terça-feira, 16 de outubro de 2012

3ª PALESTRA SOBRE O PAI NOSSO


SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME

À primeira vista parece ser muito estranho esse pedido do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso nome”. Santificado seja o vosso Nome? Como assim? Não teria sido mais “normal” Jesus ter dito: “Louvado seja o vosso Nome”, ou “Bendito e adorado seja o vosso santo Nome”, ou ainda, “Glorificado seja o vosso Nome”? Não é nada usual desejar que o Nome Santíssimo de Deus seja santificado. Seria quase uma redundância não acham? Permitam-me esta comparação, mas, seria o mesmo que desejar que a luz do sol seja brilhante ou que a água seja molhada.

O Nome de Deus (sempre escreverei a palavra “nome” com “N” maiúsculo quando estiver me referindo a Deus) já é Santo por natureza. Deus é o Santo, Santo, Santo! Assim O louvam a multidão dos Anjos no Céu: “Os serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas. Suas vozes se revezavam e diziam: ‘Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória’” (Isaías 6, 2-3).

Deus é a própria santidade, a perfeição infinita. Jesus mesmo dirigindo-se aos discípulos, apontou seu Pai como o modelo e fim e toda a santidade: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5, 48). Assim, sua santidade infinita nem aumenta e nem diminui mais do que já é, visto que Deus é imutável. Então, o que significa desejar que o Nome de Deus seja santificado?

Do ponto de vista humano, o bom nome de um pai ou de uma mãe é confirmado ou enaltecido no modo de ser de seus filhos. Não é verdade? Quando vemos uma criança ou um jovem com bom comportamento, imediatamente associamos isso à boa educação de seus pais. Ao contrário, quando vemos uma criança ou um jovem demonstrando má conduta ou comportamento errado, de pronto dizemos: “que mal-educado”! Olha só! Atribuímos o bom ou o mau comportamento à boa ou má educação dos pais.

Deus é Pai. Sua maior honra, sua maior glória é a santidade de seus filhos e filhas! A maior razão de sua alegria é ver seus filhos e filhas sendo semelhantes ao Filho Jesus: “Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu (a alegria de Deus) por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento(Lucas 15, 7). Deus se compraz na santidade de seus filhos e filhas. Claro que a santidade de Jesus, Filho Único de Deus, é suficiente para suprir toda a humanidade, no entanto, o Pai ama seus filhos e filhas adotivos e se sente feliz em ser amado por eles. Como todo “pai orgulhoso”, contempla seus filhos e filhas fiéis e com eles e por eles Se compraz e rejubila: "Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas. Tais como as flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos gerados na juventude. Feliz o homem (aqui poderíamos dizer: feliz Deus Pai) que assim encheu sua aljava: não será confundido quando defender a sua causa contra seus inimigos à porta da cidade. Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas”. (Salmo 126, 3b-5).

Jesus mesmo associou a glorificação do Nome do Pai ao “bom comportamento” (as boas obras) dos filhos e filhas de Deus: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas, sim, para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mateus 5, 14-16). Interessante notar no texto que mais uma vez Jesus usa a palavra “céus” para designar os lugares onde o Pai está, isto é, no Céu empíreo e em todos os lugares onde é adorado, amado e obedecido, inclusive nos corações humanos.

Que maravilha pensar que quando rezamos o Pai Nosso, desejamos que o Nome Santo de Deus seja santificado no modo de viver de seus filhos e filhas! Que lindo, meu Deus! Imagino o amor e o fervor de Jesus no momento que rezou essa parte do Pai Nosso! Como Ele deve ter ardentemente desejado que o bom Nome de Deus fosse santificado em toda a terra, em cada continente, em cada nação ou povo, bem como nos corações de cada filho e filha de Deus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13, 35).

Podemos deduzir de tudo isso que comentamos que desejar que o Nome do Pai seja santificado é desejar “tudo de bom” para Deus. É desejar que esse Nome seja buscado, conhecido, acolhido, respeitado, venerado, adorado, amado, obedecido, honrado e glorificado. Santificar o Nome de Deus é tudo isso! Assim como os serafins que clamam sem cessar: “Santo, Santo, Santo”, quem verdadeiramente ama a Deus, cumprindo Sua Santa Vontade, com seu modo de viver e exemplo de sua vida clama sem cessar: “Santo, Santo, Santo sois Vós, meu Deus! Não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim (cf. em Gálatas 2,20)! Tudo é vosso, meu Deus! Eu não sou nada! Eu não sou nada! Toda honra, toda glória, poder e majestade vos pertencem, Senhor nosso Deus” (cf. em Apocalipse 4,11)!


VENHA A NÓS O VOSSO REINO

Tenho uma tia que sempre considerou essa parte do Pai Nosso uma das mais importantes de toda a oração. Argumenta ela que neste pedido está contido tudo, isto é, a síntese de tudo que poderíamos supor ou imaginar pedir de bom e de útil às nossas almas e para as nossas vidas. Ela tem razão. Diz-me também que quase ninguém pensa na importância, mérito ou valor dessas palavras e que elas, durante a prece, passam quase despercebidas. Mais uma vez ela tem razão. Será que realmente intuímos no que dizemos ao pedir: “venha a nós o vosso Reino”?

Os santos evangelhos diversas vezes falam no Reino de Deus. Jesus veio trazer à terra o Reino de seu Pai. Que significa isso? Todas as vezes que pensamos em “reino” ou “reinos” logo imaginamos aqueles reinos das histórias infantis, com castelos, terras, com reis, rainhas, príncipes, princesas, cavalheiros, súditos, etc. Nossa noção de reino é muito “materializada” e muito “humanizada”. Somos muito parecidos com são Tomé: só cremos no que vemos. Para muita gente é difícil crer em Deus ou em sua ação e influência no mundo, visto que não O vemos com os olhos da carne e, aparentemente, parece que Ele nos entregou à nossa própria sorte. “Onde está o teu Deus”?, dizem.

Pilatos, durante o julgamento de Jesus, perguntou: “Tu és rei”? Realmente, como crer que aquele homem simples, vestindo uma túnica de linho e preso pelos sacerdotes e fariseus, era o Rei dos judeus, do mundo e de todo o universo? Como crer que o Reino de Deus existe se pouco vemos essa “presença” misteriosa de Deus no mundo?

Jesus utilizou-se de varias comparações quando falou do Reino. Comparou-o a um pequeno “grão de mostarda”, a um “semeador” que semeia em terrenos diversos, ao “fermento” que faz a “massa de trigo” crescer, a uma “pérola preciosa” que um homem acha no campo, falou diversas vezes que ele estava “próximo”, e, mais ainda, que estava “no meio deles”.

Nosso Deus, apesar de toda a sua infinita majestade é muito simples. Seu modo de agir, na maioria das vezes, é feito no silêncio, na simplicidade do dia a dia. Deus não gosta de alardes, não gosta de “espetáculos” e nem quer “aparecer”. Jesus levou uma vida muito simples quando esteve na terra. Nasceu pobre em uma gruta de Belém, esteve incógnito no Egito, foi um menino simples de Nazaré, trabalhava na oficina de carpintaria de seu pai nutrício São José, compareceu ao batismo de São João Batista como todos os outros, foi pregador itinerante, fazendo todos os percursos a pé, como o fazem os pobres, muitas vezes pedia segredo quando curava alguém, fugia para lugares desertos, frequentava as vilas pobres, comia com os pecadores, abraçava as crianças, isto é, nada que um “rei mundano” faria.

Meu reino não é deste mundo. Meu reino não é daqui”, respondeu a Pilatos. Claro que o “pobre governador” não entendeu nada e considerou Jesus um louco. Como estava longe da compreensão do Reino! O pensamento mundano cega a compreensão do Reino. Quem pensa como o mundo pensa (portanto, como satanás pensa) jamais consegue compreender o que é o Reino e onde ele está. Caminha às cegas, às escuras, totalmente obscurecido por uma “realidade” que ele julga compreender. Realmente esses “cegos na fé” são os que mais acham que veem ou entendem alguma coisa. Acham-se “sábios” e “entendidos” para as coisas do mundo. Eles tem os que creem como tolos ou iludidos, como pessoas dignas de pena. Coitados! Eles é que são dignos de pena, pois são verdadeiramente cegos e caminham para a perdição eterna! Não buscam a verdade. Antes, a aborrecem ou, mesmo, a odeiam. Como são dignos de nossa pena! Vivem na mentira e a mentira os atordoa e ilude.

Para tentarmos ao menos entender um pouco desse Reino, necessário se faz que ao menos queiramos saber a verdade. Nem todos gostam da verdade. A verdade dói. A verdade incomoda. A verdade denuncia. A verdade vem para mudar nossa vida, nosso modo de pensar e de agir. Por que isso? Porque geralmente vivemos na mentira, enganamo-nos a nós mesmos, vivemos em nosso “mundinho”, em nossos “reinozinhos”, sendo nossos próprios “reis” e “rainhas”. Muitas vezes somos iguais a Herodes: temos pavor do reinado de Jesus, o Menino de Belém. Temos medo de que Ele nos destrone, que acabe com nossa autossuficiência e com os “reinos” que tão dedicadamente construímos ao nosso redor.

Meu reino não é deste mundo. Meu reino não é daqui! Brada a cada um de nós o Cristo do Pai. Sim! O Reino é dos Céus. O Reino é do Pai. Ele é o Rei, juntamente com a Pessoa do Filho e a do Espírito Santo. Para compreendermos esse Reino, antes de tudo, temos que querer conhecer a verdade, e, a Verdade é Jesus. Foi Jesus quem veio nos trazer esse Reino. Jesus é o próprio Reino!  

E o que é o Reino de Deus? O Reino de Deus é a presença de Deus no mundo, nos povos, nas famílias e em cada coração. Jesus veio trazer o Reino ao mundo porque Ele próprio é a perfeita realização desse Reino: Jesus é o Emanuel, o Deus Conosco. Se permitirmos que Deus seja o centro de nossas vidas, o Reino de Deus estará no meio de nós. Se permitirmos que Ele seja o Rei de nossos corações, todo o seu Reino O acompanhará e se estabelecerá em nossas vidas.

Para que esse Reino aconteça temos que desejar, buscar, acolher e viver a verdade. Essa verdade é o próprio Cristo Jesus. Mas, será que temos o mesmo coração que Pilatos? Na entrevista que teve com Jesus, no momento de seu injusto julgamento, perguntou ao Senhor: “o que é a verdade”? Jesus ficou calado. Adiantava dizer àquele homem de coração corrompido e mundano que a Verdade era Ele mesmo? Jamais entenderia.

Desejar e pedir ao Pai que o seu Reino venha a nós é desejar tudo que está escrito nos Santos Evangelhos:

·        Aceitar Jesus como nosso Senhor e Salvador.

·        Arrepender-se dos pecados e buscar a conversão.

·        Desejar ser santo, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

·        Levar uma vida evangélica conforme o espírito das bem-aventuranças que Cristo ensinou.

·        Renunciar a si mesmo e levando a cruz cotidiana com paciência e amor.

·        Ser um bom cristão católico, buscando com frequência e amor os santos sacramentos.

·        Frequentar e praticar piedosamente a Sagrada Liturgia.

·        Participar ativamente do discipulado e apostolado de Cristo, sendo “sal da terra” e “luz do mundo” em nossa família, no trabalho, na escola, no lazer e na paróquia e/ou diocese à qual pertencemos.

Tudo isso é “Reino de Deus” em nossas vidas. Será que realmente desejamos e pedimos isso quando rezamos o Pai Nosso?
Giovani Carvalho Mendes, ocds

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