terça-feira, 27 de abril de 2010

Nossa Majestade sabe o que fazer com cada alma!!


"Senhor, olhai o que fazeis, não esqueçais tão rapidamente os grandes males meus; como para perdoar-me Vós os esquecestes, suplico que Vos lembreis deles para moderardes os Vossos favores. Não depositeis, Criador meu, licor tão precioso em vaso tão quebrado, pois já vistes que volto a derramá-lo. Não guardeis semelhante tesouro num lugar onde ainda não está, como deveria estar, perdida de todo a cobiça de consolações da vida, pois, assim fazendo, o esbanjareis. Como confiais as armas dessa cidade a as chaves de sua fortaleza a governante tão covarde, que no primeiro assédio dos inimigos permite que eles aí penetrem?

Que o Vosso amor não seja tanto, ó Rei eterno, que ponhais em risco jóias tão preciosas. Parece-me, Senhor meu, que isso pode permitir que se tenha pouca estima por Vós, pois as deixais em poder de criatura tão ruim, tão baixa, tão fraca e miserável, e tão sem valor que, embora trabalhe para, com o Vosso favor, não as perder(e é necessário um grande favor, sendo eu quem sou), não consegue beneficiar outras pessoas; em suma, mulher, e não boa, mas ruim. Parece que os talentos não só são escondidos, mas enterrados, ao serem depositados em terra tão árida. Não costumais, Senhor, conceder semelhantes riquezas e benefícios a uma alma, a não ser para que muitas aproveitem. Já sabeis, Deus meu, que com toda a vontade e de todo o coração eu Vos suplico, e tenho suplicado algumas vezes: não me importo de perder o maior bem da terra desde que concedais essas graças a quem delas tire maior benefício para que cresça a Vossa glória."


Essas e outras coisas eu disse muitas vezes. Depois, via a minha insensatez e pouca humildade; porque o Senhor bem sabe o que convém e que não havia na minha alma forças para que ela se salvasse se Sua Majestade não as infundisse com tantas graças.

(Santa Teresa de Jesus - Livro da Vida 18,4)

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