“Um só coração e uma só alma!”
“A multidão dos fiéis que haviam crido em Jesus era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum”. (Atos 4,32)
Não somos nós a herança dos Apóstolos, a mesma multidão dos fiéis que acreditaram em Jesus como nos diz o evangelista e médico Lucas ao escrever o Ato dos Apóstolos? Se somos esse povo e essa Igreja por que não mais vivemos em um só coração e em uma só alma? Por que essa realidade não existe em nossa comunidade ou pastoral? E se existe por que não é tão forte a ponto de ser nossa identidade característica? São questionamentos tão profundos de nós mesmos quanto nossa profunda intimidade interior.
O Ato dos Apóstolos foi escrito por Lucas, o mesmo que escreveu um dos evangelhos, entre o ano 65 e 70 d.C e tem por conteúdo primordial narrar as situações vividas pelos primeiros cristãos e as Igrejas nascentes, cristãos esses que proviam de vários lugares diferentes e falavam cada um sua própria língua (Atos 2,1-11) e que apesar de todas essas dificuldades, e justificáveis, viviam numa unidade e vida comunitária tão perfeita a ponto de terem um só coração e uma só alma. E nós, por que ainda não vivemos esta virtude se somos tão próximos, vizinhos, falando a mesma língua, somos de uma mesma paróquia e buscamos o mesmo objetivo? Por que, às vezes, fazemos questão de ser diferentes das primeiras comunidades cristãs? É claro e visível que vários fatores implicam sobre nossas comunidades, porém ainda comungamos da mesma fé e doutrina; em meio ao mundo atual somos o mesmo Corpo Imaculado e Místico de Cristo.
Como ser Igreja se não somos um Corpo, como ser um Corpo se nossos membros não vivem em harmonia uns com os outros, como ser uma comunidade se não nos amamos, como nos amar se não nos conhecemos, como nos conhecer se não temos encontros para, exclusivamente, esse fim, como nos encontrar se não tomamos iniciativa? Tudo isso é importante, mas lembremos que é em Deus, pela oração, que nos encontramos plenamente, quando todos nós estivermos unidos pela oração então nossa união será perfeita e inseparável.
Duas colunas sustentam qualquer comunidade eclesiástica: a UNIÃO e o AMOR. Toda comunidade para que tenha fecundidade em seus trabalhos evangelizadores precisa viver COM/UNIDADE (daí o nome “COMUNIDADE”) entre os seus membros, todos devem ter os mesmos interesses em conquistar os mesmo objetivos. Lutar juntos, rezar juntos, sofrer juntos, vencer juntos, enfim, serem todos um só coração e uma só alma a exemplo dos primeiros cristãos a quem tudo entre eles era comum, principalmente o que possuíam de material.
Como viver, queridos irmãos, uma unidade tão perfeita como essa?! “A união faz a força!” ou como diz Padre Léo: “A união faz açúcar!”, portanto, que tamanho tem a nossa força, força firme de caminhar, de perseverar e ser fiel? Em primeiro lugar devemos perguntar como está a nossa unidade, pois a força não é senão conseqüência da unidade.
A Igreja de Jesus é comparada com um Corpo (I Cor 12,12-30), este não é formado por um só membro senão por inumeráveis e cada órgão fazendo a sua própria função em UNIDADE harmoniosa com os demais faz com que o Corpo, por ele composto, viva saudável. Que aconteceria com o Corpo se seus órgãos funcionassem como se não necessitassem dos outros? Como seria um corpo se seus membros não trabalhassem unidos, mas visando o seu próprio interesse individualista? Não somos nós membros vivos de um Vivo e Místico Corpo que é a Igreja? Façamos com que esse Corpo viva saudável e por muitos anos, para que isso aconteça devemos nos unir. A Igreja só é Igreja hoje, depois de 1975 anos de caminhada, porque sempre viveu em um só coração e em uma só alma, ou seja, na união pelo mistério da Comunhão dos Santos que professamos no Credo Católico. A união não só faz força ou açúcar como faz com que seja eterno e inabalável o alicerce de uma Igreja e é dessa Igreja que somos membros, de uma Comunidade Cristã fundada sobre PEDRA FIRME, cujas colunas são os Apóstolos, o chão regado com sangue dos mártires, ornada de pedras preciosas (Santos e Doutores), protegida pelos Santos Anjos e por Maria sua mãe, alimentada pela Eucaristia que é o próprio e vivo Corpo de Jesus Imolado na Santa Missa, banhada com o sangue Redentor do Cordeiro e marcada pelo selo eterno da UNIDADE.
A segunda e grande coluna que juntamente com os apóstolos sustenta a Igreja é o AMOR. “Eis o que Ele nos pede: o AMOR que não olha mais para si, porém, deixando-se a si mesmo, eleva-se acima dos sentimentos e das impressões, o AMOR que se dá, se sacrifica, o AMOR que estabelece a UNIDADE.” (Beata Elisabete da Trindade). O Amor resume os mandamentos: “Eis que Eu vos dou um novo mandamento, amai uns aos outros como a vós mesmos”, disse Jesus (Jo 15,12), o amor impulsiona Jesus a descer do Pai, passar pela humilhação do ser homem e depois de morrer ignominiosamente no madeiro da cruz no trágico evento do Calvário (Jo 3,16). O amor é o próprio DEUS (I Jo 4,8).
O amor e a união são laços sagrados que devem sempre estar entrelaçados. Deus é um só, porém, Nele se encontra Três Pessoas Divinas, a unidade caracteriza Deus e Deus é Amor. Imaginem se Deus não fosse unido, não havia um só Deus e Este não seria Santo, portanto não seria bem e, por sua vez, não seria amor. Se Deus não fosse amor não seria Ele mesmo, negaria a Si próprio, pois o Pai é o que ama, o Filho é o amado e o Espírito é o amor que os une. Deus é união, Deus é amor.
Jesus antes de sofrer a Paixão disse a seus discípulos: “Amai-vos uns aos outros, pois se amar-vos uns aos outros todos saberão que sois meus discípulos” (Jo 15,14). O Amor mútuo e fraterno é a característica do discípulo do Senhor, aquele que tem problema para amar o seu irmão não pode ter com ele uma saudável convivência fraterna. O Amor faz com que as almas se fundam e se tornem uma só, um só coração e uma só alma. O Amor nos faz ser Igreja, pois nos une plenamente numa fraternidade sobrenatural, numa comunidade espiritual e divina. “Não se pode amar a Deus que não se vê se não se ama o irmão que se vê” (I Jo 4,20). Palavras sábias e cheias de unção são essas de João. O Amor de Deus nos atrai fazendo-nos corresponder com atos de amor, porém é amando o próximo que provamos a Deus que O amamos. É realmente impossível dizermos que amamos a Deus que não vemos se não somos capazes de amar o próximo que muitas vezes está bem próximo de nós, nas nossas casas.
Por fim, vivamos a união e o amor para que estes sejam tão nossos que nos identifiquem como Comunidade Católica. Que a Santíssima Virgem tão unida a Deus e os seus mandamentos soube acolher em si a Palavra Encarnada sustentando com amor o seu faça-se nos momentos mais difíceis nos ensine a vivermos pela unidade e pelo amor mútuo a fim de chegarmos a ter UM SÓ CORAÇÃO E UMA SÓ ALMA como as primeiras comunidades cristãs. Que ela nos faça santos assim como Deus é Santo (Lv 11,14; IPd 1,15) para trabalharmos dignamente no Reino de Seu Filho Jesus.
“Estando intimamente penetrada pela Palavra de Deus, Maria pôde chegar a ser Mãe da Palavra Encarnada” (Documento de Aparecida 271)
Com amor fraterno,
“O Anjo de vossa guarda!”
ARTUR VIANA DO NASCIMENTO NETO, ocds
Comunidade Rainha do Carmelo
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