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terça-feira, 2 de novembro de 2010

O PURGATÓRIO



É um Dogma de Fé Católico, crido pela Igreja desde os séculos imemoriais, defendido e comentado por vários Santos Padres da Igreja, ratificado em vários Concílios Ecumênicos (como o de Florença e de Trento) e divulgado por dezenas de Santos e Santas em escritos e pregações. Além disso, como Dogma de Fé, é Palavra de Deus revelada, isto é, está na Sagrada Escritura e na Santa Tradição, explicadas pelo Magistério Sagrado.

I) Fundamentação Bíblica

*Mateus 5, 25-26
“Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário. Enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás enquanto não pagares o último centavo”.

*Mateus 18, 32-35 (parábola do “servo cruel”)
“Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: ‘Servo mau, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me rogaste. Não devias, também tu, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ Assim, encolerizado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a sua dívida. Eis como meu Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão”.

*I Coríntios 3, 13-15
“... a obra de cada um será posta em evidência. O Dia torná-la-á conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo”.

*I Coríntios 5, 4-5
“É preciso que, em nome do Senhor Jesus, estando vós e o meu espírito reunidos em assembléia com o poder de nosso Senhor Jesus, entregamos tal homem a Satanás para a perda da sua carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”.

*II Macabeus 12, 42.44-46 (oferecimento de orações e sacrifícios pelos mortos)
“... puseram-se em oração para pedir que o pecado cometido (pelos mortos) fosse completamente cancelado. E o nobre Judas exortou a multidão a se conservar isenta de pecado, tendo com os próprios olhos visto o que acontecera por causa do pecado dos que haviam tombado. De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado”.

*Apocalipse 21, 27b
“Nela (Jerusalém Celeste) jamais entrará algo de imundo, e nem os que praticam abominação e mentira”.


II)
Desenvolvimento

Purgatório: “lugar” de cura dos pecados veniais e das “cicatrizes” dos veniais e mortais já confessados e perdoados.

Existe uma grande polêmica sobre se o Purgatório seria um “lugar” ou um “estado de espírito”. Ao que me parece, o homem não cansa de discutir o “sexo dos anjos”, isto é, de se envolver em discussões inúteis. Não importa a natureza do Purgatório. O que importa é que ele existe, é uma realidade terrível e verdadeira. Os católicos “de antigamente”, talvez mais incentivados pela pregação da Igreja, tinham mais devoção e consideração pelo Purgatório, coisa que parece ter arrefecido (e muito) nos dias atuais, mesmo em movimentos de espiritualidade católica renovada.
Deus criou o Purgatório por uma extrema necessidade. É preciso a existência do Purgatório. Como se salvariam as almas daqueles não suficientemente puros para ir para o Céu? Iriam para o inferno? Claro que não! O inferno é um “lugar” de total afastamento de Deus, onde as almas condenadas O odeiam, O desprezam. As almas não suficientemente perfeitas, não totalmente puras e santas para ir para o Céu, mas , que amam a Deus, querem bem a Ele e que tentaram fazer sua vontade, vão exatamente para este “lugar de cura”, de “reparação à Justiça Infinita de Deus”, a este “lugar de Misericórdia”.
Para o Purgatório, portanto, vão almas boas, porém não perfeitas. Almas que tinham consigo ainda pecados veniais ou “seqüelas” de pecados mortais já perdoados por Deus. Sim, sequelas! Cada pecado, venial ou mortal, mesmo que seja perdoado por Deus (isto é, a pessoa não tem mais a culpa), deixa sequelas na alma. Quem é médico entende muito bem o que é doença e sequela. Mesmo uma doença já curada, isto é, que não existe mais no corpo do paciente, pode deixar alguma “marca”, “mancha”, “defeito físico”, “debilidade" ou "fraqueza” (até mesmo muito intensas). Assim é o pecado!
Quando alguém se arrepende do que fez, Deus prontamente perdoa o pecador, retirando dele toda a culpa do erro cometido. A alma entra na amizade de Deus. Porém, isso não significa que aquela pessoa esteja totalmente isenta dos “efeitos colaterais” do erro cometido, das “más tendências” ou “facilidade de pecar de novo”, de “reincidir no erro”, que cada pecado deixa na alma.
Deus, por amor a nós, para nos purificar de todo pecado e de suas consequências para a alma, nos oferece muitos meios de nos livrarmos de toda esta impureza na alma: os sacramentos (especialmente a Confissão e a Eucaristia), a caridade cristã (perdoar as ofensas, dar esmolas com amor, ajudar às necessidades do próximo), a oração (oração mental, Liturgia das Horas, devoção a Nossa Senhora e aos Santos, etc), a penitência (jejuns e mortificações) e a paciência em meio às cruzes (problemas, doenças, dificuldades, aridez, etc) do dia-a-dia.
Se, infelizmente, até o momento de nossa morte, não estivermos totalmente puros do pecado, o “jeito” que existe é a alma ir ao Purgatório, e lá, em meio a intensíssimo arrependimento e no fogo do amor de Deus, a alma é preparada para suportar a visão beatífica de Deus, o infinitamente santo e puro, no Céu.

Purgatório: “lugar” habitado por almas justas

Sim, a tradição da Igreja chama as almas do Purgatório de “benditas”, isto é, de “felizes”. Felizes por que? Não seria o Purgatório um “lugar” de sofrimentos indizíveis? Sim, no Purgatório sofre-se imensamente, porém, as almas lá presentes são almas “boas”, “confirmadas em graça”, isto é, não pecam mais, não ofendem mais a Deus, são almas que amam a Deus com todas as forças e, arrependidas do que fizeram de errado ou imperfeito na vida terrena, clamam misericórdia! São almas já salvas: o Céu já está garantido para elas. Além do mais, com o passar do “tempo”, elas se tornam cada vez mais puras, cada vez mais santas e perfeitas, até chegar o ditoso momento de “voar” para os Céus.

Purgatório: Justiça ou Misericórdia divinas ?

Os dois aspectos são uma realidade. Deus não é indiviso. Ele é Justiça Infinita e Misericórdia Infinita. Obviamente, nosso bom Deus “adora” exercer a Misericórdia, bem mais que a Justiça, que somente é utilizada quando a “coisa” não tem mais jeito.
Neste sentido, o Purgatório realmente é um lugar da Justiça Divina, que purifica as almas com sofrimentos intensíssimos porém sem nenhum mérito para aquelas almas que lá estão. Isto é, o fato de uma alma estar sofrendo muito no Purgatório não significa que no Céu ela terá maior felicidade e glória que uma alma que sofreu menos que ela. Muito pelo contrário!

Porém, o Purgatório também é um lugar da Misericórdia Divina, de um Deus que as ama intensamente e que deseja que elas saiam de lá o quanto antes! Daí muitos santos ou videntes terem tido revelações sobre o quanto agrada a Deus a nossa oração e sacrifícios pelas almas do Purgatório.
Além do mais, quem está no Purgatório já está eternamente salvo, isto é, mais cedo ou mais tarde irá ao Céu, onde passará a eternidade na bem-aventurada convivência com Deus!

Foi necessário Deus criar o Purgatório?

Sim! O Purgatório é um “lugar/estado” onde são purificados os defeitos, fraquezas, más tendências, em suma, as “manchas” das almas, mesmo as mais leves. As almas saem de lá totalmente puras, santas, imaculadas, em condições de contemplar ao Deus infinitamente Santo face-a-face.
Seria ridícula a não existência do Purgatório. Como poderiam as almas ir para o Céu portanto ainda consigo suas más inclinações ao pecado, ao mal e ao erro? Quando morremos, somos o que somos. Deus nos perdoa os pecados, porém, não podemos ainda contempla-lO como Ele é se ainda temos conosco as “marcas” dos pecados (nossas más inclinações). A existência do Purgatório é muito lógica!


Em que consiste o sofrimento das almas do Purgatório?

A imaginação e inteligência humanas não podem sequer fazer uma pálida imagem do que seja o Purgatório. O que é ver a Deus? O que é deixar de vê-lO? As almas do Purgatório sabem imensamente mais do que nós quem é Deus! Sabem o que é não gozar de Sua presença, mesmo que temporariamente...
Fala-se muito no termo “fogo do Purgatório”. Muitos se perguntam se é mesmo “um fogo”, visto que no mundo espiritual não existe mais matéria e o fogo, como sabemos, é produzido pela combustão de algum material inflamável, ativado pelo oxigênio da atmosfera. Nossa mente é humana. Para termos uma pequena idéia das realidades celestes ou “do outro mundo” fazemos uso (o próprio Deus entende isso) de comparações ou modelos materiais , terrenos.
Jesus mesmo, falando do Céu, utilizou o termo “moradas” para se referir aos diferentes “estados de glória” no Céu.
O que podemos afirmar com certeza lógica e teológica é que, assim como a alegria no Céu é indizível, isto é, inimaginável nos nossos parâmetros terrenos, assim também o sofrimento no Purgatório ou no inferno é indizível, incompreensível à mente humana, que só possui meios materiais para compreender os mistérios do espírito. Possivelmente o nosso “fogo”, assim como o compreendemos, seja até uma pálida comparação com a realidade do sofrimento de uma alma no Purgatório. Mas, finalmente, em que consiste mesmo o sofrimento de uma alma nesse lugar de purificação?
Nisto consiste o sofrimento indizível do Purgatório: a dor de não poder ver a Deus, de não poder contemplá-lO, a esse Deus que elas amam imensamente, mas que não pode ser visto ainda por elas! É um sofrimento tão grande que não há comparação terrena! Não compreendemos, repito, esta realidade espiritual. Nossa mente é por demais pobre para entender o que seja não ver a Deus! Elas o sabem! Elas, agora, após vislumbrar algo de Deus durante o juízo particular, sabem perfeitamente o quanto Ele é Belo, Perfeito, Santo, Amável, Bom e Misericordioso, e o mal que fizeram perdendo-O (mesmo que temporariamente) e ofendendo-O. Isto é uma dor terrível, atroz, muito maior que a “dor física” do fogo...

Traçando um paralelo:
Sofrimento do Inferno = “fogo” do desespero e do ódio eternos.
Sofrimento do Purgatório = “fogo” de arrependimento e de amor purificantes.

Existe tempo no Purgatório?

“Sim e não”. Tempo, como nós o conhecemos, não existe. O “tempo” lá deve ser totalmente diferente do nosso, pois lá não existe mais a matéria.
Mesmo aqui na terra o “tempo” tem uma conotação, um significado, um modo de medi-lo diverso. Por exemplo: para uma mãe com muita saudade de um filho, quando este passa um mês ausente, este “mês” pode ser “sentido” como se fosse um ano, isto é, um tempo desproporcional ao tempo real. Em contrapartida, para o mesmo filho, se ele estiver fazendo um passeio muito divertido, visitando belos lugares na Europa, por exemplo, o mesmo mês fora pode “passar rápido”, isto é, ser um “tempo emocional” bem menor que o tempo real. Entenderam? Assim também no Céu, no Purgatório ou no inferno. O “tempo” é diferente do da terra.
Para quem está no Céu (lugar de imensa e incompreensível felicidade), possivelmente cem anos se passam tão “rapidamente”, que esse “tempo” lá seja “percebido” como o transcurso de apenas um dia.
Para quem está no Purgatório ou no inferno, em meio a terríveis sofrimentos, um dia lá talvez seja percebido como se fossem anos e anos de tormentos.

III)
Nós podemos socorrer as Almas do Purgatório (Sufrágio)

A) A Santa Missa.
A Santa Missa tem valor infinito! Nela o próprio Filho de Deus se sacrifica, se imola ao Pai, renovando o Sacrifício do Calvário, só que de forma incruenta, mística.
Por isso, a Santa Missa é o principal meio de sufragar as Almas do Purgatório, que certamente rodeiam cada altar sedentas das graças que deles emanam.
Em cada Missa que assistamos, aproveitemos os momentos do Rito Penitencial, da Consagração e da Oração Eucarística (memento dos mortos) para nos lembrarmos dessas Almas que esperam de nós o gesto de amor da “lembrança”, isto é, do oferecimento dos méritos infinitos de Jesus Eucarístico em favor delas.

B) Devoção a Nossa Senhora
Maria Santíssima é a Mãe das Almas do Purgatório! Pensa nelas continuamente e, voltando seus olhos maternos para nós, nos suplica que rezemos por elas!
Nossa Senhora é poderosíssima diante de Deus (Onipotência Suplicante) para pedir pelas Almas. Ofereçamos a Ela nossos Terços bem rezados, nossas orações espontâneas, nossas jaculatórias, as Ladainhas e novenas, para que Maria, descendo àquela prisão, possa voltar de lá trazendo consigo muitas e muitas almas para o Céu!

C) Valor da devoção aos Santos Anjos e aos Santos.
Nossos irmãos e irmãs que já estão na glória de Deus (a Igreja Triunfante ou Gloriosa) também podem (e querem) interceder por seus irmãos que estão no Purgatório. Podemos recorrer aos méritos e às preces dos Santos e Santas de Deus, bem como à ajuda dos Santos Anjos, que também intercedem por nós e pelas Almas.
Entre esses Santos e Anjos se destacam nosso querido pai São José e o glorioso príncipe São Miguel Arcanjo, que exercem, perante Deus, um “ministério” todo especial em favor dos moribundos e das Benditas Almas.
Certamente também todo e qualquer Santo ou Anjo (o de nossa guarda, por exemplo) pode interceder pelas Almas.

D) Obras de Misericórdia (dar esmolas, perdoar as ofensas, rezar pelos mortos, visitar os enfermos, etc).
Sim, as Obras de Misericórdia são muito agradáveis a Deus nosso Senhor, e o fruto delas também pode ser oferecido pelo bem das Almas do Purgatório. Lembremo-nos que muitas dessas almas estão no Purgatório justamente por falhas ou omissões na caridade cristã. Oferecer a elas o valor de nossas boas obras é um gesto de muita caridade (e de desapego) de nossa parte.

E) Sacrifícios pelas Almas do Purgatório.
Podemos oferecer a Deus o valor de nossos sofrimentos, principalmente das lutas do “dia-a-dia”, isto é, a “cruz cotidiana”, que, se levada com paciência e amor, tem muitos méritos, aplicáveis às Benditas Almas. Podemos oferecer também o jejum, a abstinência ou renúncias espontâneas. Muito meritório também é o oferecimento das doenças, com todos seus incômodos ou dores, pois se trata de um momento forte de cruz em nossas vidas. Porém, o sacrifício possivelmente mais meritório é o de perdoar, sinceramente, aos que nos ofendem (vejam a parábola do “servo cruel”, citada no começo do ensino).


D) Os Sacramentais (Água Benta, Escapulário, Terço, Rosário).
Os Sacramentais são objetos ou matéria que “porta consigo” a benção da Santa Igreja. Usar os Sacramentais, na intenção de sufragar as almas, também é válido, principalmente a água benta.
Não devemos, no entanto, usa-los como “objetos mágicos”, mas sim como símbolos da nossa fé em Jesus e Maria (nos seus méritos infinitos), e também de nossa fé na Santa Igreja Católica, que recebeu a autoridade de Jesus.

O Purgatório no mistério da Comunhão dos Santos.

O Purgatório é a Igreja Padecente. Precisa (e muito) de nossas preces (Igreja Militante) e das dos santos e santas do Paraíso (Igreja Triunfante). Elas não podem fazer nada por si mesmas (seu sofrimento não é meritório para elas) Em contra partida oram e se oferecem por nós, seus benfeitores e irmãos que estão sob o perigo de pecar.
Deus as ama infinitamente e aceita de muito bom grato suas súplicas e preces por nós, especialmente se nós rezamos por elas.


Sejamos gratos com as Almas do Purgatório!

Devemos ser gratos, muito gratos com as Almas do Purgatório. Elas nos amam imensamente, pois amam a Deus e a Sua vontade. Essas benditas almas clamam a Deus, constantemente, por nós também, pedindo por nossa conversão, por nossa perseverança e por nossa salvação. Elas desejam o triunfo de Cristo e de Sua Igreja. Lá podem estar nossos avós, pais, irmãos, parentes, amigos e conhecidos, que agora nos amam mais do que quando estavam na terra, pois estão para sempre confirmados na graça divina: não pecam mais e detestam todo pecado.
Rezemos, rezemos muito por elas: as Almas do Purgatório certamente saberão ser muito gratas e, uma vez no Céu, já Bem-Aventuradas, pedirão a Deus para que também nós com elas gozemos da visão beatífica e da felicidade eterna. Amém.

(Giovani Carvalho Mendes)

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