A Quaresma é o grande Tempo Litúrgico que nos prepara para o Augusto evento da Páscoa, nova vida em Jesus Cristo, o Rei e Senhor da vida que matou a morte no escândalo da Cruz.
O Tempo Quaresmal é vivido em espírito de retiro, como o Advento, e nos leva a uma radical mudança de vida, um período de morte para juntos ressurgirmos com Cristo.
• Por que “Quaresma”?
A palavra faz alusão ao número quarenta (40) que fundamentando nos Evangelhos de Mateus 4,1ss; Marcos 1,12-13; Lucas 4,1ss; nos indica o período de quatro dezenas de dias que Jesus passou no deserto, guiado pelo Espírito Santo, servido pelos anjos e perseguido pelo demônio logo depois do Seu Batismo por João Batista no rio Jordão, onde se preparou para iniciar sua vida pública que se culmina no trágico episódio do seu assassinato. Desde o “retiro espiritual” de Jesus no deserto até sua morte contam-se aproximadamente três anos de vida pública, ou seja, da plena revelação de Deus, do anúncio do Reino e do chamado à conversão que se encerra na salvação de todos os filhos de Adão no altar da Cruz. Para viver com dignidade a remissão dos homens que é a nossa Páscoa com Jesus, a Igreja começa a se preparar com um período de quarenta dias a qual ela chama de Quaresma. Neste Tempo a Igreja se une, a cada ano, ao mistério de Jesus no deserto. (Catecismo 540).
• A vivência da Quaresma
A Quaresma tem o caráter de “Tempo penitencial”, um tempo de interioridade, de silêncio e solidão, um Tempo de revisão de vida, exame de consciência e mudança radical, um momento de morrer para enfim ressuscitar.
A Quaresma é um conveniente momento de práticas penitenciais, não único, mas propício (Cf. Código de Direito Canônico 1250 e Catecismo da Igreja Católica 1438). Pelo jejum e outras abstinências queremos sofrer com Ele e disciplinar o corpo para a renúncia que nos une de modo mais perto às coisas divinas que são próprias de Deus.
“Para nós, cristãos, o jejum tem um sentido especial que nos une mais intimamente aos sofrimentos de Cristo e de nossos irmãos que passam fome. Nada mais belo e consolador que privar-se de algo e ir ao encontro do mais necessitado. O jejum é o caminho do verdadeiro despojamento. Despojamento não só do que é supérfluo, mas também do que pode nos fazer falta, para tentar diminuir o sofrimento dos outros. Jejuar não pode ser uma obrigação, mas uma necessidade, que lentamente vai surgindo no coração e na vida dos que querem imitar, mais de perto a vida de Jesus. Por que jejuar? Para que os outros não passem dificuldades e tenham o necessário; para que a justiça e o bem triunfem, e o reino da paz e da justiça se estabeleça entre nós; para preparar-nos no combate contra todas as manifestações do mal e luta; para não compartilhar com a filosofia que destrói os valores da humanidade e só visa ao bem-estar de poucas pessoas. O jejum é um processo de conversão, de encontro consigo mesmo, com os outros e com Deus. É um sair de si, dos próprios interesses e do comodismo. Esse êxodo talvez seja difícil e doloroso às vezes, mas não nos esqueçamos de que para fixar a tenda na terra prometida, é necessário atravessar o deserto.” (Frei Patrício Sciadini, ocd).
Os sinceros atos de caridade devem ser constantes na vida cotidiana do cristão, porém na quaresma têm o sentido de “provas de mudança pessoal” ao Senhor que nos manda ser fraternos e caridosos, tais virtudes são materialização da oração que rezamos.
Vivamos, portanto, este Tempo da Quaresma com o desejo de nele fazer morrer o homem velho que ainda somos para que na Ressurreição de Cristo Jesus possamos ressuscitar como homens novos para uma nova vida.
“Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória” (Colossenses 3,1-2)
Com amor fraterno! Santa Quaresma!
ARTUR VIANA DO NASCIMENTO NETO, ocds
Comunidade Rainha do Carmelo
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