Determinou Deus,
em seus eternos desígnios, elevar o homem acima da sua natureza, fazendo-o
viver da própria vida divina, de seu Amor Uno e Trino e da própria felicidade
eterna do Paraíso, participando de todos os seus atributos. Tudo o que Ele tem
por essência, quis que o tivéssemos nós por participação e, por isso,
gratuitamente, em atenção aos merecimentos da Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, elevou-nos à ordem
sobrenatural, ordenando-nos com a Graça santificante.
Perdida esta
graça com o pecado dos nossos primeiros pais Adão e Eva, que a deviam comunicar
aos seus filhos, se tivessem sido fiéis, é-nos restituída outra vez, com estado
habitual, pelo Sacramento do Batismo. “Ninguém
pode entrar no Reino dos Céus se não renascer por meio da água e do Espírito
Santo” (João 3, 1-16).
A graça
santificante é, pois, um dom sobrenatural, interior e permanente que Deus nos
concede por Jesus Cristo, para nossa salvação. É dom interior, porque é dado à
alma; é permanente, porque fica nesta, enquanto não peca mortalmente. É-nos
dada por Cristo, porque, depois da queda de Adão, todas as graças nos são
concedidas pelos méritos de Jesus, Verbo Encarnado.
A Graça
santificante é a maior riqueza que se pode ter: “Eu preferi-a aos reinos e aos tronos... ao lado dela o ouro do mundo é
só areia e a prata apenas lama. É um tesouro para os homens” (Livro da
Sabedoria 7, 8-9). A Graça santificante é aquele “é aquele tesouro de raro valor que o homem que o achou no campo, foi
vender tudo quanto tinha para o comprar” (Mateus 13). “É a veste nupcial de raro brilho e absolutamente necessária: o que a
não tiver no momento da morte será lançado atado de mãos e pés no inferno onde
haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 22, 12). “A Graça santificante torna-nos, de simples criaturas de Deus, em seus
filhos e de Maria Santíssima, irmãos dos Anjos e dos Santos e herdeiros do Céu,
membros de Jesus, nossa Divina Cabeça, e de tal modo, que aos que dela vivem
Ele lhes chama irmãos (Hebreus 2, 11),
pois vivemos da sua própria Vida por participação: ‘Jesus é o Primogênito entre
muitos irmãos’” (Romanos 8, 29).
O Senhor revelou
a Santa Catarina de Sena que se ela no mundo visse uma alma em estado de graça,
morreria de alegria.
“Se eu falar todas as línguas dos homens e dos
anjos, e não tiver a Graça (a caridade sobrenatural), sou como um bronze que soa e o címbalo que retine; se tiver os dons
da profecia e o conhecimento de todos os mistérios e de todas as ciências, se
tiver fé capaz de transportar montanhas e não tiver a Graça, nada sou” (I
Cor 13, 1-2).
Estando em
Graça, Deus vê sempre em mim um (a) filho (a), integrado no seu Cristo. “Eu sou a videira, diz Jesus, vós os sarmentos. Aquele que permanece em
Mim, e eu nele, produz muitos frutos. Separados de mim, nada podeis fazer”
(João 15, 5). A alma em graça é templo da Santíssima Trindade: “se alguém me ama, meu Pai o amará e nós
viremos a ele e estabeleceremos nele a nossa morada” (João 14, 23).
A Graça
santificante mantêm-se e aumenta-se pelos sacramentos, pelas boas obras e pela
oração, que nos fazem praticar as virtudes sobrenaturais, penhores da Glória
eterna.
Quem está em
graça, traz consigo Aquele que tudo substitui e a quem nada pode substituir.
Deus, Maria Santíssima, os Anjos e os Santos amam com complacência todo aquele
que vive em graça.
Se tivermos a
desgraça de pecar mortalmente, façamos logo um ato de contrição perfeita que é
a dor de ter ofendido a Deus, porque entregou o seu Filho Jesus ao sofrimento e
á morte da cruz para nos salvar.
Rezemos o ato de
contrição perfeita que vem no nosso catecismo ou outro resumido, por exemplo: “Meu Deus, amo-Vos! Perdão, misericórdia”!
Este ato de
contrição com o voto, ao menos implícito, da confissão ao sacerdote, põe-nos na
graça de Deus. Se bem que os moralistas digam que esta obrigação de nos confessarmos
pode demorar-se até à próxima confissão pascal, procuremos, no entanto, para
maior consolo e benefício da alma, recorrer ao Sacramento da Penitência o mais
depressa possível. Mas, para a comunhão e para a recepção dos sacramentos
chamados de “vivos”, não basta a contrição perfeita, com o voto da confissão: precisamos
recorrer ao Sacramento da Penitência. Quem estiver em pecado mortal, isto é,
sem a Graça santificante, os atos mais extraordinários de bondade nada merecem
para o Céu, embora, por Misericórdia do Senhor, nos facilitem a obtenção da Sua
graça. Quem está em graça, tudo o que faz, ainda os atos mais banais, porque
são atos de um filho de Deus, membro de Jesus Cristo, nos aumentam a graça e a
correspondente glória eterna.
Procuremos
sempre viver na Graça Divina para nos salvarmos eternamente e para que todos os
atos da nossa vida, à exceção do pecado mortal ou venial, possam ter um aumento
de graça e de glória eterna. “Quer
comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a maior
honra e glória de Deus” (I Cor 10, 31).
São Roberto
Berlamino, doutor da Igreja, dizia: “Daria
de boa mente toda a ciência que possuo e a glória do cardinalato por um só grau
a mais de Graça santificante”. O grande teólogo Suarez igualmente daria
toda sua ciência em troca do aumento de Graça santificante que se adquire
rezando uma Ave Maria.
Quebrai os
chifres do demônio, dizia São João Bosco, com os dois martelos da confissão e
da comunhão. “Dai-me bons confessores e
eu vos darei a Igreja reformada”, dizia São Pio V. “Prefiro ajudar a salvar uma alma que entrar em êxtase o fazer qualquer
milagre”, dizia Santa Maria Madalena de Pazzi.
Habituemo-nos a
fazer várias vezes ao dia, sobretudo à noite, o ato de contrição perfeita que
nos perdoa os pecados veniais e nos aumenta a Graça santificante e a glória
eterna no Paraíso e nos põe na graça de Deus se tivermos a infelicidade de
pecar mortalmente. Esse é um bom meio de derrotar o inferno se a morte nos vier
surpreender. Vivamos sempre na graça de Deus. Fortaleçamo-la sempre com os
Sacramentos, com a oração e com atos de virtude já que o aumento da graça
eterna está em proporção com o aumento da graça santificante.
(artigo publicado na revista
“Cavaleiro da Imaculada”, de Porto, Portugal)