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domingo, 30 de março de 2014

O ESTADO DE GRAÇA


Determinou Deus, em seus eternos desígnios, elevar o homem acima da sua natureza, fazendo-o viver da própria vida divina, de seu Amor Uno e Trino e da própria felicidade eterna do Paraíso, participando de todos os seus atributos. Tudo o que Ele tem por essência, quis que o tivéssemos nós por participação e, por isso, gratuitamente, em atenção aos merecimentos da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, elevou-nos à ordem sobrenatural, ordenando-nos com a Graça santificante.
Perdida esta graça com o pecado dos nossos primeiros pais Adão e Eva, que a deviam comunicar aos seus filhos, se tivessem sido fiéis, é-nos restituída outra vez, com estado habitual, pelo Sacramento do Batismo. “Ninguém pode entrar no Reino dos Céus se não renascer por meio da água e do Espírito Santo” (João 3, 1-16).
A graça santificante é, pois, um dom sobrenatural, interior e permanente que Deus nos concede por Jesus Cristo, para nossa salvação. É dom interior, porque é dado à alma; é permanente, porque fica nesta, enquanto não peca mortalmente. É-nos dada por Cristo, porque, depois da queda de Adão, todas as graças nos são concedidas pelos méritos de Jesus, Verbo Encarnado.
A Graça santificante é a maior riqueza que se pode ter: “Eu preferi-a aos reinos e aos tronos... ao lado dela o ouro do mundo é só areia e a prata apenas lama. É um tesouro para os homens” (Livro da Sabedoria 7, 8-9). A Graça santificante é aquele “é aquele tesouro de raro valor que o homem que o achou no campo, foi vender tudo quanto tinha para o comprar” (Mateus 13). “É a veste nupcial de raro brilho e absolutamente necessária: o que a não tiver no momento da morte será lançado atado de mãos e pés no inferno onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 22, 12). “A Graça santificante torna-nos, de simples criaturas de Deus, em seus filhos e de Maria Santíssima, irmãos dos Anjos e dos Santos e herdeiros do Céu, membros de Jesus, nossa Divina Cabeça, e de tal modo, que aos que dela vivem Ele lhes chama irmãos (Hebreus 2, 11), pois vivemos da sua própria Vida por participação: ‘Jesus é o Primogênito entre muitos irmãos’” (Romanos 8, 29).
O Senhor revelou a Santa Catarina de Sena que se ela no mundo visse uma alma em estado de graça, morreria de alegria.
“Se eu falar todas as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver a Graça (a caridade sobrenatural), sou como um bronze que soa e o címbalo que retine; se tiver os dons da profecia e o conhecimento de todos os mistérios e de todas as ciências, se tiver fé capaz de transportar montanhas e não tiver a Graça, nada sou” (I Cor 13, 1-2).
Estando em Graça, Deus vê sempre em mim um (a) filho (a), integrado no seu Cristo. “Eu sou a videira, diz Jesus, vós os sarmentos. Aquele que permanece em Mim, e eu nele, produz muitos frutos. Separados de mim, nada podeis fazer” (João 15, 5). A alma em graça é templo da Santíssima Trindade: “se alguém me ama, meu Pai o amará e nós viremos a ele e estabeleceremos nele a nossa morada” (João 14, 23).
A Graça santificante mantêm-se e aumenta-se pelos sacramentos, pelas boas obras e pela oração, que nos fazem praticar as virtudes sobrenaturais, penhores da Glória eterna.
Quem está em graça, traz consigo Aquele que tudo substitui e a quem nada pode substituir. Deus, Maria Santíssima, os Anjos e os Santos amam com complacência todo aquele que vive em graça.
Se tivermos a desgraça de pecar mortalmente, façamos logo um ato de contrição perfeita que é a dor de ter ofendido a Deus, porque entregou o seu Filho Jesus ao sofrimento e á morte da cruz para nos salvar.
Rezemos o ato de contrição perfeita que vem no nosso catecismo ou outro resumido, por exemplo: “Meu Deus, amo-Vos! Perdão, misericórdia”!
Este ato de contrição com o voto, ao menos implícito, da confissão ao sacerdote, põe-nos na graça de Deus. Se bem que os moralistas digam que esta obrigação de nos confessarmos pode demorar-se até à próxima confissão pascal, procuremos, no entanto, para maior consolo e benefício da alma, recorrer ao Sacramento da Penitência o mais depressa possível. Mas, para a comunhão e para a recepção dos sacramentos chamados de “vivos”, não basta a contrição perfeita, com o voto da confissão: precisamos recorrer ao Sacramento da Penitência. Quem estiver em pecado mortal, isto é, sem a Graça santificante, os atos mais extraordinários de bondade nada merecem para o Céu, embora, por Misericórdia do Senhor, nos facilitem a obtenção da Sua graça. Quem está em graça, tudo o que faz, ainda os atos mais banais, porque são atos de um filho de Deus, membro de Jesus Cristo, nos aumentam a graça e a correspondente glória eterna.
Procuremos sempre viver na Graça Divina para nos salvarmos eternamente e para que todos os atos da nossa vida, à exceção do pecado mortal ou venial, possam ter um aumento de graça e de glória eterna. “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a maior honra e glória de Deus” (I Cor 10, 31).
São Roberto Berlamino, doutor da Igreja, dizia: “Daria de boa mente toda a ciência que possuo e a glória do cardinalato por um só grau a mais de Graça santificante”. O grande teólogo Suarez igualmente daria toda sua ciência em troca do aumento de Graça santificante que se adquire rezando uma Ave Maria.
Quebrai os chifres do demônio, dizia São João Bosco, com os dois martelos da confissão e da comunhão. “Dai-me bons confessores e eu vos darei a Igreja reformada”, dizia São Pio V. “Prefiro ajudar a salvar uma alma que entrar em êxtase o fazer qualquer milagre”, dizia Santa Maria Madalena de Pazzi.
Habituemo-nos a fazer várias vezes ao dia, sobretudo à noite, o ato de contrição perfeita que nos perdoa os pecados veniais e nos aumenta a Graça santificante e a glória eterna no Paraíso e nos põe na graça de Deus se tivermos a infelicidade de pecar mortalmente. Esse é um bom meio de derrotar o inferno se a morte nos vier surpreender. Vivamos sempre na graça de Deus. Fortaleçamo-la sempre com os Sacramentos, com a oração e com atos de virtude já que o aumento da graça eterna está em proporção com o aumento da graça santificante.


(artigo publicado na revista “Cavaleiro da Imaculada”, de Porto, Portugal) 

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