domingo, 28 de fevereiro de 2010

Discernimento Vocacional para a OCDS




ELEMENTOS PARA O DISCERNIMENTO DA VOCAÇÃO À ORDEM SECULAR DOS CARMELITAS DESCALÇOSFrei Aloysius Deeney, OCD, Delegado Geral para a OCDS.


O ponto de partida para esta apresentação é constestar a a pergunta:
Quais são os princípios que usas para discernir a vocação à Ordem Secular dos Carmelitas Descalços?
Isto acontece entre os frades e as monjas: quando alguns entram em um mosteiro ou em um convento, se os mandam para casa, não é porque são pessoas más ou porque são moralmente inaceitáveis, senão porque se descobre que não tem a vocação. Ser membro da Ordem é uma vocação e, se necessita, antes de tudo, identificá-la claramente, de outra maneira, tanto os frades, como as monjas e os seculares, nos arriscamos a perder e confundir nossa identidade e propósito. Descreveria a um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa de Jesus como um membro praticante da Igreja Católica que, debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo, inspirado por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz, se compromete com a Ordem a buscar o rosto de Deus, para bem da Igreja e do mundo.
Quem é chamado a ser Carmelita Secular e como distingues entre ser ou não ser chamado?
Em tal descrição se distinguem seis elementos que, conjuntamente, são elementos que movem a gente a acercar-se à Ordem e a buscar uma identificação com ela de uma maneira mais formal.
Membro praticante da Igreja Católica: Isto, é, Católica Romana, não se refere ao rito Latino, porém se refere à unidade sob a liderança do Bispo de Roma, o Papa. A maioria dos católicos romanos, pertencem ao rito Latino. Há, porém, outros ritos dentro da Igreja Católica Romana: Maronitas, Malabares, Melquitas, Ucranianos, etc. Há comunidades da Ordem Secular em cada um destes ritos. Por exemplo, a Comunidade da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços do Líbano pertence ao rito Maronita.
A palavra praticante especifica algo a cerca da pessoa que pode ser membro da Ordem Secular. Como algo básico, um praticante da fé católica sugere uma capacidade de participar plenamente da Eucaristia, com uma consciência clara. A Eucaristia é o cume da identidade e da vida católica. É o ponto de encontro entre o céu e a terra. Assim, se alguém está livre para participar da Eucaristia, então os pontos de menor importância são certamente permitidos.
Na maioria dos casos, no passado, isto foi muito simples de determinar. As pessoas que vinham à Ordem Secular procediam de paróquia onde os frades estavam presentes, ou através de contatos com os frades ou monjas, os quais lhes recomendavam para a Ordem Secular.
O divórcio não foi um problema maior na vida católica; muitas situações eram claras. Hoje em dia, não. As coisas não são sempre claras e, é precisamente aqui, onde o Assistente Espiritual pode ser o maior auxílio do Conselho de uma comunidade da Ordem Secular ao filtrar seus candidatos. Darei um exemplo: Uma mulher se aproxima da comunidade da Ordem Secular; a mulher é conhecida por alguém do Conselho e eles sabem que ela está em seu segundo casamento. Eles também sabem que ela vai regularmente à Missa e participa dos Sacramentos. O Conselho gostaria ser mais esclarecido antes de admitir a esta pessoa à formação. Há poucas possibilidades neste caso. A Igreja anulou seu primeiro matrimônio ou, por conselho com seu confessor, ela e seu marido vivem cada qual em seu lado, de maneira que possam participar dos sacramentos da Igreja? Uma entrevista com o Assistente Espiritual esclareceria as respostas sem necessidade de maiores explicações por respeito a seu direito de privacidade e ao bom nome de que cada membro da Igreja desfruta. Ele daria a palavra ao Conselho que permitiria a esta pessoa entrar na Ordem Secular.
A Ordem Secular é, juridicamente, uma parte da Ordem dos Carmelitas Descalços, a qual é uma instituição da Igreja Católica Romana e está sujeita às leis da Igreja. A Sagrada Congregação deve aprovar nossas próprias leis. Portanto, alguém que não pertence à Igreja Católica não pode ser membro da Ordem Secular. As pessoas não católicas interessadas na espiritualidade do Carmelo é certamente bem-vinda e pode participar de alguma maneira nos cursos e estudos com a comunidade, porém não pode ser membro da Ordem Secular.
Aqui nós temos o primeiro elemento da identidade de um membro da Ordem Secular: uma pessoa que participa da vida da Igreja Católica, porém com um “algo mais”, porque há milhões de pessoas que participam da vida da Igreja Católica, porém que não tem o menor interesse no Carmelo.
Vem agora o segundo elemento: debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Não é somente a devoção a Nossa Senhora que identifica a uma pessoa chamada à Ordem Secular. Há muitos cristãos que são verdadeiramente devotos de Nossa Senhora e que desenvolveram um grande caráter mariano em sua vida cristã. Existem muitos cristãos ortodoxos, assim como anglicanos, que são verdadeiramente marianos. Há muitos católicos que vestem o escapulário por razões válidas e com sincera devoção a Maria e não são chamados a ser Seculares Carmelitas. Não somente isso: há pessoas que vem à Ordem Secular precisamente por causa da devoção a Maria, ao escapulário e ao rosário, porém não tem vocação para ser membros da Ordem Secular.
O aspecto particular da Virgem Maria que deve estar presente em qualquer pessoa chamada ao Carmelo é a inclinação a meditar em seu coração, a frase que o Evangelho de São Lucas usa duas vezes para descrever a atitude de Maria, perante seu Filho. Sim, todos os demais aspectos da vida mariana podem estar presentes: a devoção, o escapulário, o rosário e todas as demais coisas. Todos eles, porém, são aspectos secundários na devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e meditação. Este interesse em aprender a meditar ou a inclinação à meditação é uma característica fundamental de qualquer Secular Carmelita e, quiçá, é a mais importante.
Uma experiência freqüente em muitos grupos é ter uma pessoa que chega à Ordem Secular para ser membro, algumas vezes pode ser um sacerdote diocesano ou qualquer outra pessoa, que resulta ser muito devota de Maria; uma pessoa que já esteve em muitas peregrinações a santuários marianos do mundo; uma pessoa que tem familiaridade com as aparições e mensagens atribuídas a Maria, em fim, é uma verdadeira “autoridade” nos movimentos marianos atuais. Porém, muitas vezes, essa pessoa não tem a menor inclinação para meditar em seu coração; ainda mais: deseja ser a mestra da comunidade a respeito da Bem-Aventurada Virgem Maria e rapidamente introduz uma “corrente mariana” não carmelitana. Se esta pessoa é um sacerdote, será muito difícil para a comunidade proteger-se a sim mesma deste desvio em sua vida mariana. Há outros grupos marianos e movimentos que podem ser o lugar para essa pessoa, porém não a Ordem Secular. Ademais, dentro da família Teresiano-Carmelitana, há um lugar para as pessoas que tem devoção pelo escapulário e por Nossa Senhora do Carmo (e que não tem vocação para o Carmelo Secular): a Confraria do Escapulário ou a Confraria de Nossa Senhora do Carmo.
Maria é, para os membros da Ordem Secular, o modelo de atitude meditativa e de disponibilidade. Ela atrai e inspira aos carmelitas, de uma maneira contemplativa, a entender a vida do Corpo Místico de Seu Filho, a Igreja. Isto é, Ela atrai a pessoa ao Carmelo. No programa de formação, este é o aspecto que deve ser desenvolvido na pessoa, quando entra ao Carmelo.
Então digo que este é o segundo elemento: debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
“Um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus é uma pessoa praticante de qualquer um dos ritos da Igreja Católica Romana que, debaixo da proteção de Nossa Senhora do Carmo e inspirada por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz...”. Aqui nós temos o terceiro elemento. Mencionei ambos, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz e posso dizer corretamente no princípio desta seção que também podemos incluir a Santa Teresinha do Menino Jesus, ou à Beata Elisabete da Trindade, ou a Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), porém Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz são centrais neste ponto.
Havendo mencionado a todas estas grandes personagens da tradição Carmelitana, sublinho a importância de Santa Teresa de Jesus, a quem, em nossa tradição, nos referimos como Nossa Santa Madre. A razão é porque a ela lhe foi dado o carisma. Em muitas partes do mundo somos chamados “Carmelitas Teresianos”. São João da Cruz foi o colaborador original, junto de nossa Santa Madre, na reforma espiritual e jurídica do Carmelo neste novo caminho carismático. Assim, ele é chamado Nosso Santo Padre. É difícil imaginar a qualquer Carmelita, de qualquer linha, que não se sinta atraído (a) por um deles, se não o é pelos dois, por suas histórias, por suas personalidades e, o mais importante, por seus escritos.
Os escritos de Santa Teresa de Jesus são a expressão do carisma dos Carmelitas Descalços. A espiritualidade dos Carmelitas Descalços tem um fundamento intelectual muito bem cimentado. Há uma doutrina implicada aqui. Doutrina vem de “docere”, palavra latina que significa “ensinar”. Qualquer pessoa que queira ser um Carmelita Descalço deve ser uma pessoa interessada em aprender com os mestres do Carmelo. Temos três doutores da Igreja Universal: Teresa, João e Teresinha.
Uma pessoa que vem à comunidade, que tem um grande amor à bendita Mãe, que quer vestir o escapulário em honra de Maria como sinal de dedicação a seu serviço, que é uma pessoa de oração, porém não tem interesse em ler ou estudar a espiritualidade do Carmelo Teresiano ou, por outro lado, trata de ler a um dos Doutores Carmelitas, porém não encontra interesse em seguir lendo-o, para mim, é uma boa pessoa que pode pertencer à Confraria do Escapulário, porém definitivamente não tem vocação para a Ordem Secular do Carmelo.
Este é um aspecto acadêmico da formação de um Carmelita Teresiano. Há uma base intelectual da espiritualidade de quem é chamado à Ordem e cada frade, monja ou secular é um representante da Ordem. Um Carmelita que não tem interesse em estudar ou aprofundar as raízes de sua identidade através da oração e estudo, perde sua identidade, não podendo dessa forma representar à Ordem e nem falar da Ordem. Muitas vezes quando ouvimos a um Carmelita falar, obviamente ouvimos o que está dizendo e podemos afirmar que o aprendeu em sua formação anos antes.
Esta base intelectual é o princípio de uma atitude que está aberta ao estudo, o qual o conduz a aprofundar com interesse na Sagrada Escritura, na teologia e nos documentos da Igreja. A tradição da leitura espiritual, lectio divina, e tempo para estudar, são a “coluna vertebral” de uma vida espiritual. Quando a informação é má, ou ausente, ou incorreta, ou é truncada, resulta em uma confusão na mente do Secular. Se esse Secular, alguma vez, por azares do destino, é Diretor da Ordem, a comunidade sofre. Isto acontece com os frades e as monjas, porém ocorre também com os seculares.
Esta base acadêmica ou intelectual é muito importante e se tem perdido, tristemente, em muitos grupos da Ordem Secular. Não é uma questão de que ser Secular Carmelita signifique ser intelectual: é uma questão de ser inteligente (i.e., pessoa viva, interessada, que procura aprender), com o propósito de saber acerca de Deus e, ao mesmo tempo, sobre a oração, a Ordem e a Igreja. A obediência tem sido largamente associada com o intelecto em virtude da fé. Obediência significa “abertura a ouvir” (ob e audire em latim). É uma atitude radical da pessoa para mover-se mais adiante do que a pessoa já sabe (i.é, aprender mais). Educação também vem do Latim (ex e ducere, isto é, superar-se). Santa Teresa descreve a pessoa nas Terceiras Moradas como quase cravada e incapaz de mover-se. Uma das características destas pessoas, permanentemente nas terceiras moradas, é que elas querem ensinar a todo o mundo, elas conhecem “tudo”; na realidade elas são desobedientes e ineducáveis. Isto é, elas estão fechadas a aprender.
O quarto elemento da descrição (i.é, sobre a vocação ao Carmelo Secular) é quem faz o compromisso com a Ordem. Há muitos católicos comprometidos que são devotos de Maria, regulares “experts” (i.é, peritos) em Santa Teresa, São João da Cruz ou em um de nossos santos, que não tem a vocação para a Ordem Secular. Estas pessoas podem ser contemplativas ou quase ermitãs, são aqueles que gastam horas em orar e em estudar cada dia, porém, eles não têm vocação para serem Carmelitas. Qual é o elemento que distingue a esta gente daqueles chamados a seguir a Cristo mais de perto como Seculares Carmelitas? Não é a espiritualidade, não é o estudo, não é a devoção a Maria. Consiste, simplesmente, em aceitar-se (i.é, conhecer-se). O Secular Carmelita é movido a comprometer-se consigo mesmo, com a Ordem e com a Igreja. Este compromisso, na forma da Promessa, é um evento eclesial e um acontecimento da Ordem, além de ser um acontecimento importante na vida da pessoa que faz a Promessa. Em certo sentido, recorda sempre à pessoa (i.é, seus compromissos cristãos e carmelitanos) em um contexto de família, de trabalho e de responsabilidades que estão envolvidas em sua vida. A pessoa que se compromete consigo mesma está caracterizada como um Carmelita.
Disse que é um evento eclesial e um acontecimento da Ordem (i.é, ao falar sobre a Promessa). É por esta razão que a Igreja e a Ordem tem um dizer essencial, em união com o candidato, em aceitar e aprovar o compromisso da pessoa. É também por esta razão que a Igreja e a Ordem dão as condições e estabelecem os termos do conteúdo da Promessa. É possível que uma pessoa queira comprometer-se consigo mesma em certas coisas: meditação diária ou o ofício divino, por exemplo. Porém a Igreja, através da Ordem, estabelece as linhas, básicas e gerais, para entender a Promessa.
O Secular pertence ao Carmelo, não o Carmelo ao Secular, o que significa que há uma nova identidade, juntamente com a identidade batismal, a qual obriga a um ponto de referência necessário. Assim como a Igreja é o ponto de referência para a pessoa batizada (a pessoa batizada pertence à Igreja), assim o Carmelo é o ponto de referência para o Secular. A maioria dos católicos reconhece a universalidade da Igreja. Alguns se tornam Carmelitas; alguns também reconhecem a universalidade do Carmelo. Com efeito, a pessoa que se compromete consigo mesma no Carmelo, na Ordem Secular, descobre que o Carmelo se torna essencial em sua identidade como católico. Isto é porque as promessas são o significado (i.é, o sinal, o ponto de referência) pelo qual cada um se torna membro da Ordem Secular e entende que a formação para as Promessas é importante, porém também a formação permanente.
Um aspecto importante deste compromisso é o compromisso com a comunidade. Uma pessoa que deseja ser um membro da Ordem Secular dever ser capaz de formar comunidade, de ser parte de um grupo que está dedicado a uma meta comum, que mostra seu interesse pelos outros membros, que é partidário de uma vida de oração e que é capaz de receber a participação de outros. Isto se aplica para as pessoas que, por várias razões, não participam ativamente em uma comunidade. Na formação do futuro da comunidade, esta característica social será uma das que deverão desenvolver-se. Há muita gente que é introvertida e quieta, porém é completamente social e capaz de formar comunidade; por outro lado, há gente que é completamente extrovertida e, ao mesmo tempo, incapaz de formar comunidade. Nesta questão é necessário usar o senso comum e se fazer esta pergunta: como será esta pessoa dentro de dez anos?
Encontramos também o caso de pessoas que pertencem a outros movimentos, por exemplo, ao Neocatecumenato, aos Focolares, ao Movimento Sacerdotal Mariano, à Renovação Carismática, etc. Se uma pessoa está envolvida com outros movimentos e não interfere com pessoas comprometidas com o Carmelo, introduzindo na comunidade elementos que não são compatíveis com a espiritualidade da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços, então, geralmente, não há problema. Porém, quando se apresenta uma pessoa que distrai à comunidade com seu próprio propósito e estilo de vida espiritual, os problemas começam. Algumas vezes há gente confusa que vem ao Carmelo e fala de “Nossa Senhora de Medjugorje e vai a uma junta de Medjugorje e fala da oração Teresiana. Aqui, o ponto mais importante é que a pessoa deve escolher à Ordem Secular e que a Promessa é mais importante que outros movimentos ou grupos. A Promessa à Igreja através do Carmelo tem ambos: conteúdos e propósitos. Estes são expressos nos dois elementos finais de minha descrição de: “quem é um Secular Carmelita”?
O quinto elemento da descrição é buscar o Rosto de Deus. Este elemento expressa o conteúdo pessoal da Promessa. Eu poderia mencionar de várias formas este elemento: orar, meditar, viver uma vida espiritual, porém escolhi este último porque vem das Escrituras e expressa a natureza da contemplação, fixando-nos na Palavra de Deus, para que, buscando-O a Ele nesta mesma Palavra, possamos conhecê-lO, amá-lO e servi-lO.
Este aspecto contemplativo da vida carmelitana centrada em Deus, reconhece sempre que a contemplação é um regalo (i.é, um dom, uma graça) de Deus, não uma aquisição como resultado de haver investido suficiente tempo. Este é o compromisso para uma santidade pessoal. O Secular quer ver a Deus, quer conhecer a Deus e reconhece que a oração e a meditação tomam agora grande importância. A Promessa é um compromisso de uma nova forma de vida, na qual, com uma lealdade a Jesus Cristo, marcam a pessoa e a maneira como ela vive.
A vida pessoal do Secular Carmelita se torna contemplativa. O estilo de vida muda com o crescimento nas virtudes que acompanha ao crescimento no espírito. É impossível viver uma vida de oração, meditação e estudo sem mudar. Este novo estilo de vida melhora todo o resto da vida. A maioria dos membros da Ordem Secular que são casados e com família experimentam que o compromisso à vida da Ordem Secular enriquece seu compromisso familiar e matrimonial. Homens e mulheres Carmelitas Descalços Seculares que trabalham experimentam um novo compromisso moral pela justiça no lugar de trabalho. Os que são solteiros, viúvos ou separados, encontram nesta promessa à santidade uma fonte de graça e fortaleza para viver suas vidas com dedicação e bons propósitos. Isto é o resultado direto de buscar o Rosto de Deus.
É a essência do Carmelo orar? Muitas vezes ouvi ou li esta afirmação. Nunca estou seguro de como contestá-la. Não porque não sei que a oração é de grande importância para qualquer Carmelita, senão porque nunca sei o que o orador ou o escritor quiseram justificar com sua exposição. Se para a pessoa a oração pessoal significa santidade e o propósito de uma espiritualidade verdadeira que reconhece a supremacia de Deus e o legado de Deus para a família humana, então, sim, estou de acordo. Porém, se para a pessoa a obrigação completa é somente orar e não há nada mais, então, não estamos de acordo. A santidade pessoal não é o mesmo que o propósito pessoal de santidade. Para um membro batizado da Igreja, a santidade é sempre eclesial, nunca deve ter um conteúdo egoísta. Nunca julgo minha própria santidade.
Eu estou santificado pela prática das virtudes, a qual é o resultado direto de uma vida orante de busca do legado de Deus em minha vida. Isto é, que a oração secreta carmelitana não nos faz santos; a oração é um elemento essencial na santidade cristã carmelitana porque é o contato freqüente e necessário para permanecer fiel a Deus. Este contato permite a Deus fazer Sua vontade em minha vida, a qual, então, anuncia a presença de Deus e sua bondade. Sem o contato com a oração não posso conhecer a Deus e Deus não pode ser conhecido por outros.
Ver o rosto de Deus necessita uma incrível candura de disciplina no clássico e original sentido da palavra. Discípulo é alguém que aprende. Devo reconhecer que sempre sou um estudante, nunca me tornarei mestre e sempre estarei surpreso por tudo o que Deus faz no mundo. Deus é sempre um mistério. Os sinais da existência de Deus sempre me interessam: as encontro em todos os acontecimentos da vida, como solteiro, viúvo ou casado; na família, no trabalho e no retiro, porém elas somente se tornam reconhecíveis e claras através da oração, observada desde o coração. O anelo de santidade é um desejo “queimante” no coração e na mente de alguém chamado à Ordem Secular. É o compromisso que o Secular deve fazer. O Secular é atraído a orar, encontrando na oração um lugar e uma identidade.
Esta oração, este propósito de santidade, este encontro com o Senhor, tornam o Secular uma parte viva e um membro mais comprometido da Igreja. A vida do Secular resulta mais eclesial, como a vida de oração, crescendo e produzindo mais frutos: na vida pessoal, o crescimento das virtudes e, em sua vida eclesial, o apostolado.
Isto me leva ao sexto elemento da descrição: para o bem da Igreja e do mundo. Isto é o novo desenvolvimento no entendimento do lugar do Secular na Ordem e na Igreja. É o resultado do papel dos leigos na Igreja. Começando com o documento do Concílio Vaticano II, “O Apostolado dos Leigos”, e a realização dos Sínodos sobre os Leigos em 1986 e a Vida Consagrada em 1996 (Christifideles Laici e Vita Consecrata). A Igreja, constantemente sublinha a necessidade de favorecer o compromisso do laicato até suas necessidades e as necessidades do mundo. Santa Teresa teve a convicção de que a única prova de oração era a de crescer nas virtudes e de que o necessário fruto da vida de oração era o nascimento de boas obras.
Uma vez ouvi a um Secular dizer: “o único apostolado dos Seculares é a oração”. A palavra que faz que esta posição seja falsa é “único”. Uma atitude orante e obediente perante os documentos da Igreja nos faz ver, claramente, que a posição da pessoa leiga dentro da Igreja tem mudado. A Regra de Vida falou acerca da necessidade de cada Secular ter um apostolado particular. Christifideles laici ressalta a importância do apostolado das associações na Igreja e a OCDS é uma associação na Igreja. Muitos Seculares quando ouvem mencionar o apostolado de grupo pensam que a comunidade inteira deve estar envolvida em algo que toma horas e horas de cada dia, porém não falamos disso. O parágrafo 30 da Christifideles Laici dá os princípios básicos da eclesialidade para associações e lista os frutos destes princípios. O primeiro fruto da lista é um desejo renovado para uma vida orante, meditativa e sacramental. Estas são coisas boas na via do Carmelo. Existe muita gente que necessita conhecer o que disseram nossos Doutores Carmelitas da Igreja. Se cada Carmelita se dedicasse a propagar a mensagem do Carmelo, quanta gente não deixaria de estar confusa em sua vida espiritual! Entrando em uma livraria grande agente encontra tantas bobagens espirituais na seção intitulada “misticismo”.
Cada comunidade tem que se fazer uma pergunta: que podemos fazer para compartilhar com outros o que temos recebido por pertencer ao Carmelo? Nós, como Carmelitas, podemos ajudar a esclarecer (i.é, aclarar, orientar) o “estragado” (i.é, o confuso, o desorientado, o enganado) fazendo o que sabemos. Isto não é uma opção, é uma responsabilidade. Ser um Carmelita não é um privilégio, é uma responsabilidade, tanto pessoal como eclesial.
Como disse ao princípio, para finalizar, não é apenas um elemento que ajuda a discernir a pessoa que tem vocação ao Carmelo: é a combinação de todos estes elementos o que faz a diferença.

domingo, 21 de fevereiro de 2010



Nossa Santa Madre Teresa de Jesus nos ensina que para os principiantes é muito bom que vejamos nos outros somente as virtudes e em nós os defeitos, pois dessa forma cresceremos muito neste caminho de perfeição que ela mesma viveu. Para nós seculares que lidamos diariamente com muitas pessoas e de diversas crenças e culturas, temos que ter esse cuidado, de achar que sabemos mais, ou que somos mais agraciados, pois dessa forma já começaríamos mal. Peçamos a Nossa Majestade, neste tempo que ELE nos que falar ao coração, tempo de deserto, a graça da HUMILDADE, de agir assim como Nossa Mãe Maria Santíssima agiu, testemunhando com sua vida o próprio Jesus que fez Nela maravilhas, agindo de forma, poderemos também cantar o MAGNIFICA junto como Nossa Mãe. Vamos rezar e trabalhar para sermos carmelitas verdadeiros em qualquer lugar que estejamos. Deus os abençoem e Nossa Mãe Maria Santíssima os conduzam!!

REUNIÃO DA COMUNIDADE RAINHA DO CARMELO - 20/02/10

"TE TOMAREI PELA MÃO E TE CONDUZIREI AO DESERTO
PORQUE QUERO FALAR AO TEU CORAÇÃO" (Os 2,16)
Inicialmente o Artur invocou a presença do Espírito Santo, e a Ana Stela guiou um lindo e concreto momento de oração, em que todos fizeram uma experiência de encontro com Jesus. Dando continuidade à reunião, a Efigênia passou avisos gerais de interesse da Comunidade, entregando também um rico material para reflexão sobre a quaresma, que muito nos ajudará na caminhada desses 40 dias.


Ao retornarmos da recreação (que foi muito alegre e divertida como sempre), a Neila rezou juntamente com toda a Comunidade uma oração de Sta Teresa -segue um pequeno trecho:
Sua Majestade deseja almas corajosas e amigo delas,
desde que sejam humildes e sempre desconfiem de si mesmas.
(Vl 13,2)
Deu continuidade também à formação do Livro da Vida, dos capítulos 11 ao 13. Alguns pontos importantes que foram considerados:
- Há quatro modos de regar o terreno da oração: o primeiro é apanhar água a baldes num poço, com grande trabalho; o segundo é tirá-la mediante o auxílio de um aparelho próprio (nora ou alcatruzes); o terceiro é trazê-la de algum rio ou arroio; o quarto é por chuvas copiosas e frequentes (aqui é o Senhor quem rega, sem nenhum trabalho nosso).
- HUMILDADE, união fraterna e desapego são chaves necessárias ára se abrir o coração do Senhor.
- (...) Esse edifício -da oração- tem por alicerce a humildade, quanto mais chegados a Deus, tanto mais adiantados estaremos nesta virtude. A não ser assim vai tudo perdido.
- (...) É bom andar cada um com temor, não se fiando de si, nem muito nem pouco, nem se metendo em ocasião de ofender a Deus.
Em seguida rezamos as vésperas: entre tantas intenções, pedimos ao Senhor que ilumine o Encontro da Associação de Santa Teresa dos Andes, que engloba os Carmelos do Norte, Nordeste e Espírito Santo, e que acontecerá em Fortaleza/Ce, de 22 a 28/02/10.

Abraços fraternais,
Ceane Ribeiro (Mariana Mazurek, ocds)



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Encontro dos Devotos do Escapulário-16/02/10

NOSSA SENHORA DE LOURDES
A Virgem sem pecado que vem socorrer os pecadores.
E para isso propõe três meios: a fonte de águas vivas, a oração e a penitência.
O encontro iniciou-se com uma oração, onde pedimos à Virgem de Lourdes que nos auxilie na caminhada de 2010, a fim de praticarmos sempre a vontade de Deus. Em seguida o Giovani fez uma bela pregação sobre Nossa Senhora de Lourdes: contextualizou algumas das 18 aparições da "Virgem de Branco", que apareceu pela primeira vez à uma camponesa de nome Bernadete, em 11 de fevereiro de 1858 (quinta-feira), na cidade de Lourdes. Enfatizou que a Santíssima Mãe geralmente aparece à pessoas simples, sendo a humildade, a marca daquele que quer alcançar a luz da verdade sobre os mistérios do céu. Somos capazes de realizar muitas coisas, mas a auto-suficiência em excesso não ajuda nossa relação com o Senhor, a suprema humildade é a chave para se visualizar a verdade divina, e assim se alcançar a felicidade plena.
Retornando a falar sobre a menina Bernadete, Giovani ressaltou que em uma das aparições (13ª) Nossa Senhora pede que seja construída uma capela; na 16ª aparição, Ela faz uma revelação: "Eu sou a Imaculada Conceição"; e a última se deu em 16/07/1958 (dia da Virgem do Carmo), "foi um adeus silencioso". Concluindo, nosso irmão de Comunidade nos estimulou a sermos filhos marianos, seguindo em direção à Jesus Eucarístico.
Logo após, rezamos com muita fé a Coroa da Imaculada Conceição. Depois, enquanto entoamos um canto mariano, foi realizado o sorteio da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Carmo, e este mês quem a levou para casa foi uma senhora muito devota da Virgem Maria, que sempre participa do "dia 16" no Carmelo, comprometendo-se a trazê-la em março para novo sorteio.
Cantamos parabéns para os aniversariantes Marília e Bezerra - que do céu sejam derramadas muitas bençãos sobre eles e seus familiares. Também foi entregue um texto (que pode ser visto no link: http://www.nslourdes.org.br/paroquia.htm sob o título: Nossa Senhora de Lourdes-A História de Nossa Padroeira), como recordação do encontro; além de flores, para que cada um tenha a confiança de que este ano será repleto de muitas alegrias e graças.
Finalizando, nos despedimos na certeza de que nossos corações estão unidos na fraternidade e no amor.
Abraços fraternais,
Ceane Ribeiro (Mariana Mazurek, ocds)

Mistérios Marianos - a serem contemplados na Coroa da Imaculada Conceição

Coroa da Imaculada Conceição: contemplando os
Mistérios da Vida de Maria Santíssima


Mistérios Gozosos de Maria

I - A Conceição Imaculada e Gestação felicíssima de Maria no ventre de Sant'Ana.
II - O Nascimento de Maria.
III - A Santa Infância de Maria, principalmente no Templo, a serviço do Senhor.
IV - A Encarnação do Verbo e Santa Expectação de Maria
V - O Nascimento de Jesus.
VI - Vida doméstica no Egito e em Nazaré.

Mistérios Luminosos de Maria

I – Maria acompanha, em espírito, o Batismo de Jesus no Jordão.
II – Maria obtém de Jesus a realização de seu primeiro milagre público, em Caná.
III – Maria ouve as pregações e contempla os sinais messiânicos de Jesus
IV – Maria, principal e fidelíssima discípula de Jesus.
V – Maria contempla em espírito a Transfiguração de Jesus no Tabor.
VI – Maria recebe Jesus Eucarístico na Santa Ceia.

Mistérios Dolorosos de Maria

I – Maria acompanha em espírito a traição de Judas.
II – Maria acompanha em espírito a Agonia do Senhor no Getsémani.
III – Maria acompanha em espírito a prisão do Senhor e as torturas sofridas.
IV – Maria acompanha pessoalmente a Via Sacra de Jesus.
V – Maria acompanha pessoalmente a agonia e morte de Jesus.
VI – Maria recebe em seus braços o Corpo de Jesus e O sepulta.

Mistérios Gloriosos de Maria

I – Ressurreição de Jesus e sua aparição à sua Santa Mãe.
II – Período de 40 dias, nos quais gozou da presença física de Jesus.
III – Ascensão de Jesus ao Céu e expectativa da vinda do Espírito Santo.
IV – Vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes e início da Igreja.
V – Maria, Mãe e Mestra da Igreja nascente.
VI – Assunção e Coroação de Maria no Céu.

Orientações:
1) Inicia-se a Coroa de Maria Imaculada, louvando três vezes a Trindade, pelo Poder, Sabedoria e Amor concedidos a Maria por cada uma das Pessoas divinas. Após o louvor, reza-se: “Ó Maria Concebida Sem Pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.
2) Após a anunciação de cada um dos Mistérios acima, reza-se 10 vezes a oração acima (Ó Maria Concebida...).
4) Termina-se a Coroa com uma Ave-Maria e uma oração de Consagração à Santíssima Virgem e com o “Lembrai-Vos”.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Reunião da Comunidade Rainha do Carmelo - 06/02/10


Iniciamos nossa reunião com a oração inicial que a Rosângela fez: invocamos a presença do Senhor. Após cantarmos a música Vossa Sou, foi meditada a poesia Buscando a Deus de Santa Teresa, ambos os momentos mediados pela Ana Stela.

Também nos colocamos por alguns instantes diante de uma imagem de Jesus Cristo, contemplando os seus mistérios, o seu olhar misericordioso – “O olhar de Deus é amar e conceder graças” (Teresa D’Ávila).


Antes do recreio da Comunidade (momento em que nos alegramos muito com a presença um do outro), cantamos parabéns para o aniversariante do dia, Francisco Edilberto.

hora do cafezinho

as irmãs Janaína, Jaqueline e Juliana

Regina e Valdete

Cláudia e Raimundo

Em seguida, a Ana Stela coordenou a formação do Livro da Vida (capítulos 1 ao 9), onde discutimos amplamente cada capítulo proposto para estudo. Concluindo o encontro, rezamos as vésperas; e saímos mais felizes, em saber que dia-a-dia a fraternidade entre nós cresce, e que estamos caminhando em unidade com todo o Carmelo e com os ensinamentos da Santa Igreja.
Esperamos ansiosamente pelo próximo dia 16, em que os amigos do Carmelo se reunirão para uma formação sobre Nossa Senhora de Lourdes.

Abraços fraternos a todos,
Ceane Ribeiro (Mariana Mazurek, ocds)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paixão de Cristo narrada por um cirurgião


PAIXÃO DE CRISTO NARRADA POR UM CIRURGIÃO

Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo.
Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.
Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte como aquela. Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.
O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessária uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.
Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.
Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem início a crucificação.
Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou ma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim.
O sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pó e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre a mão de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado.
Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem
pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não.
O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas. O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical.
Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus.
Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos
chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianótico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça.
Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”.
Jesus grita: "Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado diz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar e no seu.
Dr. Barbet, médico francês

A Fisionomia de Cristo


Descrição da Fisionomia de Jesus

Depoimento da expressão fisionômica de Jesus, encontrado na biblioteca dos Lazaristas, em Roma, na carta escrita ao César Romano, Tibério César, imperador de 14 a 37 D.C., por Públius Lentulus, da Judéia, predecessor de Pôncio Pilatos, que se refere a Jesus Cristo, que naquela época, nas terras da Palestina, principiava as suas prédicas.

“Do senador Públius Lentulus na Judéia ao César Romano: soube ó César, que desejavas ter conhecimento do que passo a dizer-te. Há aqui um homem chamado Jesus Cristo, a quem o povo chama profeta e seus discípulos afirmam ser o Filho de Deus, criador do Céu e da Terra. Realmente, ó César, todos os dias chegam notícias das maravilhas deste Cristo: para dizer-te em poucas palavras, dá vista aos cegos, cura os doentes, surpreende toda Jerusalém. Belo e de aspecto insinuante, é um homem de justa estatura, e sua figura é tão majestosa que todos o amam irresistivelmente. Sua fisionomia, de uma beleza incomparável, revela meiguice e ao mesmo tempo tal dignidade, que ao olhar-se para ele, cada qual se sente obrigado a amá-lo e a temê-lo ao mesmo tempo. O cabelo dele, até as alturas das orelhas, é da cor das searas quando maduras, emoldurando divinamente a sua fronte radiosa de jovem mestre; caindo em anéis reluzentes, espalham-se pelos seus ombros com uma graça infinita, sendo então de uma cor indefinível, como o vinho, claro e brilhante. Ele trás o mesmo apartado ao meio por uma risca à moda dos nazarenos. A barba é da cor do cabelo e não muito larga e também dividida. O olhar de paz é profundo e grave, com reflexos nos olhos de várias cores, e o que mais surpreende é que resplandecem. As pupilas parecem os raios do sol. Ninguém pode fitar-lhe o rosto deslumbrante. O seu porte é muito distinto. Possui encanto e atrai os olhares. Tão belo o quanto pode ser um homem belo, ele é ser mais nobre que imaginar se pode e muito semelhante à sua Mãe, mais formosa figura de mulher que até hoje apareceu na terra. Nunca foi visto sorrindo, mas já foi visto várias vezes chorando. Faz-se amigo de todos e mostra-se alegre com gravidade, e quanto é visto em público, aparece sempre com grande simplicidade. Quer fale, quer opere, fá-lo sempre com elegância e sobriedade. Toda gente acha a conversação dele muito agradável e sedutora. Fala um idioma de misterioso encanto e as multidões compostas de judeus e de naturais da Capadócia, Panfília, Cirene e de muitas outras regiões, ficam perplexas no ouvi-lo, pois cada qual o ouve como se fosse no seu próprio idioma pátrio. Se a tua majestade, ó César, deseja vê-lo, avisa-me que eu logo to enviarei. Apesar de nuca ter estudado, é senhor de todas as ciências. Em sua expressão divina, ele é a sublimação individualizada do magnetismo pessoal. As criaturas disputam-lhe a presença encantadora, as multidões seguem-lhe os passos, tocadas de singular admiração. Quase todos buscam tocar-lhe a vestidura, pois dele emanam irradiações virtuosas que curam moléstias pertinazes. Ele produz espontaneamente um clima elevado de paz, que atinge a quantos lhe gozam a excelsa companhia. Anda com a cabeça descoberta e quase descalço, a sua túnica alvíssima, combina com a sutileza de seus traços delicados. Muitas pessoas, quando o vêem ao longe, escarnecem dele, mas, quando ele se aproxima e estão a sua frente, então tremem e admiram-no.
De sua figura singular, extraordinária , de beleza simples, vêem um ‘quê’ diferente que arrebata as multidões, e essas se assemelham, ouvindo as suas promessas sobre um eterno reinado.
Os hebreus dizem que nunca viram um homem semelhante a ele, cuja sabedoria excede a dos gênios. Nunca ouviram conselhos idênticos, nem tão sublime doutrina de humildade e de amor, como a que ensina esse Cristo. Amável ao conversar, torna-se temível quando repreende, mas mesmo nesse caso, revela segurança e serenidade. É sobretudo sábio, modesto e muito casto. É um homem enfim, que por suas divinas perfeições excede os outros filhos dos homens.
Muitos judeus o têm por divino e crêem nele. Também o acusam a mim dizendo, ó César, que ele é contra a tua majestade, porque afirma que reis e vassalos são todos iguais diante de Deus, e assevera que acima do teu poder, ó César, reina único Deus todo-poderoso, consolador de todos os homens desesperados e aflitos.

Ando apoquentado com estes hebreus que pretendem convencer-me de que ele é prejudicial. Mas os que o conhecem que a ele têm recorrido, afirmam que ele nunca fez mal a alguma pessoa e, antes, emprega todos os seus esforços para fazer a humanidade feliz.
Estou pronto, ó César, a obedecer-te e a cumprir o que me ordenares”.


Obs: Jesus Cristo fundou a organização mais bem-sucedida da história. Uma organização que tem dois mil anos; uma riqueza incalculável: os números e valores são difíceis de calcular. De tão leais, muitos dos seus membros chegam a dar a própria vida. Está presente no mundo inteiro, em todas as nações e além de integrada com todo tipo de empreendimento. Jesus Cristo é o maior administrador que o mundo já conheceu. Enquanto isso, muitos não conseguiram que seus impérios sobrevivessem às suas próprias mortes.

Oração por uma Boa Morte - com as sete Palavras de Cristo na Cruz



ORAÇÃO POR UMA BOA MORTE
(com as últimas palavras de Jesus na cruz)

Ó meu Santíssimo Salvador e Senhor Jesus Cristo! Quão grande é Vossa Misericórdia! Quão infinito o Vosso Amor por nós! Com todo o meu coração e em espírito e em verdade, adoro-Vos profundamente e, cheio de dor e amor, penso em Vossa Sagrada Paixão e Morte de Cruz, em Vossas Santíssimas Chagas e em Vosso Preciosíssimo Sangue que derramastes todo por nós!
Ao contemplar Vossa santíssima morte, meu Senhor e meu Deus, lembro-me que, também eu, deverei passar pela morte! Sei que ela virá, ó meu Deus! Sou filho de Adão, um pobre pecador, e devo, com minha morte, pagar este “salário do pecado”.
Durante esse tempo que me separa do momento de minha morte, quando olhares para mim, com Vossos olhos cheios de amor, marejados de lágrimas, em vista de meus pecados, lembrai-Vos, ó Jesus, da Vossa Misericórdia e do Sangue que Vós derramastes por mim e clamai ao Vosso Pai: “perdoai-lhe, ó Pai, pois não sabe o que faz!”.
Sim, ó Jesus, ajudai-me a me converter e a ser um bom cristão para que, na hora da minha morte, cheio de amor por Vós, e de esperança na vida eterna, possa, como Vós, também dizer: “está tudo consumado!”. Quero, com a Vossa Graça, ter a consciência e a paz do dever cumprido, de ter feito a vontade do Pai em minha vida!
Na hora da dor, talvez minha alma grite como a Vossa: “tenho sede!”. Sim, Jesus, sede de Vós, do Vosso amor e de Vossa presença!
Consciente de minha iniqüidade, não sei se merecerei como aquele “bom ladrão”, ouvir de Vós – “hoje mesmo, estarás comigo no paraíso” – porém, confio imensamente em Vossa Misericórdia, e sei que Vos apiedareis de minha alma e, em breve, estarei convosco Senhor! Não saí eu das entranhas do Vosso Amor? Vossa alegria é que eu esteja convosco!
Naquele derradeiro momento, minha alma confiante ouvirá Vossa consoladora voz dizer: “Mulher, eis aí o teu filho”. E verei minha doce Mãe, a Virgem Maria, cheia de ternura, a amparar-me em seus braços maternos! Sim! Minha alma sentir-se-á feliz e tranqüila! Maria Santíssima é minha Mãe e Advogada, minha Porta do Céu e, olhando para Ela, ouvirei novamente vossa voz, ó Jesus, a me dizer: “eis aí a Tua Mãe!”.
Porém, meu Deus, se pronta está a alma, fraca é a carne! Diante da morte terei medo, como Vós tivestes, ó Jesus! Por isso, sei que entender-me-eis se, por acaso, como Vós, eu clamar: “meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”. Ó Jesus querido, vinde, aproximai-Vos de mim, consolai-me, acolhei-me, colocai-me em Vosso Doce Coração de Irmão e Amigo e, assim, com a alma feliz e livre, poderei finalmente dizer: “Pai, em Vossas mãos entrego o meu espírito!”. Amém!

(Giovani Carvalho Mendes)