SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME
À primeira vista
parece ser muito estranho esse pedido do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso nome”. Santificado seja o vosso Nome? Como
assim? Não teria sido mais “normal” Jesus ter dito: “Louvado seja o vosso
Nome”, ou “Bendito e adorado seja o vosso santo Nome”, ou ainda, “Glorificado
seja o vosso Nome”? Não é nada usual desejar que o Nome Santíssimo de Deus seja
santificado. Seria quase uma redundância não acham? Permitam-me esta
comparação, mas, seria o mesmo que desejar que a luz do sol seja brilhante ou
que a água seja molhada.
O Nome de Deus
(sempre escreverei a palavra “nome” com “N” maiúsculo quando estiver me
referindo a Deus) já é Santo por natureza. Deus é o Santo, Santo, Santo! Assim
O louvam a multidão dos Anjos no Céu: “Os
serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas. Suas vozes se
revezavam e diziam: ‘Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra
inteira proclama a sua glória’” (Isaías 6, 2-3).
Deus é a própria
santidade, a perfeição infinita. Jesus mesmo dirigindo-se aos discípulos,
apontou seu Pai como o modelo e fim e toda a santidade: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus
5, 48). Assim, sua santidade infinita nem aumenta e nem diminui mais do que já
é, visto que Deus é imutável. Então, o que significa desejar que o Nome de Deus
seja santificado?
Do ponto de
vista humano, o bom nome de um pai ou de uma mãe é confirmado ou enaltecido no
modo de ser de seus filhos. Não é verdade? Quando vemos uma criança ou um jovem
com bom comportamento, imediatamente associamos isso à boa educação de seus
pais. Ao contrário, quando vemos uma criança ou um jovem demonstrando má
conduta ou comportamento errado, de pronto dizemos: “que mal-educado”! Olha só!
Atribuímos o bom ou o mau comportamento à boa ou má educação dos pais.
Deus é Pai. Sua
maior honra, sua maior glória é a santidade de seus filhos e filhas! A maior
razão de sua alegria é ver seus filhos e filhas sendo semelhantes ao Filho
Jesus: “Digo-vos que assim haverá maior
júbilo no céu (a alegria de Deus) por
um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não
necessitam de arrependimento” (Lucas 15, 7). Deus se
compraz na santidade de seus filhos e filhas. Claro que a santidade de Jesus,
Filho Único de Deus, é suficiente para suprir toda a humanidade, no entanto, o
Pai ama seus filhos e filhas adotivos e se sente feliz em ser amado por eles. Como
todo “pai orgulhoso”, contempla seus filhos e filhas fiéis e com eles e por
eles Se compraz e rejubila: "Vede,
os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas. Tais como
as flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos gerados na juventude. Feliz
o homem (aqui poderíamos dizer: feliz Deus Pai) que assim encheu sua aljava: não será confundido quando defender a sua
causa contra seus inimigos à porta da cidade. Vede, os filhos são um dom de
Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas”. (Salmo 126,
3b-5).
Jesus mesmo associou a glorificação do
Nome do Pai ao “bom comportamento” (as boas obras) dos filhos e filhas de Deus:
“Vós sois a luz do mundo. Não se pode
esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem se acende uma luz para
colocá-la debaixo do alqueire, mas, sim, para colocá-la sobre o candeeiro, a
fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que
está nos céus” (Mateus 5,
14-16).
Interessante notar no texto que mais uma vez Jesus usa a palavra “céus” para
designar os lugares onde o Pai está, isto é, no Céu empíreo e em todos os
lugares onde é adorado, amado e obedecido, inclusive nos corações humanos.
Que maravilha
pensar que quando rezamos o Pai Nosso, desejamos que o Nome Santo de Deus seja
santificado no modo de viver de seus filhos e filhas! Que lindo, meu Deus!
Imagino o amor e o fervor de Jesus no momento que rezou essa parte do Pai
Nosso! Como Ele deve ter ardentemente desejado que o bom Nome de Deus fosse
santificado em toda a terra, em cada continente, em cada nação ou povo, bem
como nos corações de cada filho e filha de Deus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros” (João
13, 35).
Podemos deduzir
de tudo isso que comentamos que desejar que o Nome do Pai seja santificado é
desejar “tudo de bom” para Deus. É desejar que esse Nome seja buscado,
conhecido, acolhido, respeitado, venerado, adorado, amado, obedecido, honrado e
glorificado. Santificar o Nome de Deus é tudo isso! Assim como os serafins que
clamam sem cessar: “Santo, Santo, Santo”, quem verdadeiramente ama a Deus,
cumprindo Sua Santa Vontade, com seu modo de viver e exemplo de sua vida clama
sem cessar: “Santo, Santo, Santo sois Vós, meu Deus! Não sou eu quem vivo, mas
é Cristo que vive em mim (cf. em Gálatas
2,20)! Tudo é vosso, meu Deus! Eu não sou nada! Eu não sou
nada! Toda honra, toda glória, poder e majestade vos pertencem, Senhor nosso
Deus” (cf. em Apocalipse 4,11)!
VENHA A NÓS O VOSSO REINO
Tenho uma tia
que sempre considerou essa parte do Pai Nosso uma das mais importantes de toda
a oração. Argumenta ela que neste pedido está contido tudo, isto é, a síntese
de tudo que poderíamos supor ou imaginar pedir de bom e de útil às nossas almas
e para as nossas vidas. Ela tem razão. Diz-me também que quase ninguém pensa na
importância, mérito ou valor dessas palavras e que elas, durante a prece,
passam quase despercebidas. Mais uma vez ela tem razão. Será que realmente
intuímos no que dizemos ao pedir: “venha a nós o vosso Reino”?
Os santos
evangelhos diversas vezes falam no Reino de Deus. Jesus veio trazer à terra o
Reino de seu Pai. Que significa isso? Todas as vezes que pensamos em “reino” ou
“reinos” logo imaginamos aqueles reinos das histórias infantis, com castelos,
terras, com reis, rainhas, príncipes, princesas, cavalheiros, súditos, etc.
Nossa noção de reino é muito “materializada” e muito “humanizada”. Somos muito
parecidos com são Tomé: só cremos no que vemos. Para muita gente é difícil crer
em Deus ou em sua ação e influência no mundo, visto que não O vemos com os
olhos da carne e, aparentemente, parece que Ele nos entregou à nossa própria
sorte. “Onde está o teu Deus”?,
dizem.
Pilatos, durante
o julgamento de Jesus, perguntou: “Tu és
rei”? Realmente, como crer que aquele homem simples, vestindo uma túnica de
linho e preso pelos sacerdotes e fariseus, era o Rei dos judeus, do mundo e de
todo o universo? Como crer que o Reino de Deus existe se pouco vemos essa
“presença” misteriosa de Deus no mundo?
Jesus
utilizou-se de varias comparações quando falou do Reino. Comparou-o a um
pequeno “grão de mostarda”, a um “semeador” que semeia em terrenos diversos, ao
“fermento” que faz a “massa de trigo” crescer, a uma “pérola preciosa” que um
homem acha no campo, falou diversas vezes que ele estava “próximo”, e, mais
ainda, que estava “no meio deles”.
Nosso Deus,
apesar de toda a sua infinita majestade é muito simples. Seu modo de agir, na
maioria das vezes, é feito no silêncio, na simplicidade do dia a dia. Deus não
gosta de alardes, não gosta de “espetáculos” e nem quer “aparecer”. Jesus levou
uma vida muito simples quando esteve na terra. Nasceu pobre em uma gruta de
Belém, esteve incógnito no Egito, foi um menino simples de Nazaré, trabalhava
na oficina de carpintaria de seu pai nutrício São José, compareceu ao batismo
de São João Batista como todos os outros, foi pregador itinerante, fazendo
todos os percursos a pé, como o fazem os pobres, muitas vezes pedia segredo
quando curava alguém, fugia para lugares desertos, frequentava as vilas pobres,
comia com os pecadores, abraçava as crianças, isto é, nada que um “rei mundano”
faria.
“Meu reino não é deste mundo. Meu reino não é
daqui”, respondeu a Pilatos. Claro que o “pobre governador” não entendeu
nada e considerou Jesus um louco. Como estava longe da compreensão do Reino! O
pensamento mundano cega a compreensão do Reino. Quem pensa como o mundo pensa
(portanto, como satanás pensa) jamais consegue compreender o que é o Reino e
onde ele está. Caminha às cegas, às escuras, totalmente obscurecido por uma
“realidade” que ele julga compreender. Realmente esses “cegos na fé” são os que
mais acham que veem ou entendem alguma coisa. Acham-se “sábios” e “entendidos”
para as coisas do mundo. Eles tem os que creem como tolos ou iludidos, como
pessoas dignas de pena. Coitados! Eles é que são dignos de pena, pois são
verdadeiramente cegos e caminham para a perdição eterna! Não buscam a verdade.
Antes, a aborrecem ou, mesmo, a odeiam. Como são dignos de nossa pena! Vivem na
mentira e a mentira os atordoa e ilude.
Para tentarmos
ao menos entender um pouco desse Reino, necessário se faz que ao menos
queiramos saber a verdade. Nem todos gostam da verdade. A verdade dói. A
verdade incomoda. A verdade denuncia. A verdade vem para mudar nossa vida,
nosso modo de pensar e de agir. Por que isso? Porque geralmente vivemos na
mentira, enganamo-nos a nós mesmos, vivemos em nosso “mundinho”, em nossos
“reinozinhos”, sendo nossos próprios “reis” e “rainhas”. Muitas vezes somos
iguais a Herodes: temos pavor do reinado de Jesus, o Menino de Belém. Temos
medo de que Ele nos destrone, que acabe com nossa autossuficiência e com os
“reinos” que tão dedicadamente construímos ao nosso redor.
Meu reino não é deste mundo. Meu reino não é daqui! Brada a cada um
de nós o Cristo do Pai. Sim! O Reino é dos Céus. O Reino é do Pai. Ele é o Rei,
juntamente com a Pessoa do Filho e a do Espírito Santo. Para compreendermos
esse Reino, antes de tudo, temos que querer conhecer a verdade, e, a Verdade é
Jesus. Foi Jesus quem veio nos trazer esse Reino. Jesus é o próprio Reino!
E o que é o
Reino de Deus? O Reino de Deus é a presença de Deus no mundo, nos povos, nas
famílias e em cada coração. Jesus veio trazer o Reino ao mundo porque Ele
próprio é a perfeita realização desse Reino: Jesus é o Emanuel, o Deus Conosco.
Se permitirmos que Deus seja o centro de nossas vidas, o Reino de Deus estará
no meio de nós. Se permitirmos que Ele seja o Rei de nossos corações, todo o
seu Reino O acompanhará e se estabelecerá em nossas vidas.
Para que esse
Reino aconteça temos que desejar, buscar, acolher e viver a verdade. Essa
verdade é o próprio Cristo Jesus. Mas, será que temos o mesmo coração que
Pilatos? Na entrevista que teve com Jesus, no momento de seu injusto
julgamento, perguntou ao Senhor: “o que é
a verdade”? Jesus ficou calado. Adiantava dizer àquele homem de coração
corrompido e mundano que a Verdade era Ele mesmo? Jamais entenderia.
Desejar e pedir
ao Pai que o seu Reino venha a nós é desejar tudo que está escrito nos Santos
Evangelhos:
·
Aceitar
Jesus como nosso Senhor e Salvador.
·
Arrepender-se
dos pecados e buscar a conversão.
·
Desejar
ser santo, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
·
Levar
uma vida evangélica conforme o espírito das bem-aventuranças que Cristo
ensinou.
·
Renunciar
a si mesmo e levando a cruz cotidiana com paciência e amor.
·
Ser
um bom cristão católico, buscando com frequência e amor os santos sacramentos.
·
Frequentar
e praticar piedosamente a Sagrada Liturgia.
·
Participar
ativamente do discipulado e apostolado de Cristo, sendo “sal da terra” e “luz
do mundo” em nossa família, no trabalho, na escola, no lazer e na paróquia e/ou
diocese à qual pertencemos.
Tudo
isso é “Reino de Deus” em nossas vidas. Será que realmente desejamos e pedimos
isso quando rezamos o Pai Nosso?
Giovani Carvalho Mendes, ocds
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.