domingo, 28 de outubro de 2012

4ª PALESTRA SOBRE O PAI NOSSO


SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

Podemos iniciar a reflexão sobre esse trecho do Pai Nosso com as seguintes perguntas polêmicas: O que é vontade de Deus e o que é permissão de Deus? Qual é a vontade de Deus?
As diversas religiões cristãs e não cristãs, bem como seus líderes ou pregadores, tem várias versões e explicações para essas perguntas. Muitas delas, inclusive, absurdas. Para muitos, Deus é a favor de guerras, de assassinatos, de atentados terroristas e outras violências contra a liberdade, dignidade e vida humanas. Em certos casos particulares, para muitas pessoas até mesmo “religiosas” e que “gostam de Deus”, este Deus seria a favor de um homem deixar sua esposa e juntar-se com outra mulher, caso seu casamento não estivesse “dando certo” ou se seus gênios não fossem “compatíveis”. Muitos ladrões, bandidos, assaltantes e traficantes podem até mesmo, em suas preces, pedir a Deus que os proteja durante a prática de seus crimes e até mesmo agradeçam a Deus o “feliz sucesso” em suas empreitadas.
Mesmo em nossa própria religião cristã, quiçá, entre nós católicos, as opiniões sobre a vontade de Deus se dividem. Há pregadores que em suas homilias e palestras dizem que Deus valoriza e até mesmo abençoa o sofrimento humano, que pode ser caminho de santificação. Outros, ao contrário, acham que Deus veio para aliviar toda dor e toda cruz, portanto, que o maior sinal de sua benção é uma pessoa ficar livre de doenças e qualquer forma de sofrimento.
Antes que falemos sobre a vontade de Deus, é interessante que reflitamos um pouco na diferença que há entre vontade de Deus e permissão de Deus. Muitos são os pensadores e filósofos que se debatem neste momento. Infelizmente, jamais compreenderemos na terra o exato limite entre uma e outra.
Podemos, no entanto, garantir que Deus de forma alguma é a favor do pecado e ou de qualquer coisa ou ocasião que possa levar alguém a pecar. Nunca! Deus é o inimigo número um do pecado. O pecado é coisa odiosa para Deus. Claro que também Ele não se compraz com as consequências do pecado, como, sofrimentos, tribulações, provações, tentações, doenças, morte, etc. No entanto, Deus permite que existam tais coisas no mundo e na história humana, pois nós (todo o gênero humano) as merecemos por nossa culpa.
Uma das coisas mais incompreensíveis à mente humana é o porquê de Deus permitir a presença do mal, isto é, a ação do maligno no mundo. Como pode ser que um Deus que é Amor permita que a humanidade padeça tanto sob o jugo das forças do mal? Quantos inocentes sofrem diariamente o ataque de satanás e daqueles que são da parte dele? Caros irmãos e irmãs, tudo é culpa nossa. Fomos nós, homens e mulheres, que abrimos as portas para que o mal viesse à terra. Deus respeita nossa liberdade. Mesmo cheio de dor, sofrendo junto conosco (como o fez na Pessoa do Cristo), Deus permite que exista no mundo a presença do mal. Repito e insisto: Deus não fica nada feliz com presença do mal no mundo. Sofre junto conosco. Chora com os que choram. Enviou seu Filho Único ao mundo justamente para vencer esse Mal, morrendo por nós na cruz. Porém, apesar de ter vencido o mal na cruz e de nos ter conseguido a graça de também vencê-lo em nossas vidas, não retirou totalmente a presença do mal do mundo. Esta é uma realidade dura que faz e fará parte da cruz cotidiana de cada homem ou mulher na face da terra, inocentes ou não.  O sofrimento com suas mais diversas “caras” é a cruz que todo o gênero humano terá que levar até o fim do mundo. Mas isso não é vontade de Deus.  Podemos afirmar com segurança: não são vontade de Deus os crimes, as guerras, as violências, as catástrofes naturais, etc. Deus permite que tais coisas aconteçam para que nós seres humanos as enfrentemos com paciência, oferecendo a Ele nossa cruz do dia a dia, vivendo com espírito de partilha e solidariedade, fazendo o que for possível para ajudarmos os outros a levar também sua cruz.
Bem, voltemos ao que é vontade de Deus. Primeiramente temos que saber que a Santa Vontade de Deus engloba vários aspectos. Os dois principais, que resumem tudo, seriam a nossa salvação eterna e a história humana. Uma leitura que muito ajudaria a nossa reflexão seria a do livro do Êxodo. Lá nós vemos como Deus trabalhou pelo bem e salvação do povo eleito de Israel, permitindo a eles, inclusive, muitos sofrimentos e dissabores, tudo visando a sua conversão e perseverança na fé. Sim. Deus testa nossa fé e nossa fidelidade. Testa com o sofrimento. Isso é vontade de Deus. Não fiquemos “chateados” com nosso Deus. Ele é nosso Pai. Ele sabe que frequentemente precisamos de correção, do clássico “puxão” de orelhas para que nos voltemos para Ele. Fazer o quê? Faz parte de nossa condição humana, herdada de nossos pais Adão e Eva. Deus é “obcecado” por nossa salvação eterna. Quer que um dia cheguemos ao Céu. Para isso temos que passar pela cruz, assim como Ele, na Pessoa de Jesus, passou. Deus trabalha nossa salvação eterna, trabalhando em nossa história de vida.
Bem, o caminho ou “método” para a salvação eterna de nossas almas já está muito bem relatado nos santos evangelhos, bem como nos dez principais mandamentos da Lei de Deus. Para nos salvarmos temos que amar a Deus sobre todas as coisas, pronunciar seu santo Nome com respeito, respeitar e guardar suas principais festas, honrar pai e mãe, não matar ou prejudicar a vida de ninguém, guardar a castidade de acordo com nosso estado de vida, não furtar ou subtrair algo de ninguém, não invejar ou cobiçar as coisas alheias, não cometer adultério contra nosso cônjuge e nunca levantar falso testemunho contra nossos irmãos e irmãs. Além disso, de acordo com o Sermão das Bem – Aventuranças e outros discursos feitos por Cristo Jesus, para nos salvar temos que ser desapegados dos bens materiais, temos que renunciar a tudo que atrapalha o nosso amor a Deus e ao próximo, tem que levar nossa cruz cotidiana com paciência e resignação, temos que ser puros de coração, mansos, pacíficos, humildes, pobres de espírito e ter grande sede de Deus e de sua justiça (justiça nas Sagradas Escrituras é tudo que é santo, correto e bom). Tudo isso nos levará seguramente para a salvação eterna ao lado de Deus. Portanto, não precisamos nos estender muito no tocante a qual seja a vontade de Deus no tocante à nossa salvação eterna. Ele quer que todos nós nos convertamos, que renunciemos e abandonemos todo e qualquer pecado, que abracemos a virtude e sejamos santos. Pronto! Essa é seguramente a vontade de Deus no tocante à nossa salvação eterna.
Muito bem, podemos até nos convencer que Deus que nossa salvação eterna e que lutemos por ela. No entanto, o “problema” justamente está em compreendermos, aceitarmos e nos resignarmos quando Deus permite que o sofrimento venha a “bater” na “porta” de nossas vidas. Como é difícil, meu Deus! Como facilmente nos revoltamos convosco! Nossa pouca fé e nosso pouco amor, bem como nosso instinto de autodefesa rapidamente nos levam à revolta e às vezes até à blasfêmia.
Herdamos de nossos primeiros pais, Adão e Eva, o mesmo pecado deles. Por isso que se chama “pecado original”. E que pecado seria esse? Todos nós somos nossos próprios “deusezinhos”. Temos um “amor próprio”, um instinto de auto – conservação e auto – preservação extremamente aguçados. Isso é impressionante! Como é difícil aceitarmos a vontade ou a permissão de Deus em nossas vidas quando elas vão exatamente de encontro aos nossos interesses, melindres e vontades próprias! Muitas vezes essa vontade ou permissão vão de encontro até contra nossos instintos básicos, tais como: amor pela nossa vida, apego a parentes e amigos, desejos e ambições. Não é verdade? É exatamente aí que quase todos nós caímos. Para nós é muito difícil ver em tudo isso a presença amorosa de Deus que quer que vençamos, com Ele, todas as nossas cruzes, que encontremos nelas meios eficazes de conversão e de libertação de nós mesmos, nossos “deusezinhos particulares” para termos apenas nEle e só nEle toda a nossa vida e consolação.
Não pensem, meus irmãos e irmãs, que Deus se compraz ou se alegra com o choro de uma mãe que perde um filho ou filha em um acidente, ou quando este filho ou filha padece e morre de alguma doença grave. De forma alguma! Deus sofre e chora junto com essa mãe. Deus é misericordioso e compassivo. Deus é pleno em bondade, ternura e amor. Não nos livra da cruz, porque ela é própria do gênero humano (“tome a sua cruz”...), por causa do pecado de nossos primeiros pais, mas nunca nos abandona. Está ao nosso lado, sempre. Parece invisível, pois, somos cegos. Fechamos os olhos de nossas almas com muita facilidade. Queremos que Ele sempre esteja conosco do nosso jeito, da maneira que achamos que Ele tem que fazer. Queremos que Ele sempre nos dê saúde, prosperidade e sorte na vida. Achamos que Ele praticamente tem a obrigação de fazer a nossa vontade e não que nós tenhamos que fazer a dEle! Por isso nos revoltamos quando a vontade ou a permissão dEle não é igual à nossa.
O sofrimento faz parte do “ônus” de sermos humanos. Todos nós temos que passar pelo sofrimento e pela dor, uns mais, outros menos. Esse sofrimento já começa em nosso próprio nascimento. Como sofremos ao nascer! Graças a Deus que em nossa memória não ficam gravados os tormentos que sofremos no útero de nossas mães no momento das contrações do parto! Creio que se nos lembrássemos de tudo, ficaríamos loucos. Deus, até nisso, foi misericordioso para conosco. Tão logo respiramos, isto é, tão logo nascemos, logo nos esquecemos de tudo e somos consolados com a presença amorosa de nossas mães e somos acalentados pelo delicioso leite de seus seios. Como Deus é bom! No entanto, toda nossa vida, a partir daí, será repleta de lutas. Sentiremos fome, sede, choraremos sentindo a falta de um abraço, de um consolo, sentiremos cólicas, pegaremos as primeiras gripes ou viroses, ficamos sujos, etc. A vida é assim... Fazer o quê? A culpa foi nossa. Leiamos o que Deus disse aos nossos primeiros pais quando estes pecaram: “Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.” E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gênesis 3, 16-19).
Portanto, meus irmãos e irmãs, é “normal” para Deus permitir que tenhamos que lutar na vida, que penemos, que trabalhemos, que tenhamos que fazer a nossa parte no mundo. A vida é assim. E isso não a torna menos bela. Não! Deus continua conosco. Ele está perto de nós, ao nosso lado. Ele nos dá força, nos encoraja, nos dá esperança e vida constantemente. O problema é que não O vemos. Fechamo-nos em nosso “mundinho” e não enxergamos a um palmo de nossos narizes. Não vemos a Deus nas “noites escuras” que Ele permite que nos ocorram para o nosso bem. Somos cegos. Somos nossos próprios “deusezinhos” e só ficamos satisfeitos quando a nossa vontade é feita, não a de Deus. E olha que a nossa vontade geralmente não nos conduz à felicidade verdadeira e à vida...
Como somos diferentes dos habitantes do Céu! Lá, apenas a vontade dEle, por mais difícil ou incompreensível que pareça ser, é que é feita e comprida à risca. Os santos amaram a vontade de Deus na terra, por isso é que a amam no Céu. Pensam que isso foi fácil? Não conheço um santo ou santa que não tenha sofrido muito. As histórias dos processos de beatificação e canonização estão cheias dessas histórias. O que eles ou elas tinham de diferente de nós? Eram, porventura, insensíveis? Eram masoquistas? Não! Claro que não! Muitos, inclusive, eram bastante sensíveis e até mesmo frágeis de saúde e compleição física. O que tinham de diferente? Amavam a Deus, amavam-nO ardentemente! Isso faz a diferença. Quando amamos a Deus e estamos certos, convencidos que Ele também nos ama, aceitamos tudo o que vir em nossa vida. Aceitamos a tempestade e a bonança, a dor e o alívio, a fome e a fartura, a doença e a saúde, o trabalho e o descanso, não como coisas próprias, mas, tudo como dom de Deus. Isso também faz a diferença.
Quando consideramos as coisas e fatos em nossas vidas como coisas e fatos “isolados de Deus”, vivemos em grande desassossego e intranquilidade. Temos medo de tudo. Tudo nos causa medo. Se estamos na “calmaria” temos medo que venha a “tempestade”. Se estamos na “tempestade”, achamos que ela nunca mais tem fim. Ficamos impacientes. Esses pensamentos fazem-me pensar no episódio da tempestade no mar da Galileia. Puxa vida! Os apóstolos e discípulos estavam com Jesus na barca. Eles já haviam assistido a estupendos e maravilhosos milagres! Nada disso bastou quando veio sobre eles a ventania e a revolta das ondas. Eles nem prestaram atenção em Jesus que dormia tranquilamente. Voltaram seus olhares, atenções e medos unicamente para a tempestade. Não olharam para Jesus. Não imitaram Jesus. Gritaram de medo e pavor. Desesperaram. Não fazemos exatamente o mesmo? Nos sofrimentos de nossa vida, desesperamos facilmente. Não olhamos para Jesus que “dorme”, mas, que está junto de nós. Não temos fé de que Deus está junto de nós, mesmo quando aparentemente “dorme”...
Ó meu Deus, que seja feita a vossa Vontade, assim na terra como no Céu! Vossa vontade muitas vezes misteriosa e incompreensível às nossas pobres inteligências e à nossa pouquíssima fé é sempre para o nosso bem. Não creremos nisso? Vamos viver eternamente assim, infelizes, desconfiados de Deus? Somos assim tão mesquinhos e interesseiros?
Que a vossa Vontade seja feita na terra como é feita no Céu! Que Jesus nos ensine a crer e em amar a vossa Vontade. Quantas vezes, meu Jesus, fizestes a vontade do Pai a “duras penas”, mas, a fizestes ardendo de amor e desejo que essa vontade se cumprisse até o fim! Que exemplo, Jesus! Quantos exemplos nos deixastes de adesão heróica à vontade de Deus Pai, chegando ao ponto do sacrifício de vossa vida! 
Que também a Virgem Maria nos ensine a crer e a amar a vossa santíssima Vontade, assim como Ela creu e amou mesmo no momento da profecia de Simeão, na perseguição de Herodes, no exílio para o Egito, na vida pobre e humilde de Nazaré, na saída de Jesus para sua missão messiânica e no momento de sua Paixão e Morte de Cruz. Nunca duvidastes, ó Maria, do Amor e da Bondade de Deus, mesmo vendo o vosso Filho pendente no madeiro da Cruz, sofrendo os mais cruéis tormentos. Vossa fé jamais se abalou. Ajudai-nos. Ajudai-nos! Vede nosso pouco amor a Deus. Vede nossa pouca fé. Ajudai-nos. Ajudai-nos a amar a vontade de Deus, mesmo quando ela vier com sofrimento e cruz. Somente assim seremos felizes, verdadeiramente felizes como vós fostes. Somente assim seremos felizes como o foram os santos e santas de Deus. Amém!

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