Comentário ao Evangelho do dia feito por :
Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense
Le Miroir de la charité, III, 5 (a partir da trad. Orval/do breviário)
Não há nada que nos encoraje mais a amar os nossos inimigos, naquilo que consiste a perfeição do amor fraterno, do que a consideração e a gratidão pela admirável paciência do «mais belo dos filhos dos homens» (Sl 45 (44), 3): Ele ofereceu a Sua bela face aos ímpios para que a cobrissem de escarros; permitiu-lhes vendarem-Lhe aqueles olhos que, de um só relance, governam o Universo; expôs as Suas costas ao chicote, submeteu aos picos dos espinhos a Sua fronte, diante da qual deviam tremer príncipes e poderosos; entregou-Se às afrontas e às injúrias e, por fim, suportou com mansidão a cruz, os cravos, a lança, o fel, o vinagre, mantendo, no meio disso tudo, toda a doçura e serenidade: «Como um cordeiro levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador, não abriu a boca» (Is 53,7).
Ao ouvir as admiráveis palavras «Pai, perdoa-lhes» (Lc 23, 34), cheias de doçura, de amor e de imperturbável serenidade, o que poderíamos nós acrescentar à bondade e à caridade dessa oração?
E, no entanto, o Senhor acrescentou algo. Não Se contentou em rezar; quis desculpar: «Pai ─ diz Ele ─ perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem»; são, sem dúvida, grandes pecadores, mas não têm disso consciência; por isso, Pai, perdoa-lhes; crucificam, mas não sabem a Quem crucificam. [...] Pensam tratar-se dum transgressor da Lei, dum usurpador da Divindade, dum sedutor do Povo; escondi-lhes o Meu rosto; não reconheceram a Minha majestade; por isso, «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
Se quiser aprender a amar, que o homem não se deixe arrastar pelos impulsos da sua carne, mas dirija todo o seu afeto para a dulcíssima paciência da carne do Senhor; se quiser encontrar descanso mais perfeito e mais feliz nas delícias da caridade fraterna, que aperte também os inimigos nos braços do verdadeiro amor; e, para que este fogo divino não diminua por causa das injúrias, que tenha sempre os olhos do espírito na serena paciência do seu Senhor e bem-amado Salvador.
Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense
Le Miroir de la charité, III, 5 (a partir da trad. Orval/do breviário)
Não há nada que nos encoraje mais a amar os nossos inimigos, naquilo que consiste a perfeição do amor fraterno, do que a consideração e a gratidão pela admirável paciência do «mais belo dos filhos dos homens» (Sl 45 (44), 3): Ele ofereceu a Sua bela face aos ímpios para que a cobrissem de escarros; permitiu-lhes vendarem-Lhe aqueles olhos que, de um só relance, governam o Universo; expôs as Suas costas ao chicote, submeteu aos picos dos espinhos a Sua fronte, diante da qual deviam tremer príncipes e poderosos; entregou-Se às afrontas e às injúrias e, por fim, suportou com mansidão a cruz, os cravos, a lança, o fel, o vinagre, mantendo, no meio disso tudo, toda a doçura e serenidade: «Como um cordeiro levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador, não abriu a boca» (Is 53,7).
Ao ouvir as admiráveis palavras «Pai, perdoa-lhes» (Lc 23, 34), cheias de doçura, de amor e de imperturbável serenidade, o que poderíamos nós acrescentar à bondade e à caridade dessa oração?
E, no entanto, o Senhor acrescentou algo. Não Se contentou em rezar; quis desculpar: «Pai ─ diz Ele ─ perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem»; são, sem dúvida, grandes pecadores, mas não têm disso consciência; por isso, Pai, perdoa-lhes; crucificam, mas não sabem a Quem crucificam. [...] Pensam tratar-se dum transgressor da Lei, dum usurpador da Divindade, dum sedutor do Povo; escondi-lhes o Meu rosto; não reconheceram a Minha majestade; por isso, «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem».
Se quiser aprender a amar, que o homem não se deixe arrastar pelos impulsos da sua carne, mas dirija todo o seu afeto para a dulcíssima paciência da carne do Senhor; se quiser encontrar descanso mais perfeito e mais feliz nas delícias da caridade fraterna, que aperte também os inimigos nos braços do verdadeiro amor; e, para que este fogo divino não diminua por causa das injúrias, que tenha sempre os olhos do espírito na serena paciência do seu Senhor e bem-amado Salvador.
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