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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

RETIRO DA COMUNIDADE RAINHA DO CARMELO/ 2012. TEMA: A ORAÇÃO DA IGREJA (Santa Edith Stein)




RETIRO DA COMUNIDADE RAINHA DO CARMELO
2012

TEMA: A ORAÇÃO DA IGREJA, segundo orientações de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)


Sábado, dia 15 de setembro, memória de Nossa Senhora das Dores

1.    PRIMEIRO TEXTO: OS GRAUS DA ORAÇÃO
No primeiro momento da manhã, meditamos sobre os graus da oração, tão bem descritos por nossa santa madre Teresa de Jesus e, aqui, aprofundadas por santa Teresa Benedita da Cruz.

I)                  Oração Vocal
a.     Rezar em cima de textos: Pai Nosso, Ave Maria, Santo Rosário, Liturgia das Horas. Apesar de rezadas vocalmente, o coração tem que acompanhar tais preces, pois, senão, tornam-se vazias e sem sentido em si.

II)               Meditação
a.     Fazer com que o pensamento se aprofunde nas verdades eternas meditadas.
b.     Dar “asas à imaginação”, fazendo com que nos venham à mente as “imagens” das principais passagens da vida e dos mistérios de Cristo e de sua Mãe Santíssima.
c.     Pensar na vida de Cristo, em sua Encarnação, Natividade, Vidas Doméstica e Pública, em sua Paixão, Morte e Ressurreição, etc.
       III)  Oração de Quietude
    a. Neste grau de oração, é o Espírito de Deus quem toma a alma em suas mãos, tomando-lhe as potências da mente, da alma e até mesmo do corpo.
     b. A alma se sente inundada por Deus, por sua presença.
c.     Neste grau de oração podem ocorrer os êxtases e visões, que não refletem a santidade da alma, mas, que podem ser “presentes” ou “mimos” de Deus preparando a alma para futuras provações, tribulações ou tentações.
d.     Os santos e todos aqueles destinados a grandes missões dentro da Igreja, muitas vezes recebem de Deus a Oração de Quietude.
IV)          Matrimônio Espiritual
a.     Neste grau, cessam-se as manifestações extraordinárias, mas, a alma já é plenamente de Deus, está unida a Ele indivisível união.
b.     Goza da sua constante presença mesmo no meio das atividades exteriores, que em nada lhe impedem a união.
Após o primeiro momento, o grupo foi dividido em subgrupos de duas pessoas que partilharam suas experiências, dificuldades e alegrias em sua vida de oração e em suas vidas pessoais onde a oração está presente.

Algumas frases ditas na partilha dos irmãos e irmãs:
 ü É em nossa fraqueza que se manifesta a fortaleza de Deus.
 ü A oração é algo que precisa ser aprofundado em nossa vida.
 ü A oração é esse momento de amor com Deus, que se traduz em vida, em gestos concretos, em nossa ação na convivência com os irmãos e irmãs.
ü A oração se torna ilusão, quando a mesma não se traduz em gestos concretos.
ü Não desistir nunca da oração, mesmo com todas as dificuldades que vão surgindo: distrações, problemas cotidianos (pessoais, na família e no trabalho), falta de saúde, etc..
ü Jesus é nosso Mestre na oração. Deixemo-nos guiar por Ele.
ü Será que estamos realmente vivemos esse trato de amizade mesmo, de intimidade, de simplicidade, com Deus?
ü Nosso orgulho e nossa autossuficiência atrapalham muito essa relação de intimidade com Deus.
ü Deus é uma Pessoa real, que está presente em nossas vidas, nos vendo, nos ouvindo, participando de nossa vida. Temos consciência disso?
ü Podemos encontrar a presença de Deus na natureza, na contemplação das criaturas do Senhor: o sol, o mar, as plantas, as árvores, as flores, os animais, etc. Tudo nos fala de Deus Criador, de sua bondade, sabedoria e beleza.
ü Eu vivo a minha oração como uma verdadeira amizade com Deus? Será que Ele para mim não está meio longínquo, meio distante? Será que não desconfiamos de Deus?
ü Será que não nos “encabulamos” diante de Deus, pois, sabemos que Ele é amigo, mas, ao mesmo tempo, uma “autoridade”. Será que não O tememos mais do que O amamos?
ü Não há outro Caminho, outra Verdade e nem outra Vida, somente Jesus. Será que sabemos e vivemos realmente isso? Há uma grande distância entre o que “sabemos” ou “compreendemos” (em nossa mente, em nosso raciocínio) e o que sentimos e vivemos em nosso coração.
ü Sejamos simples, a exemplo de Santa Teresinha, vivendo nossa pequenez e nossa total incapacidade diante de um Deus maravilhoso e bom que nos acolhe e entende as nossas fraquezas.
ü A certeza que Deus nos ama nos faz recomeçar sempre, apesar de nossas fraquezas e até mesmo de nossas quedas. Olhar para Ele, confiar em seu amparo, que Ele está presente mesmo nos momentos nos quais não O sentimos.
ü Para que nosso amor seja verdadeiro, e nossa amizade duradoura, temos que buscar meios de fortalecer esse amor e essa amizade com Deus. Através das leituras espirituais podemos reforçar, no fortalecimento da fé, esse amor com Deus.
ü Nos momentos onde estamos de “lua de mel” com Deus, fica fácil ficar várias horas em oração contemplativa, mas, nos momentos de aridez, podemos ficar o dia inteiro repetindo jaculatórias em sinal de fidelidade a Deus e perseverança no caminho de Deus.
ü Nossa oração deve nos levar à partilha fraterna com o outro. Podemos levar aos irmãos o nosso amor e partilhar com eles o quanto amamos ao nosso Deus.
ü A simplicidade é uma porta larga que nos une a Deus. Quando somos simples diante de Deus, tudo se torna mais fácil e claro. Sua vontade, mesmo nos momentos difíceis, se torna cristalina. Nosso orgulho e desconfiança, “embaçam” nossa visão de Deus.
ü O orgulho, como aconteceu com Adão e Eva, faz com que nos escondamos de Deus, que tenhamos medo dEle, que não aceitemos sua vontade e nos leva facilmente à revolta.
ü Devemos agradecer a Deus a beleza de cada momento em nossa vida. Agradeçamos a cada manhã por estarmos vivos, pelo dia ter nascido, pelos pássaros estarem cantando, pelo sol que nasceu, em fim, devemos ver em todos os momentos a presença de Deus.
ü Todos os dias devemos nos alimentar com Palavra de Deus. Busquemos, busquemos diariamente nos alimentar com a Palavra de Deus para não termos fraqueza espiritual.
ü Muitos dos irmãos contaram pequenos detalhes na infância nos quais Deus se manifestou. Essas lembranças ainda hoje alimentam a nossa fé.
ü O que nos ocorreu na infância nos marca para sempre, ainda hoje nos emociona, nos alenta e acalenta, nos faz lembrar que devemos ser criancinhas perante nosso Deus.


2.    SEGUNDO TEXTO: DIÁLOGO SOLITÁRIO COM DEUS.

Edith Stein era judia. Mesmo convertida ao catolicismo e batizada, ela mantinha suas raízes no judaísmo.
Jesus, como judeu, participava das festas e tradições de seu povo. Celebrava a ação de Deus na história do povo de Israel.
Rezar, ir ao culto com a família, celebrar festas e momentos litúrgicos com sua comunidade, não é estranho para o povo judeu, muito pelo contrário. Isso fazia parte da tradição judaica. A Igreja, fiel à suas origens, mantém a mesma tradição.
Somos pedras vivas, edificadas sob o fundamento de Cristo e dos apóstolos. Continuamos o culto divino, como Igreja.
Nada nos pertence. Nem a nossa vida, nem o nosso tempo, nem nada que temos, realmente nos pertence. Somos administradores de tudo isso. Nós costumamos em pedir a benção a Deus. A benção, para os judeus, não é algo que Deus nos dá, mas, algo que damos a Deus. Nós é que bendizemos a Deus por suas graças e dons que nos confiou em sua generosidade.
Temos que dar graças, reconhecer a bondade de Deus, sua benignidade em nos conceder tudo que somos e que temos.
Quando oramos, quando celebramos a Deus, declaramos que não somos escravos, mas, livres filhos de Deus, cujas vidas pertencem somente a Ele.
Quando não encontramos tempo para orar, por menor que ele seja, será que não estamos escravos de nós mesmos, de nosso tempo? Será que realmente descobrimos o significado de Deus em nossa vida? Será que Ele é o Senhor de nossa vida, de nossa história? Será que somos livres (somente Deus nos torna livres).
Não por obrigação, mas, se podemos, se é possível encontrarmos o Senhor diariamente na Eucaristia, na Santa Missa, por que não usufruirmos disso? Não que seja obrigatória a missa diária, mas, se ela é possível, por que não usufruímos dessa oportunidade que temos e que Deus nos dá?
Jesus participava do culto litúrgico de seu povo. Quando celebrou a Santa Ceia, passou a dar outro sentido a esse culto. No pão eucarístico, é Ele mesmo que se dá pessoalmente em sacrifício.
Jesus é quem nos dá o sentido verdadeiro de sua morte. A morte de Cristo é oferta a Deus. Um sacrifício oferecido a Deus. Que nos é dado, para que possamos oferecer continuamente no sacrifício da Santa Missa. A nova Liturgia Eucarística é a nova e eterna aliança.
Jesus muitas vezes orava solitário: à noite, no deserto, na montanha. Jesus se retirava para orar ao Pai. Ele, como ser humano, tinha sua vida de oração pessoal, em diálogo e colóquio na solidão. Jesus gostava de orar ao Pai. Antes de cada momento importante na vida de Jesus, Ele orava em íntimo diálogo com o Pai.
Podemos orar com as palavras de Jesus. Oramos nEle, com Ele, por Ele. Ele nos ensina a orar. Ele se deu a nós. Os interesses dEle deveriam ser os nossos, assim como nossos interesses (quando bons e sadios à nossa alma) são dEle. Devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo (São Paulo). Se convivêssemos mais com Cristo, certamente nos tornaríamos muito parecidos com Ele, até chegar o ponto de “sermos confundidos” com o próprio Cristo.
Isso não é perda de identidade. Passaríamos a ser o melhor de nós mesmo ao estilo de Jesus. Jesus viveria em nós, sem deixarmos de ser nós mesmos.
Nossas peculiaridades permaneceriam, mas, mesmo assim, seríamos transformados nEle. Jesus viveria a nossa vida em nós, Ele do nosso jeito e nós do jeito de Jesus.
Jesus, como judeu, era leigo. Não pertencia à casta sacerdotal (os levitas). Mas, mesmo assim, o Espírito Santo nos revela que Ele é o verdadeiro e eterno sacerdote. Ele é o sacerdote, o altar e a vítima verdadeiros. Ele se fez tudo.
Sofrer sozinho, é apenas sofrimento e dor. Sofrer unido a Cristo, aí esse sofrimento adquire um novo valor: nosso sofrimento é unido ao de Cristo e passa a participar dos méritos infinitos de Cristo.
O importante não é grandeza da obra, mas, a grandeza do amor. Tudo que fizermos, se unirmos a Deus, passa a ter um valor imenso, pois, está banhado pelos méritos de Cristo, que são infinitos!
Nossa oração, mesmo que a gente não veja, mesmo que não saibamos, ela tem grande valor, pois, para quem ama e caminha na oração, Deus se faz presente, sensível, palpável.

Momento de deserto para meditarmos sobre essa presença misteriosa de Deus em nossa vida e se nós correspondemos a essa presença...



16 de setembro de 2012, 24º Domingo do Tempo Comum.

3.    ESTUDO DO TERCEIRO TEXTO:

Recebendo o Corpo e Sangue de Cristo, devemos desejar que nossa natureza seja transformada nEle.
Nossa natureza decaída quer e busca muitas vezes à sua própria satisfação, ocupar o lugar de Deus.
O que Adão e Eva desejaram ser por si mesmo: serem “deuses”, nós poderemos alcançá-lo, não por mérito nosso, mas, quando nos unimos a Deus em nossa vida interior. Isso disse o nosso pai São João da Cruz.
O amor é doação. O amor é dar-se a si mesmo. É entregar-se. Jesus ensinou isso pela palavra e pelo exemplo. O mistério da cruz é este mistério de amor eterno revelado na história humana. Jesus entregou tudo, se doou totalmente. O que Deus já vivia desde toda a eternidade no seio da Trindade, Jesus revelou ao mundo.
A nossa oração (a do Carmelo) tem uma característica na Igreja: a oração silenciosa, a oração íntima, no silêncio do encontro com Deus.  Não somos beneditinos, ou franciscanos ou dominicanos. Temos nosso próprio jeito de ser. Não significa que somos melhores ou maiores que essas outras Ordens ou Institutos, somos diferentes. Na Igreja somos identificados com a nossa personalidade de sermos orantes no silêncio.
Nossa natureza decaída tem a tendência de nos autovalorizarmos, de desviar o foco de Deus. Ele é o centro de tudo. Ele deve ser o centro de nosso louvor, de nossa oração, de nossa meditação e de nossa contemplação.
A Palavra (o próprio Filho), no dizer de nosso pai são João da Cruz, foi dita uma vez pela Pessoa no Pai no silêncio da eternidade. Como pode a Palavra ser dita no silêncio? Parece não ter lógica. Essa Palavra “dita” é o próprio Filho, que existe no seio da Trindade desde toda a eternidade. Quando veio ao mundo, Ele nos falou.
O silêncio na oração “gesta” Deus em nosso coração. Deus mesmo, no silêncio, é “gerado” em nosso interior. À medida que silenciamos, Ele cresce e se desenvolve em nós.
Tudo é dom de Deus. O gosto ou gozo na oração é dom de Deus. Se Ele nos dá, é para nos “cativar”, porém, Ele pode também nos tirar, não para sofrermos, mas, para crescermos na fé, na perseverança e em seu amor.
A Virgem Maria é modelo dos orantes no silêncio. Deus se manifestou em sua vida no silêncio. No silêncio ela concebeu o Verbo divino em seu seio, acontecendo a Encarnação. No silêncio da oração, o Espírito Santo vem e faz a Igreja nascer.
São Paulo, também, no silêncio da oração ele se preparou para descobrir a resposta para o que buscava: “Senhor, que queres que eu faça”? No silêncio da oração, São Pedro se preparou para acolher sua missão de evangelizar os gentios.
Vários santos e santas, antes de grandes decisões, antes de fundações, antes de grandes realizações na Igreja (santa Brígida, santa Catarina de Sena, santa Teresa, santo Inácio, etc.), passaram por momentos de muita oração silenciosa, para que pudessem conhecer qual era a vontade de Deus e encontraram força para executar essa vontade em suas vidas e na história da Igreja.
Porém, todas essas realizações foram feitas na humildade, no reconhecimento de nosso nada perante Deus. Deus é quem realiza tudo. Deus é quem dá a graça, a força, a sabedoria, a coragem e a perseverança. Quem somos nós perante Ele?
Temos que morrer a cada dia perante o Senhor, reconhecendo que Ele é que é a vida, Ele é o Senhor de nossa vida e de nossa história. Tudo devemos a Ele.

Seguiu-se um momento de deserto, de oração pessoal com Jesus.

Momento de partilha (frases partilhadas pelos irmãos):

ü A oração é como um adubo, que alimenta e fortalece a “árvore” da Igreja.
ü É importante sempre mais buscarmos o diálogo com Deus, para o bem de nossas almas e o da Igreja. Estamos realmente vivendo pelo bem da Igreja?
ü Jamais nos deixemos perturbar pelas ocupações, tribulações e vicissitudes da vida. Mesmo em nossos trabalhos diários, não podemos perder o foco de centrarmos a nossa vida em Deus.
ü O objetivo de nossa vida carmelita é a contemplação. Temos que partilhar esse dom de nossa Ordem com o mundo inteiro.
ü Devemos nos esforçar e sermos humildes, sabendo que tudo nos vem de Deus. Não deixemos nos levar pela vaidade ou pelo orgulho.
ü Nós carmelitas não devemos nos envaidecer com os elogios. Nossa vida é serviço, é entrega. O que fazemos pelo bem da Igreja é para o bem da Igreja, não para alimentar a nossa própria vaidade.
ü O silêncio interior é o caminho mais perfeito.
ü A vida de oração silenciosa gera Deus em nosso interior e no mundo. Deus é “gestado” no coração do orante, em sua vida de oração silenciosa. Este Deus gerado deve ser dado ao mundo, à Igreja.
ü O mundo e a Igreja esperam muito de nós carmelitas. Somos vocacionados a “sustentar” o mundo com nossas preces, pedir a Deus a cura de suas misérias: injustiças, violência, guerras, egoísmo, indiferentismo, materialismo e secularismo.
ü Temos que organizar a nossa vida para que nela ocorram momentos de oração pessoal com Deus.
ü Mesmo em meio às nossas ocupações de seculares, temos que ter um momento de encontro pessoal com Deus.
ü É o próprio Senhor quem nos enche, quem nos anima a sermos consagrados a Ele, visto que Ele mesmo é consagrado e dedicado a nós.
ü Nossa oração abre uma porta para o infinito, para o eterno.


Obrigado, Jesus, obrigado Maria, pela presença contínua e consoladora em nosso retiro anual. Sejam louvados vossos santíssimos Nomes e o amor misericordioso que tendes por cada um de nós!
Seja louvado também o Santíssimo Espírito de Deus, que inspirou aos nossos irmãos e irmãs de Comunidade a tão bem extrairem e expressarem os pensamentos essenciais dos textos estudados e facilitados por nosso Delegado Provincial para a OCDS, Frei Wilson Gomes. Amém! 
Reportado por:
Giovani Carvalho Mendes, ocds

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