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domingo, 7 de março de 2010

Conversa com São José

HORA SANTA COM SÃO JOSÉ


Salve, querido São José, Pai Nutrício de Jesus e Esposo da Virgem Maria, nosso pai e Patrono da Igreja Católica!
Agora que volto o pensamento para ti, fico a imaginar como tu eras, querido pai. Não te vejo como um “velho”, como muitas vezes és pintado pelos artistas. Vejo-te um homem maduro, saudável, forte, de bela compleição física, talhado pelo trabalho duro e diário que praticavas. Olho também para tua alma. Quão bela, pura e santa não deveria ser tua alma, preparada pela Trindade Santíssima para tão nobre e fundamental missão: acolher, proteger, cuidar e nutrir o Filho Único do Eterno Pai, Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como ser o companheiro, amigo e auxiliador da Virgem Puríssima no lar de Nazaré.
Penso quão santo homem, cumpridor dos deveres, pacífico, manso, modelar, bom e religioso judeu não deves ter sido para merecerdes o belo título “varão justo”, que São Mateus te deu!
Se a Santíssima Virgem, como Mãe verdadeira de Jesus, tinha que ser imaculada, tu também, como pai adotivo do Verbo Humanado, tinhas que ser um homem muito santo, visto que encabeçarias aquela casa sagrada, pedaço do Céu sobre a terra!
Além do mais, ó santo varão de Deus, tu serias o próprio representante do Eterno Pai, assumindo a figura e função de pai perante os teus parentes, amigos e diante de toda a sociedade judaica. Jesus mesmo, Filho Eterno de Deus Pai, muitas vezes foi nomeado e reconhecido como o “filho de José” ou “filho do carpinteiro”. Somente um homem como tu, completamente consagrado e dedicado a Deus, poderia ser capaz de assumir essa missão. Por isso, com toda a Igreja, creio e confesso que fostes castíssimo e virginal em toda a tua vida e convívio com tua esposa Maria, Mãe de Deus, por quem nutrias profundos sentimentos de amor puríssimo, respeito, veneração e reverência!
Ó São José, quão bela não deve ter sido tua vida, feita de muitas alegrias mas também de trabalho, lutas e dores!
Imagino o que sofrestes quando começastes a perceber que tua santíssima noiva, Maria, apresentava nítidos sinais de gravidez! O que pensar de tua amada Maria? Como julgá-la ou condená-la já que estavas plenamente convicto de sua fidelidade, pureza e virgindade consagrada? Porém, tu não eras um tolo e bem sabias como uma jovem engravida... Que dolorosa batalha não deve ter sido travada em tua alma! Qualquer um imediatamente já teria pensado o pior e apresentado Maria ao repúdio e condenação públicos! Mas não! Foste heróico, preferiste fugir, abandonar teus compromissos, jogar teu nome na lama e cair em desgraça perante os cidadãos de Nazaré do que ousar macular o bom nome e consideração de Nossa Senhora! Foste um verdadeiro herói! No auge do sofrimento, no teu “calvário” particular, Deus te envia um anjo para te consolar e te confirmar na fé. A tua Esposa Virginal esperava o Tesouro dos tesouros, o Esperado de Israel, o próprio Messias prometido!
Ó São José, como não deves ter ficado feliz! Também, quanta confusão e santo temor em tua alma! Talvez tenhas pensado: “como Deus se dignou escolher-me, pobre carpinteiro, para ser pai adotivo”? Quantas lágrimas de júbilo e amor não deves ter derramado em tuas preces e na serena contemplação de tua Esposa gestante, a Arca da Nova Aliança! Ali, diante de teus olhos, todas as Escrituras estavam se cumprindo. Ali, a esperança dos santos patriarcas e profetas! Ali, a salvação de Israel!
Os dias se passavam... Tua casa sendo preparada com amor e desvelo para a chegada do Messias bendito. Com certeza construístes com tuas próprias mãos um gracioso berço para acolher Aquele cujos Céus não podem conter: o Senhor e Rei do Universo! Porém, Deus Pai mais uma vez testa a fibra de seu santo varão: chega a Nazaré a ordem do imperador romano. Todos tem que sair de suas casas e empreender viagem para suas cidades de origem.
Qual “novo Abraão” tu não reclamas da ordem – “sai de tua terra” – e confias em Deus. Tu não exiges nada Dele, como muitas vezes fazemos em nossos problemas e dificuldades. Todos os teus planos familiares são desfeitos e preparas a brusca saída. Observas que tua Santíssima Esposa já se encontra em gravidez avançada, esperando a qualquer momento o nascimento do Salvador, porém, não murmuras. Tu vais a Belém, terra natal do rei Davi. No caminho deve ter vindo à tua memória a profecia de Miquéias: “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo (Miquéias 5,2)”. Tua alma deve ter sossegado. Estavas em paz. Deves ter pensado: “nossos amigos e parentes certamente nos acolherão”. Ó São José, Deus já lhe preparava uma nova e dura prova! Já sabias, de acordo com as profecias de Isaías, que o Messias seria o Servo de Javé, o Servo Sofredor, porém jamais imaginarias o quanto era necessário que Jesus nascesse em total pobreza, humildade e praticamente oculto de todos! Sei que não acreditavas e nem esperavas um “messias guerreiro”, como os demais judeus, porém aquela prova era dura e humanamente incompreensível. Sim! O teu Jesus, Deus e Senhor, foi colocado numa manjedoura, em palhas, entre animais! Como deves ter feito tudo para reparar a frieza da humanidade diante da vinda de seu Remediador com atos heróicos de amor, reparação, louvor e adoração! Teu coração puríssimo estava em uníssono com o Coração Imaculado de Maria. Como teus olhos não devem ter vertido lágrimas generosas de amor e emoção contemplando o Divino Infante, o Emanuel, bem ali, diante de ti, frágil e pequeno, precisando dos teus cuidados e dos de Maria! Ó mistério da graça: naquele momento, tu e Maria eram o novo Céu de Jesus!
Fatos maravilhosos foram sucedendo-se: o canto dos anjos, a visita dos pobres e simples pastores, a adoração dos magos do oriente, a cerimônia da circuncisão no qual o Menino foi marcado na carne como membro do povo de Deus, derramando seu Sangue pela primeira vez, a cerimônia de nomeação do Menino com aquele Nome Santíssimo revelado pelo anjo na Anunciação e em teu sonho revelador, nome esse dado por ti, São José, como pai putativo de Jesus e a apresentação daquele preciosíssimo dom a Javé no templo de Jerusalém. Quantos momentos felizes, não foi São José? Estavas certamente cheio de júbilo, como bom e religioso judeu como eras por tão belos acontecimentos!
Porém, mais uma prova se aproximava... A profecia dita por Simeão a Maria Santíssima se cumpriria: a vida de Jesus começava a manifestar que seria sempre marcada pela incompreensão, não aceitação e perseguição por parte de muitos.
Estavas tranquilamente dormindo. Tudo parecia estar em paz. De repente um anjo lhe avisa em sonhos: “pegue o Menino e sua Mãe e vão para o Egito, pois Herodes procura matá-lo”! Ó querido São José, quanta dor para um coração como o teu: doce, meigo, cândido e sensível. Como não deves ter acordado “de um salto”, o coração a bater disparado com essa notícia! Quantos “porquês” não deves ter dirigido ao Senhor, não com revolta, mas como um pai zeloso com a segurança do filho Jesus.
Duro exílio! Mais uma vez a história de Israel é revivida na Pessoa de Jesus. A Sagrada Família vai para o Egito. Que se passou por lá? Que fatos lhes ocorreram em sua estada naquelas terras? Não sabemos. Os Evangelhos se calam. Talvez em sinal de silencioso respeito e penitência por essa desfeita dirigida ao Filho do Homem, à sua Mãe e pai adotivos: terem que fugir para terras estranhas para escapar da morte. Uma coisa podemos concluir pai São José: certamente continuastes a servir ao Senhor Deus com o teu trabalho, com tua oração constante, com tua paciência e com tua fé e confiança inabalável na Providência Divina. Quanta glória, quanta satisfação não proporcionastes a Deus com tua vida e comportamento exemplares! Quantos méritos, São José, quantas graças para serem derramadas no mundo por suas mãos! Estavas sempre unido a Maria no serviço do Senhor: na oração, no trabalho e na adoração contínua ao mistério do Verbo Humanado que habitava contigo sob o mesmo teto e estava sob teus cuidados de pai!
O tempo foi passando, na simplicidade de tua vida doméstica e de carpinteiro. Muitas vezes penso, São José, no quanto teu trabalho era feito com esmero. Não sei se eras um “gênio do trabalho em madeira”. Isso não me importa. O que sei é que tudo fazias em espírito de oração, colocando naquilo que fazias para sustentar e alimentar Maria e Jesus todo o teu amor e carinho. Arrisco-me até a pensar que aquelas mesas, cadeiras ou móveis que construías, quais relíquias santas que eram, já portavam consigo algo da graça de Deus como o fazem os sacramentais da Igreja. Penso que ao lado de cada objeto desses ficava de “plantão” um anjo em atitude de veneração. Tu já eras um santo, um grande santo quando estavas na terra. Além do mais, também aqueles objetos tinham sido feitos por Jesus, Nosso Senhor, o Criador do Universo, não por um ato divino de Seu poder infinito, mas como homem verdadeiro que era.
Creio também que eras um homem muito bem quisto na cidade egípcia que escolhestes para morar. Como devias ser um bom judeu, bom vizinho, um exemplar membro da comunidade, um homem que vivia perfeitamente as bem-aventuranças futuramente pregadas por Jesus. Eras um homem da paz, da mansidão, da pobreza de espírito, da pureza e da misericórdia. Quantos não deves ter tocado com o teu bom exemplo e palavras de conselho. Não fostes um rabino ou pregador de púlpitos, porém o teu olhar, o teu sorriso, tua voz certamente tocaram os corações endurecidos de muitos. De ti irradiava aquela graça da qual o teu coração estava cheio. Tuas orações feitas com Jesus e Maria, no lar sagrado, eram ungidas e chegavam cheias de gozo e méritos no seio da Trindade augustíssima. Sim, estavas unido ao teu filho Jesus em Sua missão salvífica. Será que depois, no futuro próximo, quando algum apóstolo ou discípulo de Jesus chegou para evangelizar aquele país já não encontrou doces recordações de tua passagem por lá? Sei que são especulações que jamais saberemos neste mundo, porém não impossíveis.
Bem, um belo dia, lá no Egito, mais uma vez o anjo veio falar contigo em sonhos. Perguntava-me: por que o anjo não dava seus avisos a Maria? Por que só aparecia para ti em sonhos? Consideremos a primeira pergunta. Realmente, na ordem da graça, Maria supera-te imensamente, por ser Mãe verdadeira de Deus e Rainha de tudo que foi criado por Ele. Porém, naquela casa, tu eras o chefe, o guardião, o tutor do Menino Deus. Agora compreendo bem que era para ti mesmo, glorioso São José, que todo respeito e todo assunto de ordem familiar, isto é, no que tocasse a decisões e diretrizes a serem tomadas na casa, eram de tua responsabilidade. Isso não sou eu que digo. O Céu mesmo manifestou isso claramente quando enviava um anjo em sonhos só para ti. No tocante a segunda pergunta, creio que o método de aparições “em sonhos” eram uma escolha divina. Somente cabe a Deus a explicação exata disso. Porém arrisco um palpite, se o senhor, São José me permitir.
Tu eras o homem da humildade e da vida espiritual escondida, somente conhecida pelo Senhor e por Maria. Já vivias continuamente unido a Ele em cada momento, no trabalho, na oração e nos cuidados do lar. Não tinhas tempo para “interrupções” causadas por aparições nem mesmo angélicas. Além do mais, nas ocasiões em que um anjo foi-te enviado, era para avisar que necessitavas sair logo, imediatamente, às escondidas, na madrugada, sem que ninguém notasse ou percebesse. Se a notícia da partida fosse anunciada “de dia” ou “de tarde”, passarias o resto do dia preocupado, interromperias o teu trabalho e oração e certamente a notícia “vazaria” para os vizinhos, como dizemos hoje em dia. Não iria dar certo, não é, São José? Será que estou errando muito com essas minhas conclusões?
Bem, continuando, finalmente voltas para Nazaré! Herodes, o cruel rei da Judéia, agora recebia a justa punição por tantas crueldades. Empreendes o caminho de volta, trazendo o Cristo, o “novo Moisés”, do Egito. Tudo para que se cumprissem as Escrituras Sagradas. Voltas para tua querida Nazaré, para tua casinha santa. Quantas saudades! Quantas lembranças! Lágrimas generosas derramam-se de teus olhos. Quanta alegria por parte dos teus parentes e amigos! Sim, tu eras querido, São José! Como não querer-te bem? Imagino-te amado por todos! Tua santidade impunha respeito, veneração e comoção. Moços, velhos, mulheres e crianças têm por ti grande apreço.
Com grande alegria e, diria, “santo orgulho”, tu deves ter apresentado o teu amado Jesus a todos e cada um de teus parentes e conhecidos. “Como é belo, robusto e de boa altura esse menino!”, alguém disse. “Vejam o filho de José, como é bem comportado e educado!”, alguém exclama. “Também, puxou o pai!”, alguém completa. Certamente, no pensamento de todos terá ocorrido o seguinte pensamento: “feliz és tu, José, por tão bom menino; dar-te-á muitas alegrias!”. Falavam profeticamente das imensas e incalculáveis alegrias eternas de que um dia gozarias, no Céu, ao lado de Jesus...
Em Nazaré, bem cedo começastes a levar o Menino à sinagoga. A Torá, o Livro da Lei, e os livros dos profetas eram lidos e comentados com respeito e veneração. Ali, contigo, São José, estava o próprio Iahweh, o Adonai altíssimo! Tu bem sabias disso. Mas calavas... Tu silenciavas e meditavas. Mais uma prova de tua santidade!
Tu eras um homem do trabalho, ó José. Ali, em tua casa, funcionava a tua oficina, o local sagrado de onde tiravas o sustento de Jesus e de Maria. Jesus deve um dia ter-te dito: “pai, ensina-me o teu ofício de carpinteiro”. Ó São José, mais uma vez o teu coração deve ter sido invadido pela emoção e confusão: “Como? O Criador do Céu e da Terra me pedindo que eu Lhe ensine como trabalhar a madeira”? Jesus, “adivinhando” os pensamentos do santo pai, deve ter respondido: “que toda a vontade de meu Pai Celeste seja cumprida”. Percebendo então, nas palavras de Jesus, que assim era para ser, aceitastes a tarefa ensiná-Lo o ofício na carpintaria. Assim, naquela casa de Nazaré, transcorreu uma das mais belas páginas na vida de Jesus: Ele, o próprio Deus do Universo, “aprendendo” humildemente a fazer mesas, bancos e cadeiras. Como seremos capazes de entender toda a simplicidade de nosso Deus? Em Jesus, o Deus infinito torna-se pequeno, Deus imortal torna-se passível, Deus eterno torna-se presente no tempo, Deus riquíssimo torna-se pobre! Tento imaginar, São José, a profundidade de tuas meditações, no tocante a esses fatos, e não consigo. Vias Jesus igual a nós em tudo, menos no pecado. Jesus comia, dormia, banhava-se, trabalhava, suava, calejava as mãos, etc. Transbordava em santidade, porém, ocultava sua infinita glória. Tudo era mistério! Porém, tu acreditavas plenamente nEle, mesmo sem teres visto nenhum dos inúmeros prodígios que Ele realizaria em sua futura vida pública. “Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (João 20, 29b), dirá um dia o Senhor Ressuscitado a São Tomé. Será que Ele não pensava em ti, fidelíssimo José, naquele momento?
Tua família era muito religiosa. Tu eras um santo judeu, praticante da Lei, por amor, cumpridor de teus deveres. Jesus, como todo menino e pré-adolescente judeu, foi educado por ti na fé judaica, especialmente na leitura orante da Torá, na participação do culto e cerimônias prescritas por Moisés. Aproximava-se o dia do “Bah-Mitzvah” de Jesus, dia no qual o jovem é examinado sobre seus conhecimentos relativos às Escrituras Sagradas, conhecimento esse obrigatório a todo homem judeu. Com quanta alegria não deves ter preparado a ida da Família Santíssima a Jerusalém! Jesus, agora com doze anos, seria finalmente interrogado pelos doutores da Lei de acordo com os costumes.
Creio, São José, que em nenhum momento esboçastes “autoconfiança” no sucesso de Jesus. Tua humildade era imensa e sabias que Jesus, como as demais crianças de Israel, se comportaria como elas no momento do teste. E assim foi. Jesus respondeu às perguntas feitas pelos sacerdotes e escribas a respeito da Lei. Deves tê-lO abraçado cheio da alegria! Jesus tinha sido admitido plenamente ao culto na sinagoga. Hinos de louvor e adoração à Pessoa do Pai Eterno devem ter sido entoados por ti, por Maria e pelo divino Menino Jesus. Toda a Sua Vontade estava sendo cumprida na vida da Sagrada Família.
Prepara-se a volta para Nazaré. Como era costume naquela época, os homens e as mulheres se dividem em caravanas separadas para a viagem. As crianças escolhiam se vinham com as mães ou com seus pais. Jesus não estava contigo, São José. Certamente pensastes: “está com Maria”. Empreendestes caminho tranquilamente, ainda louvando a Iahweh pela maravilhosa visita ao Templo que fizestes com tanta devoção. Porém, à noite, quando as famílias novamente se juntavam para o jantar e para o descanso, eis que vem a Virgem Santíssima perguntar-te por Jesus. Difícil é para nós avaliar e quantificar o susto, o desalento e a angústia sentidos por ti e por Maria ao perceberem que Jesus não estava nem com um e nem com outro. O que deves ter pensado: “Ó Maria, o que aconteceu? Onde falhamos? Por que isso nos está acontecendo? Será que alguém está com Jesus? Será que algo de mal lhe ocorreu?” Entre lágrimas e soluços procurastes pelo Menino em todas as caravanas, voltastes a Jerusalém, fostes na casa de algum conhecido. O Evangelho de São Lucas nos fala que procurastes por Ele durante “três dias” (Lucas 2, 46). Finalmente, acharam-nO no Templo, “sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os” (Lucas 2, 46). Não era mais o Bah-Mitzvah. O Pai incumbira Jesus de manifestar aos homens sua sapiência extraordinária de Filho de Deus e Sabedoria Encarnada. Jesus, humanamente falando, bem sabia de teu sofrimento bem como o de Maria, no tocante a seu aparente “desaparecimento”, porém, Deus Pai queria manifestar a ambos o quanto Jesus era dEle e vindo ao mundo para fazer Sua Vontade Eterna. Diante da indagação de Maria, Jesus responde com uma aparente “secura” o conhecido “por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lucas 2, 49) manifestando, qual Mestre que é, o quanto por vezes a Vontade do Pai é incompreensível e até dolorosa, porém necessária e importante de ser cumprida. O que Jesus perguntou ou respondeu àqueles sábios e doutores da Lei, não o sabemos. O evangelista se cala. O que importa é o que ele coloca a seguir: que o senhor, São José, e Maria Santíssima, naquele momento, “não compreenderam o que Ele lhes dissera”. Porém, que “em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens (Lucas 2, 50-52) ”. Isto é, que passada aquela prova de fé e de confiança nos desígnios divinos, a Sagrada Família retornou à sua “rotina” de vida santa em comum, na qual Jesus era plenamente submisso e obediente a ti, bem-aventurado José, obtendo com isso infinitos méritos perante Deus Pai.
O tempo “voa”. Jesus cresce a cada dia. Torna-se um belo jovem e aproxima-se de sua idade adulta. Percebes, São José, o quanto Ele vai ficando “diferente”. Jesus intensifica seus momentos a sós com Deus Pai, ficando horas a fio em profunda oração. Sabes muito bem que Ele é o Messias e o teu santo coração aperta em dor. Sabes que Ele irá sofrer muito e ser rejeitado, porém, tua sensível alma desfalece de dor ao pensar em tais coisas. “Como suportarei isso, Maria, como suportarei ver Jesus sendo desprezado e escarnecido pelos homens?”. Maria te ouve e chora. Sim, Deus nosso Pai bem sabe que tu não tens condições de ver o teu amantíssimo Jesus passar pelo que Lhe espera.
A “solução” não se faz esperar. Jesus já tem em torno de vinte e nove anos. Começas a apresentar sinais da derradeira doença. Ó São José, quando me recordo das vezes que a doença ou a provação bateu em minha porta, envergonho-me. Comparado a ti, quem sou eu, santo pai? Moravas com Jesus, Deus do Universo, e com Maria, Mãe de Deus. Bem podias pedir por tua saúde ou pedir que nunca sofresses, porém, nada disso ocorreu. Recebes a doença, a fraqueza física, a cruz cotidiana, não como um “castigo” ou “maldição”, como dizem muitos que se denominam cristãos, seguidores do Crucificado, sem verdadeiramente ser. Tu acolhes a doença como um dom de Deus, como uma oportunidade para dar glória e honra a Ele e como um meio de santificação ainda maior.
Ficas doente. Jesus mesmo veio ao mundo para nos salvar e curar, especialmente do pecado, e para sofrer conosco a nossa própria dor, exercendo sua misericórdia infinita, isto é, colocando em Seu Coração Santíssimo todas as nossas fraquezas, doenças e pecados. Assim disse o profeta Isaías: “em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos...” (Isaias 53, 4). Assim, como teu Salvador misericordioso, Jesus coloca-se diuturnamente a teu lado, em teu leito de dor e contigo ora ao Pai. Certamente nosso Salvador ofereceu, entre lágrimas de amor, de gratidão e de saudade, toda a tua vida ao Pai Eterno. Eras uma das primícias de sua morte e cruz que futuramente ocorreriam. Maria Santíssima, também, imbuída de sentimentos de profundos de amor e gratidão por ti, bem-aventurado santo, deve ter derramado copiosas lágrimas por causa de tua partida que se aproximava. Tu, consolado pela presença de teus infinitos amores, ardendo em chamas vivas de caridade, entoava hinos ao Senhor Deus de Israel que se dignou escolher-te como co-partícipe em Sua obra redentora. Assim, glorioso São José, por causa de teus muitos merecimentos e por causa da presença santificante de Jesus e de Maria, angarias da Trindade Santíssima o glorioso e consolador título e missão de “Padroeiro da Boa Morte”. Desde já, São José, encomendamos a ti o momento de nossa morte. Não sabemos, glorioso santo, onde, quando ou como ela virá. Pedimos apenas que seja na companhia de Jesus e de Maria e também da tua, São José.
Assim, após expirares entre os louvores das multidões angélicas, por elas és levado à mansão dos mortos, para o seio de Abraão e para o convívio dos Patriarcas, dos Profetas e dos demais justos da Antiga Aliança. Penso com que grande alegria essas almas não devem ter te recebido. Para elas tu eras como que um luminoso farol a lhes apontar a iminente saída daquele local de espera.
Ó São José, justo varão de Israel, homem santo e bondoso, tu és nosso pai, nosso tutor e poderoso intercessor perante Jesus e Maria. Sede sempre nosso auxílio, em todos os perigos e necessidades. Livrai-nos dos ataques do maligno, do pecado e do perigo de nos perdermos. Rogue por nós, agora e na hora de nossa morte! Rogue por toda Igreja Católica, a ti confiada pelo papa e rogue pelo mundo inteiro, tão amado por Deus. Amém, amém, amém!

Giovani Carvalho Mendes, ocds
Comunidade Rainha do Carmelo

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