ex e ducere, isto é, superar-se). Santa Teresa descreve a pessoa nas Terceiras Moradas como quase cravada e incapaz de mover-se. Uma das características destas pessoas, permanentemente nas terceiras moradas, é que elas querem ensinar a todo o mundo, elas conhecem “tudo”; na realidade elas são desobedientes e ineducáveis. Isto é, elas estão fechadas a aprender.
O quarto elemento da descrição (i.é, sobre a vocação ao Carmelo Secular) é quem faz o compromisso com a Ordem. Há muitos católicos comprometidos que são devotos de Maria, regulares “experts” (i.é, peritos) em Santa Teresa, São João da Cruz ou em um de nossos santos, que não tem a vocação para a Ordem Secular. Estas pessoas podem ser contemplativas ou quase ermitãs, são aqueles que gastam horas em orar e em estudar cada dia, porém, eles não têm vocação para serem Carmelitas. Qual é o elemento que distingue a esta gente daqueles chamados a seguir a Cristo mais de perto como Seculares Carmelitas? Não é a espiritualidade, não é o estudo, não é a devoção a Maria. Consiste, simplesmente, em aceitar-se (i.é, conhecer-se). O Secular Carmelita é movido a comprometer-se consigo mesmo, com a Ordem e com a Igreja. Este compromisso, na forma da Promessa, é um evento eclesial e um acontecimento da Ordem, além de ser um acontecimento importante na vida da pessoa que faz a Promessa. Em certo sentido, recorda sempre à pessoa (i.é, seus compromissos cristãos e carmelitanos) em um contexto de família, de trabalho e de responsabilidades que estão envolvidas em sua vida. A pessoa que se compromete consigo mesma está caracterizada como um Carmelita.
Disse que é um evento eclesial e um acontecimento da Ordem (i.é, ao falar sobre a Promessa). É por esta razão que a Igreja e a Ordem tem um dizer essencial, em união com o candidato, em aceitar e aprovar o compromisso da pessoa. É também por esta razão que a Igreja e a Ordem dão as condições e estabelecem os termos do conteúdo da Promessa. É possível que uma pessoa queira comprometer-se consigo mesma em certas coisas: meditação diária ou o ofício divino, por exemplo. Porém a Igreja, através da Ordem, estabelece as linhas, básicas e gerais, para entender a Promessa.
O Secular pertence ao Carmelo, não o Carmelo ao Secular, o que significa que há uma nova identidade, juntamente com a identidade batismal, a qual obriga a um ponto de referência necessário. Assim como a Igreja é o ponto de referência para a pessoa batizada (a pessoa batizada pertence à Igreja), assim o Carmelo é o ponto de referência para o Secular. A maioria dos católicos reconhece a universalidade da Igreja. Alguns se tornam Carmelitas; alguns também reconhecem a universalidade do Carmelo. Com efeito, a pessoa que se compromete consigo mesma no Carmelo, na Ordem Secular, descobre que o Carmelo se torna essencial em sua identidade como católico. Isto é porque as promessas são o significado (i.é, o sinal, o ponto de referência) pelo qual cada um se torna membro da Ordem Secular e entende que a formação para as Promessas é importante, porém também a formação permanente.
Um aspecto importante deste compromisso é o compromisso com a comunidade. Uma pessoa que deseja ser um membro da Ordem Secular dever ser capaz de formar comunidade, de ser parte de um grupo que está dedicado a uma meta comum, que mostra seu interesse pelos outros membros, que é partidário de uma vida de oração e que é capaz de receber a participação de outros. Isto se aplica para as pessoas que, por várias razões, não participam ativamente em uma comunidade. Na formação do futuro da comunidade, esta característica social será uma das que deverão desenvolver-se. Há muita gente que é introvertida e quieta, porém é completamente social e capaz de formar comunidade; por outro lado, há gente que é completamente extrovertida e, ao mesmo tempo, incapaz de formar comunidade. Nesta questão é necessário usar o senso comum e se fazer esta pergunta: como será esta pessoa dentro de dez anos?
Encontramos também o caso de pessoas que pertencem a outros movimentos, por exemplo, ao Neocatecumenato, aos Focolares, ao Movimento Sacerdotal Mariano, à Renovação Carismática, etc. Se uma pessoa está envolvida com outros movimentos e não interfere com pessoas comprometidas com o Carmelo, introduzindo na comunidade elementos que não são compatíveis com a espiritualidade da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços, então, geralmente, não há problema. Porém, quando se apresenta uma pessoa que distrai à comunidade com seu próprio propósito e estilo de vida espiritual, os problemas começam. Algumas vezes há gente confusa que vem ao Carmelo e fala de “Nossa Senhora de Medjugorje e vai a uma junta de Medjugorje e fala da oração Teresiana. Aqui, o ponto mais importante é que a pessoa deve escolher à Ordem Secular e que a Promessa é mais importante que outros movimentos ou grupos. A Promessa à Igreja através do Carmelo tem ambos: conteúdos e propósitos. Estes são expressos nos dois elementos finais de minha descrição de: “quem é um Secular Carmelita”?
O quinto elemento da descrição é buscar o Rosto de Deus. Este elemento expressa o conteúdo pessoal da Promessa. Eu poderia mencionar de várias formas este elemento: orar, meditar, viver uma vida espiritual, porém escolhi este último porque vem das Escrituras e expressa a natureza da contemplação, fixando-nos na Palavra de Deus, para que, buscando-O a Ele nesta mesma Palavra, possamos conhecê-lO, amá-lO e servi-lO.
Este aspecto contemplativo da vida carmelitana centrada em Deus, reconhece sempre que a contemplação é um regalo (i.é, um dom, uma graça) de Deus, não uma aquisição como resultado de haver investido suficiente tempo. Este é o compromisso para uma santidade pessoal. O Secular quer ver a Deus, quer conhecer a Deus e reconhece que a oração e a meditação tomam agora grande importância. A Promessa é um compromisso de uma nova forma de vida, na qual, com uma lealdade a Jesus Cristo, marcam a pessoa e a maneira como ela vive.
A vida pessoal do Secular Carmelita se torna contemplativa. O estilo de vida muda com o crescimento nas virtudes que acompanha ao crescimento no espírito. É impossível viver uma vida de oração, meditação e estudo sem mudar. Este novo estilo de vida melhora todo o resto da vida. A maioria dos membros da Ordem Secular que são casados e com família experimentam que o compromisso à vida da Ordem Secular enriquece seu compromisso familiar e matrimonial. Homens e mulheres Carmelitas Descalços Seculares que trabalham experimentam um novo compromisso moral pela justiça no lugar de trabalho. Os que são solteiros, viúvos ou separados, encontram nesta promessa à santidade uma fonte de graça e fortaleza para viver suas vidas com dedicação e bons propósitos. Isto é o resultado direto de buscar o Rosto de Deus.
É a essência do Carmelo orar? Muitas vezes ouvi ou li esta afirmação. Nunca estou seguro de como contestá-la. Não porque não sei que a oração é de grande importância para qualquer Carmelita, senão porque nunca sei o que o orador ou o escritor quiseram justificar com sua exposição. Se para a pessoa a oração pessoal significa santidade e o propósito de uma espiritualidade verdadeira que reconhece a supremacia de Deus e o legado de Deus para a família humana, então, sim, estou de acordo. Porém, se para a pessoa a obrigação completa é somente orar e não há nada mais, então, não estamos de acordo. A santidade pessoal não é o mesmo que o propósito pessoal de santidade. Para um membro batizado da Igreja, a santidade é sempre eclesial, nunca deve ter um conteúdo egoísta. Nunca julgo minha própria santidade.
Eu estou santificado pela prática das virtudes, a qual é o resultado direto de uma vida orante de busca do legado de Deus em minha vida. Isto é, que a oração secreta carmelitana não nos faz santos; a oração é um elemento essencial na santidade cristã carmelitana porque é o contato freqüente e necessário para permanecer fiel a Deus. Este contato permite a Deus fazer Sua vontade em minha vida, a qual, então, anuncia a presença de Deus e sua bondade. Sem o contato com a oração não posso conhecer a Deus e Deus não pode ser conhecido por outros.
Ver o rosto de Deus necessita uma incrível candura de disciplina no clássico e original sentido da palavra. Discípulo é alguém que aprende. Devo reconhecer que sempre sou um estudante, nunca me tornarei mestre e sempre estarei surpreso por tudo o que Deus faz no mundo. Deus é sempre um mistério. Os sinais da existência de Deus sempre me interessam: as encontro em todos os acontecimentos da vida, como solteiro, viúvo ou casado; na família, no trabalho e no retiro, porém elas somente se tornam reconhecíveis e claras através da oração, observada desde o coração. O anelo de santidade é um desejo “queimante” no coração e na mente de alguém chamado à Ordem Secular. É o compromisso que o Secular deve fazer. O Secular é atraído a orar, encontrando na oração um lugar e uma identidade.
Esta oração, este propósito de santidade, este encontro com o Senhor, tornam o Secular uma parte viva e um membro mais comprometido da Igreja. A vida do Secular resulta mais eclesial, como a vida de oração, crescendo e produzindo mais frutos: na vida pessoal, o crescimento das virtudes e, em sua vida eclesial, o apostolado.
Isto me leva ao sexto elemento da descrição: para o bem da Igreja e do mundo. Isto é o novo desenvolvimento no entendimento do lugar do Secular na Ordem e na Igreja. É o resultado do papel dos leigos na Igreja. Começando com o documento do Concílio Vaticano II, “O Apostolado dos Leigos”, e a realização dos Sínodos sobre os Leigos em 1986 e a Vida Consagrada em 1996 (Christifideles Laici e Vita Consecrata). A Igreja, constantemente sublinha a necessidade de favorecer o compromisso do laicato até suas necessidades e as necessidades do mundo. Santa Teresa teve a convicção de que a única prova de oração era a de crescer nas virtudes e de que o necessário fruto da vida de oração era o nascimento de boas obras.
Uma vez ouvi a um Secular dizer: “o único apostolado dos Seculares é a oração”. A palavra que faz que esta posição seja falsa é “único”. Uma atitude orante e obediente perante os documentos da Igreja nos faz ver, claramente, que a posição da pessoa leiga dentro da Igreja tem mudado. A Regra de Vida falou acerca da necessidade de cada Secular ter um apostolado particular. Christifideles laici ressalta a importância do apostolado das associações na Igreja e a OCDS é uma associação na Igreja. Muitos Seculares quando ouvem mencionar o apostolado de grupo pensam que a comunidade inteira deve estar envolvida em algo que toma horas e horas de cada dia, porém não falamos disso. O parágrafo 30 da Christifideles Laici dá os princípios básicos da eclesialidade para associações e lista os frutos destes princípios. O primeiro fruto da lista é um desejo renovado para uma vida orante, meditativa e sacramental. Estas são coisas boas na via do Carmelo. Existe muita gente que necessita conhecer o que disseram nossos Doutores Carmelitas da Igreja. Se cada Carmelita se dedicasse a propagar a mensagem do Carmelo, quanta gente não deixaria de estar confusa em sua vida espiritual! Entrando em uma livraria grande agente encontra tantas bobagens espirituais na seção intitulada “misticismo”.
Cada comunidade tem que se fazer uma pergunta: que podemos fazer para compartilhar com outros o que temos recebido por pertencer ao Carmelo? Nós, como Carmelitas, podemos ajudar a esclarecer (i.é, aclarar, orientar) o “estragado” (i.é, o confuso, o desorientado, o enganado) fazendo o que sabemos. Isto não é uma opção, é uma responsabilidade. Ser um Carmelita não é um privilégio, é uma responsabilidade, tanto pessoal como eclesial.
Como disse ao princípio, para finalizar, não é apenas um elemento que ajuda a discernir a pessoa que tem vocação ao Carmelo: é a combinação de todos estes elementos o que faz a diferença.

Um comentário:

  1. Este arquivo é para nossa reflexão. Todos nós, iniciantes, formandos, professandos temporários e definitivos temos o dever de meditar noite e dia em nossa vocação, em nossa presença na Igreja, no Carmelo e no mundo.
    Que o Espírito de Deus nos ilumine e oriente.

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