quarta-feira, 9 de maio de 2012

Palestra de Savério Cannistrà.

Palestra de Savério Cannistrà - Pe. Geral dos Carmelitas no IV Congresso Ibérico de Carmelitas Seculares realizado em Ávila de 28 a 01 de maio de 2012.



Os carmelitas seculares partilham com os religiosos o mesmo carisma, vivendo cada um conforme seu próprio estado de vida. Como se pode entender esta pertença comum à mesma Ordem?
Ainda continuamos buscando uma resposta: não podemos pensar que tudo se resolve tornando religiosos os leigos ou secularizando a vocação dos religiosos.
O único modo correto de compreender a relação é definir claramente ambas as condições e respeitar as diferenças.
O religioso: professa publicamente os votos (nas mãos do Superior legítimo), vive fraternalmente em comum e em desapego do mundo. Estes elementos não são próprios do estado laical, por isso não podemos confundir, por exemplo, votos e promessas ou vida em comum de um religioso e a pertença a uma fraternidade Secular ou, por último, o desapego do mundo de um religioso e o “não ser do mundo” do leigo.
O estado de vida laical quase sempre é definido de forma negativa: “os leigos não são religiosos”. Para darmos uma resposta correta é necessário revelar aspectos positivos.
Leigo: um termo que pertence à linguagem eclesiástica. Expressa participação e corresponsabilidade na única realidade do povo de Deus. Só depois, a partir do século IV ou V se vai insistir na diferença entre leigo e hierarquia e leigo passa a significar “não sacerdote”. No século XIX a noção de leigo assume outro significado: “tudo o que faz parte da esfera civil”, reconhecida como independente e neutra a respeito de qualquer religião ou culto. Agora já se faz necessário acrescentar ao leigo o adjetivo “cristãos”.
LG 31: “O caráter secular é próprio e peculiar dos leigos pela própria vocação. Tratar de obter o reino de Deus trabalhando os assuntos temporais e ordenando-os segundo Deus. Vivem no mundo, isto é, em todos e em cada um dos deveres e ocupações do mundo”. Contribuem à salvação do mundo nele inseridos, como fermento.
CL 15: Ainda existe uma certa resistência em pensar a secularidade, o mundo, como um lugar de presença do Espírito. Pensamos como realidade negativa, contrária ao cristianismo, e portanto é difícil definir o status do leigo cristão. Porém, para CL, como para o Concílio, o mundo em sua realidade concreta, com suas situações e trabalhos, é o instrumento do qual se serve a graça de Deus para a salvação dos fieis leigos.
O mundo é parte da própria humanidade (LG 48 ).
Quem é o leigo carmelita?
CIC 303: As associações onde os membros levam uma vida apostólica e tendem à perfeição cristã participando no mundo do carisma de um Instituto sob a supervisão deste Instituto recebem o nome de Ordens Terceiras ou outro adequado...
Uma Ordem secular se caracteriza, portanto: pela busca da perfeição cristã e a prática da vida apostólica participando do carisma específico de um Instituto.
O leigo carmelita é uma pessoa que busca a santidade (a plenitude de sua vocação batismal) e coloca toda sua vida ao serviço de Cristo e do Evangelho através do apostolado, sem modificar seu modo de estar no mundo. Está presente em todas as dimensões da existência e as vivem em profundidade evangelizando-as em sua própria pessoa, isto é, unido-as a Cristo, do qual é membro. O Batizado não se converte só em cristão, mas em Cristo mesmo (Santo Agostinho).
Isso significa uma grande riqueza não só para a pessoa, mas também para a Ordem, que pode assim mostrar a potência e capacidade de seu carisma. Que grande e maravilhosa é a missão do Carmelita Secular! Fazer que a realidade da vida de cada dia ( amizade, trabalho, ação política) se revele como espaço em que o Reino de Deus já vem, de fato chegou e está entre nós.
As Ordens Seculares não devem reduzir-se a modelos imitativos da vida religiosa. Por exemplo, as promessas ou votos não se contemplam no Direito como algo característico, essencial para definir o leigo cristão. É difícil expressar a consagração do leigo e por isso se toma o modelo religioso.
O compromisso definitivo é seguir a Cristo, viver em seu obséquio no meio do mundo e conforme o espírito do Carmelo teresiano. Ressalta dois aspetos:
O Carisma de Teresa nasce e se define como resposta ao descobrimento do amor de Deus feito homem, que a ama como ela é, sem condições nem reservas. Por isso seu nome será “de Jesus”.
No Carmelo todos nós estamos por Jesus. Ele nos tocou misteriosamente e nos faz saber, mesmo ainda não entendendo, que olhou para nós. Conhecida esta verdade, não há possibilidade de “livrar-nos de sua companhia” (cf. C 26 )
Tudo o que fizermos, sempre em companhia de Jesus, dando graças através dele ao Pai (cf. Col.) e isso não é uma atitude sentimental ou só sentimental ou afetiva, mas sim um exercício de fé, de vida teologal, que só é possível quando se nutre constantemente da oração como dialogo de amizade com o Senhor, e se alimenta com a escuta da Palavra de Deus.
O Carisma de Teresa nos coloca a serviço dos outros.
Para os amigos de Jesus não tem sentido viver se não é viver para os outros. A vida de oração não nos fecha em nós mesmos, mas nos joga aos outros com uma sensibilidade e uma generosidade novas. E isso se converte no único sinal visível de que nos encontramos com o Senhor e não com nós mesmos.
Estas características podem se reproduzir nos diversos modos de vida.
O Carisma é rico, mas também exigente, ocupa espaços de nossa vida e os integra. Quem se decide por esta vocação com determinada determinação vai descobrir que não se pertence, que não pode reservar-se para si e que, ao mesmo tempo, possui tudo. O essencial é viver uma vida no Espírito que se acende em nós e nos chama à luz, obrando e transformando nossa realidade.
A formação. O cuidado da vocação.
É algo inseparável da comunidade em que a vocação ao Carmelo nos insere. Por exemplo em V 7,22, Teresa nos chamará a “fazer-nos escudos uns aos outros para ir adiante; buscar companhia para defender-se; se não, vão se ver em muito aperto. A caridade aumenta ao ser transmitida”.
Nas Constituições da Ordem Secular parece que não se desenvolveu suficientemente este importante aspecto do Carisma, apesar do que foi dito no n° 40 das mesmas. O tema comunitário parecer reduzir-se a questões de administração ou de governo.
Teresa quis formar comunidades orantes. O amor de umas para com as outras, por exemplo, será a primeira condição para poder começar um caminho de oração. Na solidão e sozinhos é fácil se equivocar, confundir o Deus vivo e verdadeiro com nossas imagens e ídolos ou a Espiritualidade com o espiritualismo. Somente confrontando-me com o outro, relacionando-me com ele, descubro minha verdade mais profunda, que não aparece simplesmente se me e olho no espelho. É aquela que se manifesta com evidência cristalina quando me relaciono com a irmã ou irmão que está a meu lado.
Não quero identificar a comunidade da Ordem Secular com uma comunidade religiosa. A comunidade da Ordem Secular tem características e finalidades diversas: o que a une não é uma interação constante entre seus membros, mas o fato de caminhar juntos ou, melhor, na mesma direção, compartilhando objetivos e finalidades cada um na sua situação concreta na qual se encontra.
Devemos fazer das Comunidades Seculares lugares de intercâmbio e de autêntica revisão de vida. Assim serão atraentes, porque hoje mais do que nunca se sente a necessidade de favorecer o encontro e o discernimento, em uma sociedade que tende à dispersão e à distração. Vai exigir um trabalho e um compromisso não isento de riscos.
Crescer na confiança e no conhecimento recíproco, criar um ambiente no qual possamos nos expressar sem medo de sermos mal interpretados ou traídos. É este o caminho de vossas comunidades?
A leitura teresiana que estamos realizando nos permite perceber como Teresa nos convida a uma maior coragem diante de nossas dúvidas e temores. Convida-nos a percorrer até o final o caminho que ela mesma nos indica. Porém não temos nada que temer porque o que ama de verdade a Deus, com certeza vai por um caminho amplo e real, longe de precipícios, sem tropeços, pelo vale da humildade. O que tememos para não nos colocarmos no Caminho da Perfeição? A verdadeira segurança está em ir adiantado no caminho de Deus: os olhos Nele e sem medo (Santa Teresa)
Estas palavras nascem de uma vida trabalhada e sofrida, mas também trabalhada e plenamente feliz. Estamos chamados a estar a sua altura, e para isso é preciso que não nos cansemos de examinar-nos. Para isso fomos chamados.

Tradução: Frei Xavier Yudego Marin, OCD
Postado por rose Lemos piotto no OCDS - PROVÍNCIA SÃO JOSÉ em 5/09/2012 03:39:00 PM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.