quarta-feira, 21 de novembro de 2012

5ª Palestra sobre o Pai Nosso


O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE


Como é interessante a pedagogia de Jesus! Às vezes, nosso Senhor chega a ser redundante, na tentativa de que nossa pouca inteligência, muito inclinada à matéria, ao visível e ao palpável, possa entender o que quer nos dizer.
Aqui Jesus nos ensina a pedir ao Pai o “pão”. Melhor ainda, o “pão NOSSO”. Mais uma vez nosso Senhor usa a palavra “nosso”. Pai nosso e pão nosso. Mais uma vez, Jesus quer nos dizer que assim como o Pai é de todos, o pão também o é, ou, pelo menos, deveria ser.
Mas, que “pão” é esse? Antes de tudo, temos que compreender que o Pai nosso é a oração universal. Ela contempla a essência de Deus e também a essência do homem. Nós, homens e mulheres, somos corpo, mente e alma. Esses três aspectos do ser humano não são autossuficientes. Corpo, mente e alma necessitam ser alimentados, necessitam, cada um a seu modo, de “pão”. Portanto, podemos sim dizer que o “pão nosso” é tudo aquilo que precisamos para alimentar, revigorar e sustentar nosso corpo, mente e alma.
Antes de falarmos dos vários “pães” que compõem o “pão nosso”, não podemos deixar de falar no PÃO mais importante de todos eles, aliás, fonte de onde emanam todos os “pães”: o próprio Deus, na Pessoa de Jesus, PÃO DA VIDA. Sim! Jesus é o PÃO DE DEUS, o MANÁ divino que verdadeiramente é fonte de vida para todos nós. Não seríamos nada, nada mesmo, sem Jesus, o PÃO DESCIDO DO CÉU (conferir em João 6, 51.58).

Jesus é tudo o que o homem e a mulher precisam para realmente serem felizes nesta vida e na eternidade. Por Ele nos vem a paz verdadeira, a alegria interior, a esperança, a fé, o amor ao próximo, a paciência nos sofrimentos do dia a dia, a força para lutar, etc. Jesus é a Vida do homem. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Como Jesus é de todos e para todos, pois morreu por nós na cruz e nos salvou, Ele verdadeiramente é NOSSO. Ninguém pode se apropriar de Jesus. Jesus é nosso Deus, nosso Irmão, nosso Rei, nosso Redentor, nosso Salvador, portanto, é NOSSO. Jesus é o PÃO NOSSO que o Pai quer nos dar, se O pedirmos com fé. No entanto, o Pai só nos dará Jesus se pedirmos com fé e confiança a Ele. E temos que pedir a cada dia, e, em cada um desses dias, para aquele dia, portanto, para HOJE. O ontem não existe mais. O amanhã ainda não chegou. Tudo o que importa é o hoje. Deus quer nos dar seu PÃO hoje, somente para hoje, a cada dia. Esse pedido gerará em nós muita humildade, muita confiança e muita dependência de Deus. Se esperamos dEle o Pão somente para hoje, como nos orgulharmos, como sermos ambiciosos ou ciosos se tudo o que temos é o hoje?
Assim, como ORAÇÃO DE SANTIDADE, o Pai nosso mais uma vez cumpre o que veio fazer: tornar-nos mais santos, quando verdadeiramente rezamos pensando e querendo o que ela nos diz.
Mas, falemos também sobre os outros “pães” quem também compõem o Pão nosso que Deus quer nos dar. Deus nos conhece. Sabe de nossas necessidades. Jesus foi homem como nós. Viveu nossa condição humana e conhece todas as nossas necessidades, mais do que ninguém. Sabe que somos frágeis, pois, Ele mesmo conheceu nossa fraqueza, mesmo nunca pecando. Jesus sabe que precisamos do alimento para nossos corpos, que precisamos de acesso à educação, à saúde, ao emprego, à moradia, isto é, a tudo aquilo que possa tornar nossa vida digna.
Todos precisam de tudo isso que enumerei. Deus sabe disso. Peca gravemente quem acha e chega mesmo a dizer que Deus não se importa com o nosso sofrimento, que não se compadece de nossas misérias, que não chora com os que choram, que assiste às desgraças e catástrofes que ocorrem na terra de forma impassível. Deus é um Deus de Amor! Deus é Amor! Como podemos julgar a Deus de forma tão cruel? Infelizmente, no entanto, nossa condição humana, inclinada ao pecado, permitiu que todas essas desgraças penetrassem no mundo. Deus não tem culpa das desgraças ou das maldades humanas. Elas estão aí porque permitimos que elas existissem. Deus sofre conosco também e é solidário à nossa situação.
Por isso a oração! A oração é nosso canal de comunicação com Deus. Pela oração poderíamos alcançar grandes milagres de graça, benção e providência, no entanto, não temos fé. Montanhas poderiam ser movidas, obstáculos derrubados, os fracos ganhariam novo ânimo, os caídos, força para se erguerem, os perdidos uma nova esperança de vida. No entanto, não temos fé. Não rezamos, não oramos, não conversamos com Deus, não nos entregamos à sua vontade, não fazemos dEle o centro de nossas atenções e nem de nossas vidas. Por isso vivemos assim: sem esperança, sem forças, perdidos, atordoados, cegos e desanimados. Meu Deus! Que pena!
Rezemos bem o Pai nosso! Peçamos o Pão nosso com fé, com ânimo, com confiança, com espírito de luta! Como braços de Deus no mundo, lutemos por uma sociedade mais justa, menos desigual, onde todos tenham acesso a um serviço de saúde digno, a boas escolas, a boas moradias a um emprego ou trabalho que dê ao homem condições de se manter e manter sua família.
Jesus foi trabalhador. Trabalhou com seu pai São José e também sozinho quando Maria ficou viúva. O PÃO DA VIDA trabalhou para conquistar o pão do corpo, que também é necessário para sermos felizes. Ele compreende essa necessidade humana e ensinou-nos a pedirmos ao Pai, como filhos e filhas, que nem Ele, Jesus, nunca nos falte, como também nunca nos falte os meios materiais que também precisamos para sermos felizes e realizados.
Peçamos sempre ao Pai que esse PÃO DO CORPO que também faz parte do PÃO NOSSO, além de nunca nos faltar, que seja o suficiente para cada dia, para o hoje, para que nunca sejamos engolfados pela ganância ou avareza, sabendo ser solidários com os famintos de corpo e de alma, bem como para com todos os que sofrem.

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS

Acredito que 99 % dos cristãos católicos rezam de forma equivocada esta parte do Pai Nosso. Pode até ser que você mesmo, caro irmão ou irmã, que lê este pequeno livro, também reze de forma errada esse trecho do Pai Nosso. “Perdoai-nos” as nossas ofensas... Raríssimas vezes ouvi alguém rezando assim. A grande maioria (até padres) reza: “perdoai as nossas ofensas”. Reparam? Na maioria das vezes omite-se o “nos” após a palavra “perdoai”.
Aos olhos de muitos tal detalhe talvez nada importe ou nada signifique, no entanto, muito pelo contrário, a presença ou não do “nos” altera bastante o sentido da Oração do Senhor.
E qual seria essa diferença? Simples. Quando dizemos: “perdoai-nos” as nossas ofensas, não estamos pedindo ao Pai que perdoe as nossas faltas, mas, na verdade, estamos pedindo que perdoe a nós, os autores das ofensas. Entenderam? Pedimos: “Pai, perdoe a gente, que tanto Vos ofendemos”! Isso é bem diferente de dizermos: “Pai, perdoe as nossas ofensas”. Precisamos que Deus NOS perdoe e não apenas que perdoe os nossos pecados. Claro que os pecados ofendem a santidade e honra de Deus Pai, no entanto, precisamos que Deus Pai nos perdoe a nós que somos ingratos, inconstantes, tíbios e infiéis à infinita bondade de Deus.
Na própria continuação da oração, não dizemos que perdoamos as ofensas de quem nos ofende, mas, que perdoamos a quem nos ofende, isto é, à pessoa. O pecado é pessoal, portanto, a ofensa é pessoal. Nosso relacionamento com Deus é pessoal. Devemos pedir-Lhe perdão por sermos tão pequenos, tão pobres e tão miseráveis diante de sua Pessoa, que tanto nos quer bem e que é tão ofendida por nós.
Nós somos essencialmente pecadores. Somos inclinados ao pecado. Não tem jeito. Faz parte da natureza do homem e da mulher serem pecadores. Mesmo quando somos aparentemente “bonzinhos” ou até mesmo santos, enquanto caminhamos neste mundo, somos pecadores. Os santos e as santas de Deus sabiam muito bem disso. Tinham ódio ao pecado e julgavam-se, até à morte, miseráveis e indignos pecadores, mesmo aqueles ou aquelas que já viviam em grande perfeição. Pediam e imploravam continuamente a Misericórdia de Deus, pois sabiam que eram pecadores e poderiam incorrer em pecados se lhes faltasse a assistência divina, a oração e uma contínua vigilância. “Orai e vigiai para não cairdes em tentação”. A guerra contra o pecado é constante. Veremos isso mais a diante quando comentarmos sobre a tentação.
Interessante que Jesus não usa a palavra “pecados” quando compõe a oração do Pai Nosso. Ele se utiliza da palavra “ofensas”. Por que será? O que Ele nos quer dizer com isso?
Já ouvi da parte de algumas pessoas – talvez quem está lendo estas páginas também possa testemunhar isso – que Deus “tem assuntos bem mais importantes a resolver ou para se preocupar” do que ficar “prestando atenção” nos pecados da humanidade. O que mais admiro nos nesses falsos argumentadores é a inteligência astuta que possuem – aparentemente irrefutável – mas, que rapidamente demonstra o errado conceito que tem da Pessoa de Deus. Para esses, Deus é um Ser Eterno e Todo Poderoso que, devido a sua infinita grandeza, está muito distante de nós e que pouco se importa com a nossa vida e realidade.
Que pena que pensem assim. Vê-se claramente que tais “sábios para as coisas deste mundo” pouco leram a Palavra de Deus e menos ainda a vida e os escritos de nossos santos e santas católicos que muito descreveram como é o Amor de Deus, tão intimamente voltado para cada ser humano. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo (a Trindade Indivisa) são totalmente apaixonados pelo ser humano e tem por nós um amor violento e ciumento, ao ponto de, mesmo na glória infinita que possuem no Céu, fazê-los sofrer de amor.
Deus Pai é verdadeiramente nosso Pai, pois nos criou do nada e nos criou para sermos dEle. O Pai é cioso de nosso amor, suspira ardentemente por um ato ou gesto de amor nosso e chegou ao mais supremo ato de amor possível a um Pai: dar seu Filho Único para morrer por nós. Deus Filho, Jesus Cristo, é o Emanuel, o Deus Conosco, que veio se tornar um de nós. Além de ser nosso Deus e Senhor, é nosso Irmão e Salvador, apaixonado de amor por nós, e também tudo fez para nos provar esse amor e tudo fez para nos salvar. Deus Espírito Santo também é apaixonado de Amor por nós. O Espírito Santo é a Personificação deste Amor Divino, infinito e santíssimo, que habita o centro da Santíssima Trindade.
Assim, esse Deus que tanto nos ama, quer também ser amado. É justo! Todo amante é assim. Quem ama quer e merece ser amado, quanto mais nosso Deus que nos criou e salvou para sermos dEle, para pertencermos a seu Amor infinito.
Bem, aí vem o ser humano: senhor de si, julgando-se independente de Deus, livre para escolher o caminho do bem ou do mal, conforme escolha de nossos primeiros pais Adão e Eva. Optamos por sermos “deuses de nós mesmos”, viramos as costas para o amor e para a vontade de Deus, achando com isso que seríamos talvez mais felizes. Quanta ilusão! Como nos enganamos! Caímos em nosso “mundinho” mesquinho e egoísta, nos enchemos rapidamente de prepotência, nos tornamos rebeldes, infelizes e insatisfeitos com tudo. De tudo reclamamos, alimentando cada vez mais o “reizinho” ou “deusinho” que vivem em nós.
Essa condição humana é uma contínua ofensa a Deus. Ah, não sabiam? Pois é. Somos “pecadores contínuos”, pois, geralmente, fazemos de nós mesmos objetos de adoração, buscando sempre satisfazer a nossa vontade e aos nossos desejos. Somente a Santíssima Virgem Maria jamais ofendeu a Deus, pois foi sempre e constantemente sem máculas, humilde e obediente à vontade de Deus. Muitos santos também atingiram altos níveis de perfeição e santidade, no entanto, todos tiveram que lutar muito contra as más tendências que sempre ficam ali, rondando as suas mentes e as suas almas, solicitando que satisfizessem as suas vontades.
Temos que ser constantemente humildes, muito humildes. Foi a virtude que Jesus mais valorizou. Leiam com atenção aos evangelhos e vejam! Jesus detestava qualquer pecado, no entanto, o pecado do orgulho, da soberba, da vanglória e da autossuficiência, que são tudo a mesma coisa, tirava a Jesus do sério. Eram justamente esses pecados que tanto irritavam a nosso Senhor quando Ele tinha contato ou conversava com os fariseus e doutores da lei.
A oração do Pai Nosso deve nos ensinar a sermos humildes. Temos que continuamente nos reconhecer pecadores, frágeis, pequenos, fracos e totalmente dependentes de Deus para tudo! Se não fizermos isso, jamais nos salvaremos! Imploremos o perdão de nossas ofensas, pois realmente Deus é o Grande Ofendido, tanto por mim como pelo mundo inteiro. Deus, que é Amor, não é amado, já gritava São Francisco de Assis pelas ruas de sua cidade. Deus não é amado! Aí está a razão de ser tão ofendido por mim, por você, meu caro irmão e irmã, bem como pelo mundo inteiro!
Se somos, portanto, tão ruins e ingratos, e nosso Deus nos ama e perdoa, quem somos nós para não perdoarmos a nossos irmãos e irmãs? Ao mesmo tempo em que nos perdoa, Deus Pai nos pede que ao menos tenhamos disposição em perdoar a quem nos ofende.  E olha que, com isso, Deus não quer nada mais do que a nossa paz e felicidade, tão plenamente alcançadas quando nosso coração ama e perdoa.

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