RETIRO DA
COMUNIDADE RAINHA DO CARMELO
2012
TEMA: A ORAÇÃO
DA IGREJA, segundo orientações de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)
Sábado, dia 15 de setembro, memória de Nossa Senhora das Dores
1.
PRIMEIRO
TEXTO: OS GRAUS DA ORAÇÃO
No primeiro
momento da manhã, meditamos sobre os graus da oração, tão bem descritos por
nossa santa madre Teresa de Jesus e, aqui, aprofundadas por santa Teresa
Benedita da Cruz.
I)
Oração Vocal
a.
Rezar
em cima de textos: Pai Nosso, Ave Maria, Santo Rosário, Liturgia das Horas.
Apesar de rezadas vocalmente, o coração tem que acompanhar tais preces, pois,
senão, tornam-se vazias e sem sentido em si.
II)
Meditação
a. Fazer
com que o pensamento se aprofunde nas verdades eternas meditadas.
b. Dar
“asas à imaginação”, fazendo com que nos venham à mente as “imagens” das
principais passagens da vida e dos mistérios de Cristo e de sua Mãe Santíssima.
c. Pensar
na vida de Cristo, em sua Encarnação, Natividade, Vidas Doméstica e Pública, em
sua Paixão, Morte e Ressurreição, etc.
a. Neste
grau de oração, é o Espírito de Deus quem toma a alma em suas mãos, tomando-lhe
as potências da mente, da alma e até mesmo do corpo.
b. A
alma se sente inundada por Deus, por sua presença.
c. Neste
grau de oração podem ocorrer os êxtases e visões, que não refletem a santidade
da alma, mas, que podem ser “presentes” ou “mimos” de Deus preparando a alma
para futuras provações, tribulações ou tentações.
d. Os
santos e todos aqueles destinados a grandes missões dentro da Igreja, muitas
vezes recebem de Deus a Oração de Quietude.
IV)
Matrimônio Espiritual
a. Neste
grau, cessam-se as manifestações extraordinárias, mas, a alma já é plenamente
de Deus, está unida a Ele indivisível união.
b. Goza
da sua constante presença mesmo no meio das atividades exteriores, que em nada
lhe impedem a união.
Após o primeiro
momento, o grupo foi dividido em subgrupos de duas pessoas que partilharam suas
experiências, dificuldades e alegrias em sua vida de oração e em suas vidas pessoais
onde a oração está presente.
ü
É
em nossa fraqueza que se manifesta a fortaleza de Deus.
ü
A
oração é algo que precisa ser aprofundado em nossa vida.
ü
A
oração é esse momento de amor com Deus, que se traduz em vida, em gestos
concretos, em nossa ação na convivência com os irmãos e irmãs.
ü
A
oração se torna ilusão, quando a mesma não se traduz em gestos concretos.
ü
Não
desistir nunca da oração, mesmo com todas as dificuldades que vão surgindo:
distrações, problemas cotidianos (pessoais, na família e no trabalho), falta de
saúde, etc..
ü
Jesus
é nosso Mestre na oração. Deixemo-nos guiar por Ele.
ü
Será
que estamos realmente vivemos esse trato de amizade mesmo, de intimidade, de
simplicidade, com Deus?
ü
Nosso
orgulho e nossa autossuficiência atrapalham muito essa relação de intimidade
com Deus.
ü
Deus
é uma Pessoa real, que está presente em nossas vidas, nos vendo, nos ouvindo,
participando de nossa vida. Temos consciência disso?
ü
Podemos
encontrar a presença de Deus na natureza, na contemplação das criaturas do
Senhor: o sol, o mar, as plantas, as árvores, as flores, os animais, etc. Tudo
nos fala de Deus Criador, de sua bondade, sabedoria e beleza.
ü
Eu
vivo a minha oração como uma verdadeira amizade com Deus? Será que Ele para mim
não está meio longínquo, meio distante? Será que não desconfiamos de Deus?
ü
Será
que não nos “encabulamos” diante de Deus, pois, sabemos que Ele é amigo, mas,
ao mesmo tempo, uma “autoridade”. Será que não O tememos mais do que O amamos?
ü
Não
há outro Caminho, outra Verdade e nem outra Vida, somente Jesus. Será que
sabemos e vivemos realmente isso? Há uma grande distância entre o que “sabemos”
ou “compreendemos” (em nossa mente, em nosso raciocínio) e o que sentimos e
vivemos em nosso coração.
ü
Sejamos
simples, a exemplo de Santa Teresinha, vivendo nossa pequenez e nossa total
incapacidade diante de um Deus maravilhoso e bom que nos acolhe e entende as
nossas fraquezas.
ü
A
certeza que Deus nos ama nos faz recomeçar sempre, apesar de nossas fraquezas e
até mesmo de nossas quedas. Olhar para Ele, confiar em seu amparo, que Ele está
presente mesmo nos momentos nos quais não O sentimos.
ü
Para
que nosso amor seja verdadeiro, e nossa amizade duradoura, temos que buscar
meios de fortalecer esse amor e essa amizade com Deus. Através das leituras
espirituais podemos reforçar, no fortalecimento da fé, esse amor com Deus.
ü
Nos
momentos onde estamos de “lua de mel” com Deus, fica fácil ficar várias horas
em oração contemplativa, mas, nos momentos de aridez, podemos ficar o dia
inteiro repetindo jaculatórias em sinal de fidelidade a Deus e perseverança no
caminho de Deus.
ü
Nossa
oração deve nos levar à partilha fraterna com o outro. Podemos levar aos irmãos
o nosso amor e partilhar com eles o quanto amamos ao nosso Deus.
ü
A
simplicidade é uma porta larga que nos une a Deus. Quando somos simples diante
de Deus, tudo se torna mais fácil e claro. Sua vontade, mesmo nos momentos
difíceis, se torna cristalina. Nosso orgulho e desconfiança, “embaçam” nossa
visão de Deus.
ü
O
orgulho, como aconteceu com Adão e Eva, faz com que nos escondamos de Deus,
que tenhamos medo dEle, que não aceitemos sua vontade e nos leva facilmente à
revolta.
ü
Devemos
agradecer a Deus a beleza de cada momento em nossa vida. Agradeçamos a cada
manhã por estarmos vivos, pelo dia ter nascido, pelos pássaros estarem
cantando, pelo sol que nasceu, em fim, devemos ver em todos os momentos a
presença de Deus.
ü
Todos
os dias devemos nos alimentar com Palavra de Deus. Busquemos, busquemos
diariamente nos alimentar com a Palavra de Deus para não termos fraqueza
espiritual.
ü
Muitos
dos irmãos contaram pequenos detalhes na infância nos quais Deus se manifestou.
Essas lembranças ainda hoje alimentam a nossa fé.
ü
O
que nos ocorreu na infância nos marca para sempre, ainda hoje nos emociona, nos
alenta e acalenta, nos faz lembrar que devemos ser criancinhas perante nosso
Deus.
2.
SEGUNDO
TEXTO: DIÁLOGO SOLITÁRIO COM DEUS.
Edith Stein era
judia. Mesmo convertida ao catolicismo e batizada, ela mantinha suas raízes no
judaísmo.
Jesus, como
judeu, participava das festas e tradições de seu povo. Celebrava a ação de Deus
na história do povo de Israel.
Rezar, ir ao
culto com a família, celebrar festas e momentos litúrgicos com sua comunidade,
não é estranho para o povo judeu, muito pelo contrário. Isso fazia parte da
tradição judaica. A Igreja, fiel à suas origens, mantém a mesma tradição.
Somos pedras
vivas, edificadas sob o fundamento de Cristo e dos apóstolos. Continuamos o
culto divino, como Igreja.
Nada nos
pertence. Nem a nossa vida, nem o nosso tempo, nem nada que temos, realmente
nos pertence. Somos administradores de tudo isso. Nós costumamos em pedir a
benção a Deus. A benção, para os judeus, não é algo que Deus nos dá, mas, algo
que damos a Deus. Nós é que bendizemos a Deus por suas graças e dons que nos
confiou em sua generosidade.
Temos que dar
graças, reconhecer a bondade de Deus, sua benignidade em nos conceder tudo que
somos e que temos.
Quando oramos,
quando celebramos a Deus, declaramos que não somos escravos, mas, livres filhos
de Deus, cujas vidas pertencem somente a Ele.
Quando não
encontramos tempo para orar, por menor que ele seja, será que não estamos
escravos de nós mesmos, de nosso tempo? Será que realmente descobrimos o
significado de Deus em nossa vida? Será que Ele é o Senhor de nossa vida, de
nossa história? Será que somos livres (somente Deus nos torna livres).
Não por
obrigação, mas, se podemos, se é possível encontrarmos o Senhor diariamente na
Eucaristia, na Santa Missa, por que não usufruirmos disso? Não que seja
obrigatória a missa diária, mas, se ela é possível, por que não usufruímos
dessa oportunidade que temos e que Deus nos dá?
Jesus
participava do culto litúrgico de seu povo. Quando celebrou a Santa Ceia,
passou a dar outro sentido a esse culto. No pão eucarístico, é Ele mesmo que se
dá pessoalmente em sacrifício.
Jesus é quem nos
dá o sentido verdadeiro de sua morte. A morte de Cristo é oferta a Deus. Um
sacrifício oferecido a Deus. Que nos é dado, para que possamos oferecer
continuamente no sacrifício da Santa Missa. A nova Liturgia Eucarística é a nova
e eterna aliança.
Jesus muitas
vezes orava solitário: à noite, no deserto, na montanha. Jesus se retirava para
orar ao Pai. Ele, como ser humano, tinha sua vida de oração pessoal, em diálogo
e colóquio na solidão. Jesus gostava de orar ao Pai. Antes de cada momento
importante na vida de Jesus, Ele orava em íntimo diálogo com o Pai.
Podemos orar com
as palavras de Jesus. Oramos nEle, com Ele, por Ele. Ele nos ensina a orar. Ele
se deu a nós. Os interesses dEle deveriam ser os nossos, assim como nossos interesses
(quando bons e sadios à nossa alma) são dEle. Devemos ter os mesmos sentimentos
de Cristo (São Paulo). Se convivêssemos mais com Cristo, certamente nos
tornaríamos muito parecidos com Ele, até chegar o ponto de “sermos confundidos”
com o próprio Cristo.
Isso não é perda
de identidade. Passaríamos a ser o melhor de nós mesmo ao estilo de Jesus.
Jesus viveria em nós, sem deixarmos de ser nós mesmos.
Nossas
peculiaridades permaneceriam, mas, mesmo assim, seríamos transformados nEle.
Jesus viveria a nossa vida em nós, Ele do nosso jeito e nós do jeito de Jesus.
Jesus, como
judeu, era leigo. Não pertencia à casta sacerdotal (os levitas). Mas, mesmo
assim, o Espírito Santo nos revela que Ele é o verdadeiro e eterno sacerdote.
Ele é o sacerdote, o altar e a vítima verdadeiros. Ele se fez tudo.
Sofrer sozinho,
é apenas sofrimento e dor. Sofrer unido a Cristo, aí esse sofrimento adquire um
novo valor: nosso sofrimento é unido ao de Cristo e passa a participar dos
méritos infinitos de Cristo.
O importante não
é grandeza da obra, mas, a grandeza do amor. Tudo que fizermos, se unirmos a
Deus, passa a ter um valor imenso, pois, está banhado pelos méritos de Cristo,
que são infinitos!
Nossa oração,
mesmo que a gente não veja, mesmo que não saibamos, ela tem grande valor, pois,
para quem ama e caminha na oração, Deus se faz presente, sensível, palpável.
Momento de deserto para meditarmos sobre essa
presença misteriosa de Deus em nossa vida e se nós correspondemos a essa
presença...
16 de setembro
de 2012, 24º Domingo do Tempo Comum.
3.
ESTUDO
DO TERCEIRO TEXTO:
Recebendo o
Corpo e Sangue de Cristo, devemos desejar que nossa natureza seja transformada
nEle.
Nossa natureza
decaída quer e busca muitas vezes à sua própria satisfação, ocupar o lugar de
Deus.
O que Adão e Eva
desejaram ser por si mesmo: serem “deuses”, nós poderemos alcançá-lo, não por
mérito nosso, mas, quando nos unimos a Deus em nossa vida interior. Isso disse
o nosso pai São João da Cruz.
O amor é doação.
O amor é dar-se a si mesmo. É entregar-se. Jesus ensinou isso pela palavra e
pelo exemplo. O mistério da cruz é este mistério de amor eterno revelado na
história humana. Jesus entregou tudo, se doou totalmente. O que Deus já vivia
desde toda a eternidade no seio da Trindade, Jesus revelou ao mundo.
A nossa oração
(a do Carmelo) tem uma característica na Igreja: a oração silenciosa, a oração
íntima, no silêncio do encontro com Deus.
Não somos beneditinos, ou franciscanos ou dominicanos. Temos nosso
próprio jeito de ser. Não significa que somos melhores ou maiores que essas
outras Ordens ou Institutos, somos diferentes. Na Igreja somos identificados
com a nossa personalidade de sermos orantes no silêncio.
Nossa natureza
decaída tem a tendência de nos autovalorizarmos, de desviar o foco de Deus. Ele
é o centro de tudo. Ele deve ser o centro de nosso louvor, de nossa oração, de
nossa meditação e de nossa contemplação.
A Palavra (o
próprio Filho), no dizer de nosso pai são João da Cruz, foi dita uma vez pela
Pessoa no Pai no silêncio da eternidade. Como pode a Palavra ser dita no
silêncio? Parece não ter lógica. Essa Palavra “dita” é o próprio Filho, que
existe no seio da Trindade desde toda a eternidade. Quando veio ao mundo, Ele
nos falou.
O silêncio na
oração “gesta” Deus em nosso coração. Deus mesmo, no silêncio, é “gerado” em
nosso interior. À medida que silenciamos, Ele cresce e se desenvolve em nós.
Tudo é dom de
Deus. O gosto ou gozo na oração é dom de Deus. Se Ele nos dá, é para nos
“cativar”, porém, Ele pode também nos tirar, não para sofrermos, mas, para
crescermos na fé, na perseverança e em seu amor.
A Virgem Maria é
modelo dos orantes no silêncio. Deus se manifestou em sua vida no silêncio. No
silêncio ela concebeu o Verbo divino em seu seio, acontecendo a Encarnação. No
silêncio da oração, o Espírito Santo vem e faz a Igreja nascer.
São Paulo,
também, no silêncio da oração ele se preparou para descobrir a resposta para o
que buscava: “Senhor, que queres que eu
faça”? No silêncio da oração, São Pedro se preparou para acolher sua missão
de evangelizar os gentios.
Vários santos e
santas, antes de grandes decisões, antes de fundações, antes de grandes
realizações na Igreja (santa Brígida, santa Catarina de Sena, santa Teresa,
santo Inácio, etc.), passaram por momentos de muita oração silenciosa, para que
pudessem conhecer qual era a vontade de Deus e encontraram força para executar
essa vontade em suas vidas e na história da Igreja.
Porém, todas
essas realizações foram feitas na humildade, no reconhecimento de nosso nada
perante Deus. Deus é quem realiza tudo. Deus é quem dá a graça, a força, a
sabedoria, a coragem e a perseverança. Quem somos nós perante Ele?
Temos que morrer
a cada dia perante o Senhor, reconhecendo que Ele é que é a vida, Ele é o
Senhor de nossa vida e de nossa história. Tudo devemos a Ele.
Seguiu-se um momento de deserto, de oração pessoal
com Jesus.
Momento de
partilha (frases partilhadas pelos irmãos):
ü
A
oração é como um adubo, que alimenta e fortalece a “árvore” da Igreja.
ü
É
importante sempre mais buscarmos o diálogo com Deus, para o bem de nossas almas
e o da Igreja. Estamos realmente vivendo pelo bem da Igreja?
ü
Jamais
nos deixemos perturbar pelas ocupações, tribulações e vicissitudes da vida.
Mesmo em nossos trabalhos diários, não podemos perder o foco de centrarmos a
nossa vida em Deus.
ü
O
objetivo de nossa vida carmelita é a contemplação. Temos que partilhar esse dom
de nossa Ordem com o mundo inteiro.
ü
Devemos
nos esforçar e sermos humildes, sabendo que tudo nos vem de Deus. Não deixemos
nos levar pela vaidade ou pelo orgulho.
ü
Nós
carmelitas não devemos nos envaidecer com os elogios. Nossa vida é serviço, é
entrega. O que fazemos pelo bem da Igreja é para o bem da Igreja, não para
alimentar a nossa própria vaidade.
ü
O
silêncio interior é o caminho mais perfeito.
ü
A
vida de oração silenciosa gera Deus em nosso interior e no mundo. Deus é
“gestado” no coração do orante, em sua vida de oração silenciosa. Este Deus
gerado deve ser dado ao mundo, à Igreja.
ü
O
mundo e a Igreja esperam muito de nós carmelitas. Somos vocacionados a
“sustentar” o mundo com nossas preces, pedir a Deus a cura de suas misérias:
injustiças, violência, guerras, egoísmo, indiferentismo, materialismo e
secularismo.
ü
Temos
que organizar a nossa vida para que nela ocorram momentos de oração pessoal com
Deus.
ü
Mesmo
em meio às nossas ocupações de seculares, temos que ter um momento de encontro
pessoal com Deus.
ü
É
o próprio Senhor quem nos enche, quem nos anima a sermos consagrados a Ele,
visto que Ele mesmo é consagrado e dedicado a nós.
ü
Nossa
oração abre uma porta para o infinito, para o eterno.
Obrigado, Jesus, obrigado Maria, pela presença contínua e consoladora em nosso retiro anual. Sejam louvados vossos santíssimos Nomes e o amor misericordioso que tendes por cada um de nós!
Seja louvado também o Santíssimo Espírito de Deus, que inspirou aos nossos irmãos e irmãs de Comunidade a tão bem extrairem e expressarem os pensamentos essenciais dos textos estudados e facilitados por nosso Delegado Provincial para a OCDS, Frei Wilson Gomes. Amém!
Reportado por:
Giovani Carvalho Mendes, ocds
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